Intercâmbio na África: uma experiência indescritível
Go Diáspora é primeira agência de intercâmbio do Brasil a trabalhar principalmente com regiões onde a cultura negra se faz fortemente presente
Certeza de que você tem um amigo ou conhecido que foi estudar ou esteja estudando inglês na Irlanda ou no Canadá. Mas provavelmente não sabe que fazer um intercâmbio na África, em países que fogem dos destinos tradicionais para intercâmbio, proporciona as mesmas oportunidades para trabalho, e com custo de vida mais baixo.
Quem nos conta mais sobre isso é a baiana Sauanne Bispo, 32 anos, que atua na área de viagens há mais de 10 anos. Ela é diretora da Go Diáspora, primeira agência de intercâmbio do Brasil a trabalhar principalmente com regiões onde a cultura negra se faz fortemente presente.
São 44 opções de destinos para quem quer fazer intercâmbio na África, que incluem países do continente africano e sua diáspora (fenômeno caracterizado pela imigração forçada de africanos para outras regiões do mundo).
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Países de destino
“Para cursos de idiomas, trabalhamos com África do Sul, Namíbia, Gana [um destino maravilhoso para curso de inglês nas férias, baratíssimo]. Francês no Senegal ou Costa do Marfim. Estamos trabalhando com instituições que também falem a língua portuguesa. Então a gente inseriu Cabo Verde, Moçambique e Angola, e na Nigéria nós oferecemos iorubá”, explicou.
Segundo Sauanne, é possível estudar inglês, francês e alemão no continente africano. Estendendo para a diáspora africana, a agência apresenta programas de vivência internacional em países da América do Sul, Norte e Central (veja aqui todos os destinos).
Desmistificar o continente africano
“Os programas mais comuns são os cursos de idiomas, que têm duração mínima de quatro semanas. O legal é que África do Sul, por exemplo, é um país que, assim como a Irlanda [na Europa] permite que uma pessoa que esteja fazendo um curso de longa duração também possa trabalhar. Só que isso não é muito divulgado pelas agências”, disse a turismóloga.
Estudar idioma em cidades como Joanesburgo e Cidade do Cabo não tem a exigência de comprovar 3 mil euros, como na Irlanda, lembra Sauanne. E mais: o custo de vida é consideravelmente mais baixo.
A ideia de criar a agência veio com a vontade de desmistificar a África, conhecida somente como destino exótico para safáris e experiências desérticas.
“Há pessoas, há cultura, é polo de educação, polo de tecnologia, recentemente o Google se instalou em Gana [Acra, a capital, recebeu a 14ª sede do centro de inteligência artificial da empresa norte-americana] e não é à toa”, exemplificou.
Outro objetivo é baixar o custo dos intercâmbios. “Pelo fato desses destinos não estarem no radar, o custo é consideravelmente mais baixo. Até mesmo a moeda , por ser mais fraca, permite que a gente tenha maior poder aquisitivo, passe menos aperto e tenha maiores condições de realizar o intercâmbio”, contou.
Experiência no exterior
Sauanne estudou estatística na UFBA (Universidade Federal da Bahia), mas se formou em turismo, afirma. Depois de ajudar uma amiga a embarcar para um intercâmbio na Irlanda, em 2008, surgiu o start para começar a trabalhar no ramo, já que é apaixonada por viagens e conheceu mais de 25 países.
A empresária teve uma experiência de trabalho por dois meses em Moscou, na Rússia (pela AIESEC). “Acho que cada um tem que se permitir, tem que viver. Mas foi um pouco puxado”, relatou ela, em referência a casos de racismo e xenofobia.
Depois, a baiana foi aprovada para estagiar na Africare, a maior ONG de fomento ao desenvolvimento de países africanos da América do Norte. Então passou um mês em Washington, D.C. Voltando ao Brasil, se candidatou a uma vaga na Índia, para trabalhar numa empresa de pesquisa de mercado e assim foi trabalhar em Nova Deli.
Foi na capital indiana que Sauanne começou a desenvolver um plano de negócios para o que viria ser a Go Diáspora, uma verdadeira agência de intercâmbio na África.
“A gente buscou países ricos em cultura, com excelente receptividade, bastante cosmopolita e baixo custo de vida. Além disso, eu também analisei os rankings de segurança e tem países do continente africano que são mais seguros do que a França ou a Inglaterra”, apontou a diretora.
Pessoas negras viajando
“Minha experiência na Rússia me fez pensar que uma vivência de intercâmbio, quando você se parece com as pessoas do lugar, te permite uma maior imersão porque ninguém vai saber que você não é dali até você abrir a boca.”
De acordo com ela, a Go Diáspora deseja inserir pessoas negras em contextos onde elas se sintam mais à vontade e identificadas com a cultura.
Durante suas experiências mundo afora, a empresária conta que sentia uma carência: outras pessoas negras também viajando.
“A gente tem diversas opções, América do Sul, América do Norte, Europa, Oceania, mas a gente pula o continente africano. E isso me incomodava, até que eu comecei a pesquisar sobre a África mais a fundo, com teor mais profissional do ramo de viagens. Fui participar de uma conferência lá na África do Sul e me encantei com o país.”
“Aquele lugar tem cultura, tem história, tem identidade, o continente africano não é único, não é uma coisa só, são 54 países e dentro desses países há diversas tribos, há diversos grupos étnicos e diversas culturas e isso precisa ser desmistificado e respeitado”, concluiu ela.
Para saber mais sobre a agência, clique aqui.