Globo ensina a provar charlatanice de guru de Bolsonaro

Jornal O Globo mostra charlatanice de Guru de Bolsonaro, o filósofo Olavo de Carvalho.

Pediu a três filósofos especialistas em Immanuel Kant assistiram a uma aula on-line de Olavo de Olavo de Carvalho.

Resultado: eles viram as inconsistências flagrantes de Carvalho.

Maurício Keinert, professor de filosofia moderna na Universidade de São Paulo (USP); Maria Borges, professora de filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e presidente da Sociedade Kant Brasileira; e Daniel Tourinho Peres, professor especializado em filosofia alemã da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisaram as interpretações de Olavo sobre um dos principais textos de Kant, “O que é ilustração”, em que o alemão defende que todos os dogmas são passíveis de questionamento, inclusive os religiosos.

Acordo criminoso
Segundo Olavo de Carvalho, Kant define a função do clero como criminosa e diz que “ninguém escreveu coisa pior sobre a Igreja Católica”. O brasileiro diz que o o alemão coloca Jesus Cristo como um criminoso . “Isso tem que acabar, é inválido, ninguém disse isso antes. É curioso que mesmo os críticos do Kant dizem que ele era um homem cristão. De onde vem esse estado de anestesia com que as pessoas leem o Kant?”, questionou Olavo.

Para Maria Borges, a interpretação de Olavo é um erro. “Kant tem um texto que se chama ‘A religião nos limites da simples razão’. O próprio alemão foi criticado pelos iluministas porque admitia um espaço para a religião, desde que limitada pela razão”, diz ela. Keinert concorda e diz que Kant defende a liberdade religiosa como mais importante do que ir contra uma religião: “Isso é o que parece incomodar o Olavo — a ideia de que as pessoas tenham a possibilidade de ter diferentes religiões, várias visões”.

Matança de cristãos
Olavo denuncia que a “missão número 1 do Iluminismo” é eliminar a religião cristã e que Kant tem uma responsabilidade, “ao menos indireta, pelas matanças de cristãos que se tornaram endêmicas” em diferentes países como França, Espanha, Itália e México. “Se você diz isso, que Kant começou tudo isso, as pessoas ficam chocadíssimas”, afirmou. Keinert aponta que não se deve tratar um texto do século XVIII com anacronismo: “O texto de Kant nasce a partir de um debate sobre o casamento civil. Poderíamos interpretá-lo para analisar a questão hoje do casamento homoafetivo. Nesse sentido, seu pensamento é visto como algo perigoso pelos conservadores”, analisa. Toninho Peres classifica o projeto de Olavo como “obscurantista e dogmático”. O filósofo compara as duas propostas e diz que, enquanto Olavo prega um pensamento comum e único a todos, Kant acredita que o desacordo é bom e “é assim que a gente cresce”.

Religião só na esfera privada
Segundo Olavo, Kant pregava que religiosos só poderiam “representar a Igreja em privado”. Em público, ele não seria obrigado e poderia expor “apenas suas opiniões pessoais”. Olavo compara essa questão com a “a noção iraniana de que se pode praticar a religião em casa, mas não se pode falar dela em público”. E diz que isso está sendo imposto no Ocidente por causa da obra do alemão. Para Keinert, Kant se posicionava contra o dogma, mas “não necessariamente contra a religião católica”. Segundo Toninho Peres, afirmar que o projeto filosófico de Kant seria destruir a religião cristã e criar uma nova “é um disparate” e que fazer a comparação com o Irã é “mais disparate ainda”. Para Maria Borges, os textos de Kant apontam para uma outra questão: a relação da religião com outras áreas. “O que Kant não quer é uma religião que determine as questões de estado, da ciência”, afirma a professora.