Jornalista usa Jean Wyllys para dar ótima lição sobre Fake News

01/02/2019 09:05

Notícia falsa espalhada nas redes sociais
Notícia falsa espalhada nas redes sociais

Editor do Canal Meio, o jornalista Pedro Dória, colunista do Estadão e do O Globo, é um especialista em tecnologia de informação.
No seu Canal Meio, ele foi o primeiro a mostrar toda a rota das mentiras produzidas contra Jean Wyllys – uma aula de como funciona as redes sociais.
Ele escreveu um artigo, intitulado “A República das Fak News” que serve como uma aula sobre como funciona a indústria da mentira

Trecho da coluna

Sobre Wyllys, nos últimos anos, espalharam-se notícias de toda sorte. De que, por exemplo, havia proposto um projeto para tornar obrigatório o ensino do Islã no Brasil. Ou tornar o Islamismo religião oficial. O parlamentar também teria proposto um uniforme escolar comum para meninos e meninas — saias azuis curtas. Ou teria tentado obrigar que todas as Bíblias tivessem extirpados trechos que condenam homossexualidade. Algumas das fake news mais difundidas tratam de bestialismo e pedofilia. O deputado teria buscado legalizar ambas.

Nenhuma das informações, patentemente absurdas, é verdadeira. Mas nenhuma nasceu espontaneamente – há método na invenção de uma notícia falsa, pois ela busca atingir um grupo específico. Pela militância na causa LGBT, Wyllys foi pinçado como símbolo por quem pretendia explorar eleitoralmente uma agenda conservadora. Não basta que a extensa comunidade evangélica já seja por natureza avessa a mudanças de comportamento. Era preciso que ela se engajasse perante um perigo maior e iminente. O casamento homoafetivo, portanto, precisou parecer apenas a porta de entrada para mudanças terríveis.

A campanha contra Wyllys não começou com ameaças a sua vida. Começou reinventando para parte do público sua imagem: a de um parlamentar que tentaria tornar o Brasil algo semelhante aos piores cenários do Velho Testamento. Mas terminou com ameaças reais. Um detalhe pouco difundido, confirmado por alguém que acompanhou as conversas, é de que o sinal amarelo foi levantado por oficiais da Inteligência do Exército. Foram eles que avisaram ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que em sua avaliação Wyllys corria risco verdadeiro, que precisava ser levado a sério.

Há método: fake news são criadas profissionalmente para manter um núcleo de militantes permanentemente em estado de alerta e, num grupo maior, plantar a dúvida perante fatos.

Quando Jean Wyllys anunciou que não retornaria ao Congresso, em poucas horas já havia um vídeo com uma suposta jornalista explicando em detalhes uma teoria mirabolante ligando o agora ex-deputado com a tentativa de assassinato do presidente Jair Bolsonaro.

Veja como foi rastreada a mentira de que Jean Wyllys estaria envolvido na tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, segundo destaque do Canal Meio, editado por Dória.

Imediatamente após o deputado federal eleito Jean Wyllys anunciar que não assumiria o mandato, começou a se espalhar muito rápido na internet a história de que ele estaria envolvido com o financiamento do atentado à vida do presidente Jair Bolsonaro.
A informação é falsa. O Monitor do Debate Político no Meio Digital, da USP, identificou em relatório, como primeiro tweet a levantar a história, o de Milene Reis, moça seguida por Carlos Bolsonaro e o assessor olavista da presidência, Filipe Martins.
O primeiro grande impulso foi dado pelo ex-secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma. A partir daí, espalhou-se qual fogo.

Os meios de comunicação sérios têm de aprender a ser cada vez mais velozes para combater as mentiras.

Veja essa Fake News detalha no Monitor do Debate Político.

Direita difunde boato de que Jean Wyllys foge do Brasil por envolvimento na facada em Bolsonaro

Logo depois que Jean Wyllys anunciou que renunciaria ao mandato de deputado e sairia do país devido à insegurança, boatos sobre ele começaram a se difundir nas redes de direita, sugerindo ou diretamente acusando o deputado do PSOL de estar articulado com Adelio Bispo no atentado contra o presidente Jair Bolsonaro.

Os boatos, com algumas variações, sugerem que Adelio teria ido ao Congresso em 2013 e que na visita teria se encontrado com Jean Wyllys; no dia da facada, Adelio teria sido registrado no Congresso pela equipe de Wyllys para criar um álibi caso conseguisse escapar (na verdade, o registro foi um erro de um atendente ao fazer uma pesquisa para saber se Adelio já tinha estado no Congresso); com o aprofundamento das investigações sobre o atentado, Wyllys, que seria suspeito, teria decidido fugir do país.

Sugestões com essas deduções começaram a se difundir no Twitter logo na tarde do dia 24. A conta de Milene Reis, seguida por Carlos Bolsonaro e pelo assessor do presidente Filipe Martins, tweetou às 16:49: “Vídeo comprova que Adélio, ex-PSOL, visitava um deputado no Congresso/ Quem pagou os advogados de Adélio?/ Moro vai investigar entrada de dinheiro da ditadura de Maduro no Brasil/ Maduro é deposto/ Jean Wyllys desiste do mandato e foge do país/ Coincidência? #VaiPraCubaJean” (1.400 retweets)

Milene Reis ??
@milenereis
– Vídeo comprova que Adélio, ex-PSOL, visitava um deputado no Congresso
– Quem pagou os advogados de Adélio?
– Moro vai investigar entrada de dinheiro da ditadura de Maduro no Brasil
– Maduro é deposto
– Jean Wyllys desiste do mandato e foge do país
Coincidência? #VaiPraCubaJean

4.921
16:49 – 24 de jan de 2019
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No decorrer da tarde, a tese começa a ser difundida e ganhar centenas de retweets a partir das contas @peakebraga, @adrianotomasoni, @bolsoneas e @maryritalopes com a hashtag #VaiPraCubaJean. À noite, às 21:56, o ex-secretário nacional de justiça Romeu Tuma tweeta: “Essa história do Jean Wyllys tá muito estranha!!! Tem coelho nesse mato!” (2,1 mil retweets) Logo em seguida, tweet da conta O Corvo diz “Talvez a PF tenha descoberto o vinculo de Adélio com alguém do PSOL no caso do atentado! Será que Jean Fugiu?” (2,2 mil retweets) No dia 25, a tese viraria trending topic #1 com a hashtag #InvestigarJeanWillis (sic)

Maria Rita Lopes ??????
@maryritalopes
Estranho o Jean Willis renunciar ao mandato no mesmo dia q a PF prorroga a investigação de Adelio Bispo por mais noventa dias .
Será q ele tem culpa no cartório? #VaiPraCubaJean

5.622
20:34 – 24 de jan de 2019
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2.000 pessoas estão falando sobre isso

Romeu Tuma
@tumaoficial
Essa história do Jean Wyllys tá muito estranha!!! Tem coelho nesse mato!

15,3 mil
21:56 – 24 de jan de 2019
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https://twitter.com/OCorvo_/status/1088596498848382979

Fundamental para a difusão do boato é o longo vídeo da jornalista Regina Vilella publicado na noite do dia 24 no canal de Youtube Cabra da Peste TV, depois reproduzido no canal Política Play (500 mil visualizações) e pela página de Facebook da maçonaria Avança Brasil. No vídeo, a jornalista relaciona um suposto fim da imunidade parlamentar, a investigação da Polícia Federal e os vínculos de Adélio com o PSOL e Jean Wyllys.

https://www.youtube.com/watch?v=ZUuip8B8a2o
https://www.facebook.com/MovimentoAvancaB…/…/292223571648272

No Facebook, a notícia também começa a se difundir na noite do dia 24, quando os sites e páginas hiperpartidários publicam a tese. Com mais de 2 mil compartilhamentos, o site bolsonarista Notícias Brasil Online pergunta, “Se Jean Wyllys Está Sofrendo Ameaças. Será Por Queima De Arquivo?” Já no começo da madrugada, com 10 mil compartilhamentos, o blog do Cleuber Carlos é ainda mais direto, “Jean Wyllys Pode Ser o Mandante Por Trás de Adelio Bispo na Tentativa de Matar Jair Bolsonaro”; a página Movimento Curitiba Contra a Corrupção simplesmente sugere “juntar os pontinhos” (24 mil compartilhamentos); por fim, Olavo de Carvalho também não é sutil, “Eu apostaria que a perseguição ao Flávio Bolsonaro, a fuga de Jean Wyllys e a tentativa de assassinato de Jair Bolsonaro, por um ex-membro do PSOL, estão ligados de alguma forma bem bizarra.” (1,4 mil compartilhamentos)
https://noticiabrasilonline.com/se-jean-wyllys-esta-sofren…/
https://cleubercarlos.blogspot.com/…/bomba-jean-willis-pode…
https://www.facebook.com/movimentocuritba…/…/970962923092329

No começo da manhã é a vez do presidente Jair Bolsonaro, no Twitter e no Facebook, resgatar o tema do atentado. Ele não faz menção a Jean Wyllys, mas faz questão de enfatizar as ligações do atentado ao PSOL: “ADÉLIO BISPO: filiado ao PSOL até 2014/ Em 6 de agosto de 2013, o então filiado ao PSOL, esteve no anexo 4 da Câmara dos Deputados, como registra sistema/ (…) Usando o nome do antigo filiado ao PSOL, alguém registra presença na Câmara dos Deputados no mesmo dia da tentativa de assassinato. Álibi perfeito caso fugisse do local do crime; (…)”