Agente Brazucah: o cinema brasileiro promovido por universitários

Projeto da Rede Brazucah seleciona estudantes para atuar em bairros e universidades de São Paulo

Há cerca de um ano, uma sala de cinema desativada do antigo Mini-Shopping de Itaquera, zona leste, tornou-se um espaço incomum na região: filmes nacionais passaram a ser prestigiados por crianças, jovens e adultos, em sessões gratuitas que lotam seus 112 lugares.A ausência de opções de cinema com programação além do circuito hollywoodiano criou uma carência região, fazendo com que a reativação da sala fosse bem sucedida. “É muito complicado assistir um filme não comercial ou nacional aqui na região. Quem mora por aqui tem que pegar a linha vermelha do metrô, fazer baldeação para chegar aos cinemas da região da Av. Paulista”, aponta Simone Matos, coordenadora da sala de cinema.

A estudante, que sempre gostou de cinema, interessou-se pelo projeto – que estava sendo divulgado na universidade onde estuda – da Rede Brazucah, voltada à difusão do cinema brasileiro. Simone fez sua inscrição, participou de um breve processo seletivo e se tornou uma “Agente Brazucah” no campus da universidade. Após organizar as primeiras exibições com o projeto e enfrentar alguns contratempos na universidade, a estudante decidiu encerrar o trabalho no local e voltou seus esforços para uma das salas do antigo Mini-Shopping.

“Vi que, para realizar sessões ali, precisava da ajuda de uma ONG. Depois que consegui, passamos a ter exibições mensais, que foram aumentando com o tempo. Hoje vejo que a demanda é grande, com certeza se tivessem mais projetos de cinema por aqui também haveria público”, analisa. Hoje, as sessões acontecem com o apoio da Associação Beneficente e Cultural Dinda em parceria com a Subprefeitura de Itaquera.

Formando novos agentes culturais

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Produtora fundada em 2002, tem foco voltado à difusão do cinema brasileiro

A formação de novos “Agentes Brazucah” é um dos projetos desenvolvidos pela Brazucah Produções, empresa fundada em 2002 por Cynthia Alario, com foco totalmente voltado à formação de público para o cinema brasileiro. Através dele, jovens interessados recebem treinamento e apoio para atuar na divulgação e exibição de títulos nacionais em seus bairros e universidades. “Nosso trabalho é sinérgico com a retomada do cinema brasileiro. Queremos cumprir o papel de pensar a formação do olhar do público e também a democratização do acesso às obras”, define Cynthia.

O projeto é promovido em diferentes categorias, que recompensa os participantes de diversas maneiras, desde ingressos para pré-estreias até contratos com pagamento em dinheiro. A seleção dos próximos “agentes” está prevista para acontecer em março, através de inscrição no site da produtora. Parte do processo é definida por perguntas sobre cinema, para se detectar o nível de referência do interessado. Segundo a produtora cultural, em 2012 o “Agente Brazucah”, que também acontece no Rio de Janeiro, será ampliado para todo o Brasil. “No ano passado nosso processo seletivo foi para eliminação de concorrentes, este ano será diferente, queremos mais parceiros.”

Para os apaixonados pela Sétima Arte, mais valiosos que os incentivos e brindes, são as oportunidades de compartilhar histórias através da linguagem cinematográfica com os mais diferentes públicos. “Uma coisa curiosa que comecei a perceber é que em todas as sessões que realizamos, o filme termina sob aplausos. É uma reação muito diferente, que não imagino acontecer em uma sessão dentro de um Shopping Center”, comenta Simone.

Reações inusitadas que denunciam tanto a necessidade de uma aproximação da população da região com a Sétima Arte, quanto a satisfação que ela pode proporcionar. Para que esta aproximação ocorra, suprindo a carência de diferentes regiões dentro e fora de São Paulo,  novos agentes e parcerias não devem parar de acontecer, pois como define Cynthia, de forma simples e direta: “Filme só vira cinema quando é visto”.