‘A escola não ajuda a crescer emocionalmente’, diz psicóloga
As crianças precisam aprender a lidar com os sentimentos, com as emoções. Seja tristeza, raiva, alegria, afeto, tudo isso é importante para o desenvolvimento psicológico de um cidadão, e é o que defende a escritora espanhola Eva Martínez.
Em matéria recente publicada pela revista Nova Escola, a jornalista Paula Peres traz uma entrevista com Eva, que, além de autora é também professora, terapeuta e formadora de formadores no Institut de Ciènces de l’Educació (ICE) da Universitat Autónoma de Barcelona (UAB) e diretora pedagógica da Associação ARAE, em Barcelona.
A especialidade dela é justamente a educação emocional, e por meio de suas pesquisas, ela defende que a literatura é um instrumento fundamental nesse processo educacional para as crianças – em especial, os contos e as fábulas.
- Psicoterapia infantil: quando e como buscar ajuda para as crianças?
- 8 sintomas de depressão para ficar atento e procura ajuda
- Gaslighting: psicóloga de Harvard ensina como responder a um manipulador emocional
- TOD: entenda como o Transtorno Opositivo Desafiador manifesta-se na escola
Eva é coautora do livro Emociones y Familia: El Viaje Empieza en Casa (Emoções e família: a viagem começa em casa, em tradução livre) e Bajo la Piel del Lobo: Acompañar las Emociones con los Cuentos Tradicionales (Debaixo da Pele do Lobo: Acompanhar as Emoções com os Contos Tradicionais).
“Às vezes, eu me dava conta de que a escola é um lugar que não te ajuda a crescer emocionalmente. É um lugar em que se comportar bem é um valor apreciado, em que tirar boas notas é bom, mas quando uma criança se comporta mal, é punida” – reflete a educadora, na entrevista.
Ela é a favor de as crianças expressarem seus sentimentos, sejam eles bons ou ruins. É contra as histórias que só mostram personagens perfeitos e que terminam bem.
“Esse tipo de história gera efeitos negativos na formação da pessoa. É muito difícil para um homem se mostrar frágil, se sentir como uma princesa, porque ele não foi educado para isso, não foi essa referência de homem que ele teve.”
Separamos aqui alguns trechos da entrevista dada no Seminário Internacional Arte, Palavra e Leitura na 1ª infância, realizado pelo Instituto Emília e a Comunidade Educativa CEDAC, em parceria com a Fundação Itaú Social e o Sesc São Paulo, e publicada pelo site Nova Escola. Confira abaixo:
- É papel da escola trabalhar as emoções?
Acredito que a primeira aprendizagem que se dá sobre as emoções – e a mais importante e determinante – é na família. A escola tem pouca margem quando a criança vem de uma família com muitas dores. Podemos, sim, olhar para a dor dessa criança e ajudá-la a se expressar e se comunicar melhor com os outros. A escola pode fazer isso, mas não pode mudar algumas emoções porque o impacto que as experiências emocionais da família têm nela é fundamental. Eu acredito que a escola não é lugar para fazer terapia, mas onde podemos fazer algo mais do que estamos fazendo [que é educar].
- Como assim?
A escola, às vezes, não oferece oportunidades reais para crescer, só para crescer no campo acadêmico: o de se comportar bem, de ter bons resultados. Não no que se refere a crescer como pessoa. Uma criança que veio de uma experiência de maus tratos, abandono, de uma família desestruturada, com problemas de álcool e drogas, não vai se comportar bem na escola. Ela precisa extravasar essa raiva, precisa falar da sua dor. E isso acontece quando ela se comporta mal, gritando. A escola não permite esse crescimento, esse acompanhamento.
- Os professores brasileiros têm muito medo de contar histórias para as crianças que sejam tristes, que dêe medo, tenham temas polêmicos ou personagens com características negativas. Qual é o seu conselho para eles?
Eu entendo que, muitas vezes, os adultos têm dificuldades porque também têm suas feridas. Digamos que eu tivesse sido abandonada pelos meus pais e isso me provocou muita dor. Hoje sou professora, trabalho com Educação, e vejo um livro sobre abandono. Para mim, será muito difícil ler esse livro, pois vai jogar sal na minha ferida e fazer com que eu tenha de me conectar com esse sentimento. Se eu não tenho isso elaborado dentro de mim, falar do abandono vai ser muito doloroso. Mas veja o que acontece: há muitas crianças abandonadas, como eu, na sala de aula. Como adulta, tenho a responsabilidade de transformar isso em algo emocionalmente nutritivo, que me cure, para depois acompanhar outras crianças abandonadas.
Eu serei uma acompanhante muito melhor dessas crianças abandonadas se olhar para o meu próprio abandono. Então, é natural que tenhamos medo, mas quanto mais cuidamos de nós mesmos, mais nos curarmos, melhor poderemos acompanhar emocionalmente as nossas crianças.
Para ler na íntegra, clique aqui e acesse o Nova Escola.
Leia mais: