Mensagem viral nas redes mudou o Carnaval no Brasil
Uma mentira contada mil vezes não pode se tornar verdade. Por exemplo, velhas frases que ouvimos em relação ao Carnaval, do tipo “Ninguém é de ninguém na folia”. Para ser dessa forma, tem que ser com consentimento. Afinal, assédio é assédio, em qualquer tempo ou lugar. Assim, junto com os blocos, já está nas ruas a campanha contra assédio no Carnaval realizada pela Catraca Livre.
Essa campanha foi selecionada pelo “Causando”, do projeto Mestres da Criatividade, da Catraca Livre, que apresenta as mais criativas publicidades com causa.
Em seu quarto ano, ela conta até com anjos para coibir a violência contra a mulher e o público LGBT nos dias de festa. E já mostrou resultados positivos em suas primeiras ações, realizadas no último sábado (23/2).
Coletivos feministas
Em seus primeiros três anos, a campanha teve o suporte maciço de coletivos feministas. Além disso, foram apurados relatos para mapear as ocorrências de assédio no Carnaval por todo o Brasil.
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“Para este ano, decidimos chamar instituições de ainda mais peso para lutar pela causa”, conta Paula Lago, responsável pela campanha #CarnavalSemAssédio da Catraca Livre. “A ação precisava dar um passo além.”
Frentes de combate
Então, neste Carnaval de 2019, entraram como parceiros a Prefeitura de São Paulo e a Rua Livre, produtora de blocos que pensa ações de impacto social para a folia e para a cidade.
A força desse time passou a atuar em duas grandes frentes de combate ao assédio nos dias de festa.
Anjos do Carnaval
Uma delas é constituída por um grupo de Anjos do Carnaval. Trata-se de uma equipe de voluntários treinados que acolhe e orienta mulheres e LGBTs vítimas de assédio nos blocos.
Aliás, esses benfeitores “angelicais” também ficam de olho em assediadores localizados em cima dos trios elétricos e em blocos parceiros da campanha.
Em paralelo, as vítimas de assédio são encaminhadas para um Ônibus Lilás. O veículo foi cedido pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania especialmente para a campanha, como ponto fixo de atendimento e espécie de “quartel-general”.
Assim, no ônibus, mulheres e LGBTs são atendidas por profissionais capacitadas – uma psicóloga, uma assistente social e uma advogada.
Avanços
As ações incluem a distribuição de 90 mil adesivos em blocos de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Olinda (PE), trabalho também feito por voluntários.
No sábado (23/2), a campanha começou efetivamente nos blocos paulistanos Casa Comigo e Toca Um Samba Aí.
Por sinal, a coordenadora da #CarnavalSemAssédio, Paula Lago, diz já ter percebido um avanço em termos de conscientização neste Carnaval.
“O que mais me chamou a atenção neste ano é que as pessoas estão aceitando melhor quando você começa a falar sobre a questão do assédio”, afirma Paula. “Em anos anteriores, quando íamos entregar adesivos da campanha nos blocos, havia meninas que os recusavam dizendo coisas do tipo ‘Eu quero ser assediada’.”
Segundo a coordenadora, é possível entender a dificuldade de falar sobre o tema em um bloco, muito pela questão cultural.
“O que essas mulheres queriam, na verdade, era ser paqueradas, o que é bem diferente de assédio”, especifica. “Assédio é crime. As meninas agora estão recebendo melhor a mensagem, elas querem falar sobre isso e não aceitam mais que o assédio seja normalizado pela sociedade. É um passo importante.”
Parceiros
Além da Catraca Livre, da Rua Livre e da prefeitura, a ação conta com uma ampla rede de parceiros que inclui o Ministério Público, a ONU Mulheres, o Conselho Estadual da Condição Feminina, a Comissão da Mulher Advogada (OAB), o Metrô de São Paulo, a Delegacia da Mulher, o coletivo Não é Não, a ONG Engajamundo, a ONG Plan International, a JC Decaux, a Rede Nossas, a agência Fiquem Sabendo e a gráfica Lumi Print.
Nos últimos três anos, a campanha também teve o apoio da ONU Mulheres, da revista “Azmina”, dos coletivos “Agora é que são elas”, “Nós, Mulheres da Periferia” e “Vamos juntas?”, das redes Minha Sampa e Meu Recife e de cerca de 50 blocos de rua do Brasil, incluindo os feministas Mulheres Rodadas e Maria Vem com as Outras.
Os blocos que quiserem apoiar a campanha podem mandar e-mail para [email protected].
“O assédio e a violência no Carnaval não vão se resolver por inércia”, reforça Paula Lago. “É preciso encarar o problema.”