Em Cotia (SP), alunos melhoram a vida da comunidade enquanto aprendem
“Melhorar o mundo, a partir da minha escola, da minha casa e da minha rua” é um objetivo repetido constantemente no Projeto Âncora, em Cotia, no interior de São Paulo. A maior parte dos 200 alunos atendidos gratuitamente pela instituição – todos com renda familiar de até três salários mínimos – mora na comunidade Recanto Suave, a uma distância de dez minutos a pé da escola. Foi com o desejo de transformar a sociedade agindo localmente que o ensino saiu de dentro da sala de aula e se espalhou pelas ruas da comunidade.
“Tudo começou quando um aluno disse que queria acabar com o lixo do mundo”, lembra Edilene Cristine Morikawa, coordenadora pedagógica do Projeto Âncora. “A ideia virou um projeto pedagógico e, juntos, pensamos que poderíamos começar a combater o problema no Recanto Suave, onde era comum ver lixo a céu aberto”, explica.
Em maio de 2013, seis crianças, com o apoio de educadores, passaram a visitar a comunidade para entrevistar moradores, reunir-se com catadores e organizar mutirões de limpeza nos espaços públicos. Mais de sete caminhões de entulho foram retirados do local, impactando diretamente o cotidiano da região.
Um ano e meio depois, a proposta de acabar com o lixo deu origem a novas ambições e, agora, os alunos querem ajudar os moradores a construir uma vida melhor, levando em consideração meio ambiente, saneamento básico e moradia. “Os residentes do Recanto Suave também ensinam. Os alunos amaram aprender com uma senhora como reutilizar o óleo para fazer sabão”, conta a professora. E a parceria se estende de outras formas: os alunos plantaram vinte árvores, das quais os moradores se comprometeram a cuidar.
Com o foco na sustentabilidade, atualmente, cerca de 30 alunos estão empenhados em criar um parque e uma área comunitária dentro do Recanto Suave. Nesse processo, aprendem as disciplinas expressas nos Parâmetros Curriculares Nacionais . O conteúdo é apresentado de acordo com a necessidade e dentro de um contexto prático, não levando em conta somente a idade dos alunos. “Para medir o terreno onde será o parque ou para pensar na melhor forma de adubar a horta, há crianças abaixo de 11 anos estudando física e química em livros de ensino médio”, afirma Edilene. “Como esse ensino faz sentido e se aplica à realidade, elas aprendem.”
No Projeto Âncora, os educadores atuam como mediadores do processo de ensino e os alunos como protagonistas. É a partir do desejo de aprendizado dos estudantes que o conteúdo é escolhido. “As crianças combinam com os professores de que ajuda precisam para o projeto que estão a desenvolver”, explica José Pacheco, idealizador da Escola da Ponte, em Portugal, e parceiro do Projeto Âncora.
Sobre o Âncora:
O Âncora é um exemplo de escola em tempo integral, as crianças chegam às 7h20 e saem às 16h20. Lá, o ensino é feito com base nos roteiros de estudo desenvolvidos a partir do entendimento entre alunos e professores — e não por apostilas ou livros didáticos. Todos os dias, ao chegarem, os estudantes se encontram com o tutor, com quem elaboram o planejamento das atividades que irão realizar ao longo do dia, assim como quais horários vão destinar às disciplinas e quais serão os momentos de brincar ou mesmo descansar. Saiba mais sobre o projeto.