Dimenstein: vou apanhar, mas tenho de defender Donata, ex-Vogue
Venho apanhando há anos – e com muito orgulho – pela minha defesa do politicamente correto.
O que, para mim, é apenas defender o direito de as pessoas serem respeitadas.
Fui fundador junto com meus dois filhos – Marcos e Gabriel – de um site – Catraca Livre – atacado por ser politicamente correto e que, reconheço, até comete exageros em alguns momentos.
Minha grande felicidade na vida é ser avô de uma criança negra.
Ser parte de um povo perseguido por mentiras – o judeu – me faz ter uma raiva cotidiana contra o preconceito.
Judeus que ganharam 20% de todos os Prêmios Nobel – mas ainda nos associam a gente que só gosta de dinheiro.
Somos um povo que produziu Marx, Jesus, Freud, Einstein e Gustav Mahler. Mas nos chamam de viciados inescrupulosos em dinheiro.
Fiquei indignado, claro, quando vi aquela foto da Donata Meirelles sentada na cadeira de “sinhá”, rodeada por negras que, na imagem, reproduziam a escravidão.
Considerei a repercussão à foto correta.
Fiquei até irritado com a defesa de Ivete Sangalo ou Preta Gil em relação à foto.
Não gostei do silêncio de Caetano, cujo melhor amigo é Gilberto Gil.
O problema não era o fato das negras estarem vestidas como baianas.
A questão era a cena da mulher branca servida por escravas.
Quando chegamos no aeroporto de Salvador, sempre somos recepcionados por mulheres naqueles trajes.
Nunca ninguém disse que aquilo era racismo.
Até porque é a roupa usada nas cerimônias religiosas.
Esse meu artigo agora só está acontecendo porque, nesta madrugada, eu li os depoimentos na Folha de S. Paulo das baianas contratadas pela festa, contando os bastidores da foto.
Vou reproduzir aqui um trecho:
Rita dos Santos refuta a ideia de que o grupo tenha sido alvo de racismo durante o aniversário. “Quem quer criticar a festa, que critique. Mas não sou nenhuma criança para me sujeitar a qualquer papel que me rebaixe.”
Ela afirma que as baianas foram contratadas apenas para recepcionar os convidados. O objetivo era representar a diversidade cultural da Bahia –por isso foram escolhidas baianas jovens, idosas, negras, brancas, evangélicas e adeptas do candomblé.
“Quando ela [Donata] nos viu, começou a bater palmas para nós. E os convidados também nos aplaudiram. Uma das baianas a convidou para sentar na cadeira e aí foi feita aquela foto tão criticada”, afirma Rita.
Segundo Rita, as roupas para o evento foram escolhidas pelas próprias baianas e as cadeiras foram colocadas para que elas pudessem descansar.
Portanto, o que aconteceu, segundo as baianas, agora vítimas de todos os tipos de ataques nas redes sociais, é diferente do que a polêmica foto provocou.
Nessa foto acima, vemos que aquelas cadeiras eram das baianas.
Liguei, ainda de madrugada, para uma pessoa que participou da produção desse evento – e me confirmou o depoimento das baianas.
Não tenho intimidade com o casal Nizan Guanaes e Donata Meirelles.
Mas nos encontramos várias vezes em cerimônias de projetos sociais.
Nunca soube nada deles que os associasse ao racismo.
No caso do Nizan, pelo contrário. Dias antes da polêmica festa, ele estava planejando trazer Barack Obama a Bahia para um encontro com movimento negro.
Todas as sextas-feiras, eles se veste de branco por causa de sua reverência ao candomblé.
Ser politicamente correto é se colocar no lugar do outro.
Eu me coloquei no lugar da Donata Meirelles.
Sei que vou apanhar por esse artigo.
Seria mais conveniente ficar calado.
Mas, como jornalista e um cidadão que se orgulhar de apanhar por ser politicamente correto, não consigo.