Dimenstein: num ato de coragem, MBL pede desculpas publicamente
Fui várias vezes vítimas das milícias digitais do MBL.
Inventaram contra mim as mais variadas mentiras e bobagens, usando as redes sociais.
Apanhei ainda mais quando investiguei as redes sociais clandestinas associadas ao MBL, produzindo difamações e Fake News.
Diziam que eu e a Catraca Livre éramos de “extrema-esquerda”, apesar de sermos contra qualquer tipo de autoritarismo e favoráveis à economia de mercado combinada com investimentos sociais.
Não adiantava mostrar os fatos.
Daí que vejo como um sinal de amadurecimento o depoimento de Fernando Holiday ao Estadão sobre os exageros e erros do MBL, agora defendendo a diversidade.
É um depoimento corajoso que, em essência, mostra arrependimento e pede desculpas pelo exageros.
Chamo isso de coragem e aprendizagem.
Todos deveríamos ter a civilidade de admitir erros para sermos melhor.
É uma receita contra o fanatismo.
“A direita, para conseguir o máximo de apoiadores simplificou o debate público em um Fla x Flu. Tive vários vídeos, eu falava alguma coisa aí descia o oclinhos. Tudo era mitada: Holiday humilha ciclano, acaba com não sei quem… Esse tipo de coisa foi alimentando uma direita extremista que tem dificuldade de lidar com quem pensa diferente.
Se eu pudesse resumir a autocrítica, seria a simplificação do debate, que se deu por meio de memes. Comecei a conversar com professores por meio do Escola Sem Partido, que defendi. E percebi que a visão dos professores estava longe de ser aquilo que eu queria.
Mas a forma como eu dizia essas coisas era belicosa, sempre colocando o professor como uma figura demoníaca. O movimento está seguindo por um caminho perigoso.
O projeto que está sendo defendido é um que busca incentivar alunos a gravar professores e indiretamente até intimidar.
Esvaziar a autoridade sob a alegação de estar se cometendo uma doutrinação. Esse novo projeto não defendo.
Então esse tipo de linguagem de estimular a raiva, estimular o ódio, acaba estimulando essa humilhação pública, acho realmente bem perigoso. Nosso papel daqui em diante vai ser exercitar a ideia de que a existência do outro é necessária para a sua própria existência.
Se existe esquerda é porque existe direita, e a esquerda reforça a existência da direita. É possível dialogar com esse diferente sem abrir mão da sua identidade. O caminho agora é o MBL se abrir para um diálogo maior com quem pensa diferente.” (Estadão)