Dimenstein: sou judeu, mas agora sou muçulmano. E com orgulho.

A matança na mesquita na Nova Zelândia, transmitida ao vivo pelo atirador racista, me faz sentir muçulmano, apesar de eu ser judeu.
Neste momento, sou muçulmano.
E todas as pessoas sensatas do mundo deveriam ser.
Ser judeu, para mim, significa ser contra a intolerância.
Nenhum povo sofreu tanto na história da humanidade como os judeus, perseguidos e humilhados em diferentes épocas e por diferentes países: da Inquisição na Espanha, passando pelos pogroms na Rússia, até na Alemanha com seu holocausto.
Veio daí minha ojeriza a pessoas incapazes de respeitar a diferença.
E que fazem da diversidade fonte de ódio – e não de riqueza.
Quando não nos tocamos quando a vítima é o outro, acabamos mais cedo ou mais tarde sendo a vítima.

Daí meu horror às milícias digitais que prosperam no Brasil.

Imagem da transmissão

Para os brasileiros, são duas matanças em seguida: os atiradores da escola em Suzano e, agora, na Nova Zelândia.

Está chocando o mundo que o atirador que matou 49 pessoas na mesquita da Nova Zelândia tenha transmitido tudo ao vivo.

São lugares tão distantes, culturas tão diferentes, mas, em essência, a matança na mesquita e na escola de Suzano fazem parte da mesma doença que se propaga pelo mundo.

A doença da intolerância e do ódio: a incapacidade de conviver com a diferença.

Tanto os atirador da Nova Zelândia com de Suzando são alimentados em fóruns digitais que pregam o ódio às minorias e à diversidade.

O assassino que transmitiu tudo ao vivo

Em um manifesto online divulgado pelo Twitter, o atirador listou nomes de líderes racistas americanos como seus heróis, descreveu o ataque como um ato terrorista e disse que transmitiria a ação pela internet.

O vídeo mostra uma pessoa carregando um fuzil em um carro.
Enquanto isso, ouvia uma canção chamada “Serbia Strong” (Sérvia Forte, em tradução livre), um cântico nacionalista sérvio que louva Radovan Karadzic, ex-presidente da Sérvia condenado por crimes de guerra e contra a humanidade devido ao massacre de Srebrenica, na Bósnia, em 1995.

O ódio contra o diferente não tem ideologia.

É apenas ódio.

Daí que nesta sexta-feira, dia sagrado para os judeus, sou muçulmano.