Alunos da USP bancam seu sonho de publicar um livro

Por: Catraca Livre

Seu maior sonho é escrever um livro? O deles era publicar um. E para isso, o casal Aline Rocha e Eduardo Lacerda, ex-estudantes do curso de Letras na USP, criaram a Editora Patuá. O intuito é dar lugar para novos autores e ajudá-los a entrar no universo da literatura nacional. A publicação é feita gratuitamente.

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"Caramelos e Almofadas", segundo lançamento da editora Patuá

Para Eduardo, que trabalha em um programa do Governo que distribui livros para bibliotecas de todo o estado, a maior dificuldade é achar espaço para esses autores. “O maior consumidor de livros hoje é o Estado, estão nas bibliotecas os grandes títulos, precisamos apenas de profissionais qualificados para direcionar o leitor”, comenta Eduardo.

A editora já lançou dois livros. “Carta Branca” de Juliana Bernardo, aluna no terceiro ano do curso de filosofia da FFLCH-USP, foi o

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Capa do Livro "Carta Branca" de Juliana Bernardo

primogênito. O livro conta com uma série de poesias contemporâneas e teve o lançamento em fevereiro deste ano. Em março a Patuá já estava apresentando seu segundo lançamento “Caramelos e Almofadas” da estudante Bárbara Leite.

Aline e Eduardo fazem questão de deixar claro que os autores não precisam, necessariamente, estar ligados à Universidade de São Paulo. “Recebemos um livro muito bem escrito de um rapaz que é porteiro na USP. O trabalho é muito bom, mas temos muitos livros na fila. Estamos cheios até o fim do ano”, revela Eduardo.

Os livros são todos vendidos pelo site da Patuá e têm o preço tabelado de R$25. Do valor da venda, cada autor recebe 5%, por direitos autorais. A maior divulgação fica por conta do dia do lançamento. A editora organiza uma festa, normalmente em algum bar da cidade, e proporciona um ambiente boêmio e amigável para que o público conheça o trabalho dos autores. A festa se torna um grande bate-papo literário, um dos principais alicerces para a manutenção do cenário contemporâneo, de acordo com os fundadores.

Quando questionados sobre a dificuldade de manter uma editora na era dos ebooks, Aline, que trabalha em uma editora completamente diferente da que montou com Eduardo, desabafa: “Isso é passageiro! O livro não vai acabar.” Para o casal, ainda há público para o bom e velho papel, ele só precisa ser estimulado a ler.

Ambos concordam que mesmo na universidade, os alunos não se sentem atraídos em trabalhar com literatura, o que pode ser uma das causas na crise literária que paira sobre o Brasil. “A maioria das pessoas que faz letras acabam indo para áreas completamente diferentes, como a tradução, por exemplo”.  Embora frustrados com o ambiente do curso, os alunos acreditam que o grande público para seus livros esteja dentro das universidades.
A prova disso está nos próximos lançamentos da editora. Rafael Carvalho, formado em letras também pela USP, terá seu livro “A Estante Deslocada” publicado pela editora ainda esse ano.