Aprendizado ambulante: em SP, uma Kombi serve de laboratório para troca de saber nas periferias

O projeto Labmovel compartilha arte e conhecimento, usando mídias digitais e novas tecnologias

Por: Catraca Livre

“Tinha que ser itinerante”, com essa frase, a artista e produtora cultural Gisela Domschke ressalta a principal característica  do Labmovel,plataforma que usa uma kombi como espaço para compartilhar arte e conhecimento. O projeto foi criado por Gisela e pelo e pelo artista e pesquisador em novos meios Lucas Bambozzi em 2012 com o objetivo de levar oficinas, projeções de filmes, intervenções urbanas e outras oportunidades de expressão e aprendizado a áreas da periferia de São Paulo e de outras cidades. A primeira ação do Labmovel, em seu ano de lançamento, foi uma residência artística resultante do intercâmbio com um instituto  holandês de arte e mídia. Um aplicativo foi criado a partir dessa experiência para registrar narrativas reais ou ficcionais tendo como cenários a Biblioteca Mário de Andrade, o Centro Cultural de São Paulo e o seu entorno. De lá para cá, as práticas têm migrado gradativamente em direção às comunidades periféricas.

Uma Kombi que vira auditório para palestras e até cinema ao ar livre

“Precisávamos de uma espaço multiuso e híbrido, e acabamos pensando em  um veículo versátil, e que não atrapalhasse o trânsito na cidade”, comenta Lucas. Para os idealizadores do projeto, isso contribui para que se possa repensar a distribuição pouco equilibrada de oferta cultural e artística na capital.

Neste dezembro, graças ao convite da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano de São Paulo, o projeto ofereceu aos jovens da Vila Maria, na região Norte da capital paulista, diversas oficinas, entre as quais de entrevista e de vídeo. O objetivo da prefeitura era descobrir, antes da implementação de um CEU (Centro Educacional Unificado) na área, as principais demandas dos moradores. “Ao mesmo tempo em que aprendiam a abordar os entrevistados e pensavam nas técnicas de som e imagem, os participantes conseguiam respostas, que alguém de fora dificilmente conseguiria”, explica a Gisela.

Crianças participam de uma oficina na Vila Maria

Estacionada numa praça, a Kombi, modelo Safari, de 1982 (adaptada para atividades com mídias digitais), pode se transformar uma central de produção de videos, como aconteceu, por exemplo, na comunidade de Paraisópolis, na região Sul da cidade, em junho de 2013, em oficina conduzida pelas artistas Lea Van Steen e Raquel Kogan. Um ano antes, em São Bernardo do Campo, o Labmovel foi  a base para um cinema a céu aberto, onde as telas eram os prédios do entorno, em um workshop de grafitagem eletrônica proposto por Ricardo Palmieri. Noutra ocasião, no Capão Redondo, foi local de apoio para oficinas de construção de caixas de som amplificadas, a partir do reaproveitamento de objetos como caixas de sapato, em parceria com a Casa do Zezinho, que atua na região.

No Parque Novo Mundo, bate-papo com mulheres

Se em relação ao espaço, o projeto tem se deslocado do Centro para as áreas periféricas, quanto à vocação artística da Kombi, tudo segue como no começo. Este ano, entre outras atividades, foi ofertada aos pacientes do Ponto de Cultura Maluco Beleza, instituição de saúde mental na periferia de Campinas, no interior do Estado, uma oficina de fotografia posada. Nela, os pacientes usavam as poses e os cliques para se expressar sobre o local onde vivem ou como se sentem. As crianças moradoras de palafitas da zona norte de Santos, litoral de SP, foram convidadas a participar de um vídeo que compilou testemunhos e impressões delas sobre o que quer que elas quisessem falar, de forma livre.

O público-alvo é variado. A Kombi leva programação cultural para crianças e adultos

Para, 2015, o Labmovel  tem planos de montar uma exposição com o resultado dos trabalhos feitos ao longo do ano. “Uma equipe cheia de boa vontade para realizar mais essa meta a gente já tem”, conclui Gisela.