Em Cotia (SP): uma aluna de 10 anos sonhava visitar um parque aquático – e acabou liderando a excursão que contou com 90 crianças

Por: Catraca Livre
Visita ao parque aquático: passeio que virou aprendizado

No Projeto Âncora, em Cotia, no interior de São Paulo, os professores aproveitaram a vontade dos alunos de saírem em excursão para ir além do aprendizado proporcionado pelo passeio. Nessa escola, que já foi pauta do Mundial da Educação,  o conteúdo estudado é definido a partirarte da solicitação das crianças, que dizem sobre o que querem saber mais.

No Projeto Âncora: a excursão pode ser educativa desde o seu planejamento

Em 2013, a aluna Lize Gabrielle Souza, então com 10 anos, decidiu que queria visitar um parque aquático junto aos colegas. “O que a gente busca não e fazer passeios por passeios”, explica Edilene Cristine Morikawa, coordenadora pedagógica. Lize foi orientada a fazer toda a preparação necessária. “Aprendeu a calcular as distâncias entre a escola e os parques que poderiam ser visitados, listou o que seria preciso, como o lanche e o transporte, depois fez cotação do preço de cada item, escreveu o bilhete pedindo autorização aos pais e negociou com os parques, pelo telefone”, elenca Edilene. “Alguns deles até estranhavam, porque a voz dela é de criança, mas deu tudo certo”, conta.

Durante o processo, várias habilidades foram trabalhadas, como a comunicação e a escrita. Ela falou em público sobre o assunto, tanto na assembleia dos professores quanto na dos estudantes e redigiu sozinha o bilhete dirigido aos responsáveis – os educadores só fizeram a revisão ortográfica. “Foi um protagonismo absoluto dela e um sucesso de excursão, da qual participaram 90 crianças”, diz a coordenadora.

Para Denis Papler, cientista social, que é membro da equipe de coordenação do Colégio Viver, também baseado em Cotia, o estímulo à sociabilidade é considerado um ponto alto das viagens. “Passando mais tempo juntos, eles estreitam os laços com os colegas e também com os professores. Já incentivamos isso na escola, mas tomar café da manhã na mesma mesa favorece ainda mais a relação de afetividade e, sem ela, não existe aprendizado”, observa ele.

Alunos do Colégio Viver, em bananal: laços de amizade ficam mais fortes em viagens
A histórica Bananal estimula reflexões sobre o trabalho escravo do passado e as desigualdades sociais do presente

Nesta semana, 35 estudantes do Viver, de 10 a 14 anos, foram a Bananal, cidade do interior paulista que teve seu apogeu com fazendas de café do século 19.  Oportunidade de visitar locais importantes da história do país e de contextualizar questões relevantes ainda hoje. Ao verem casas-grandes e senzalas, crianças e adolescentes são provocados a pensar nas relações do país atualmente, como o preconceito racial e o social. “Podemos estudar como o Brasil ainda é uma das nações mais desiguais no mundo quanto à renda, como os prejuízos históricos causaram a dificuldade de inclusão do negro na sociedade, como a forma de produção e exploração do trabalho privilegia alguns em detrimentos de outros”, enumera Denis.

São atividades pedagógicas capazes de mostrar como uma viagem inteira pode ser aproveitada como momentos de aprendizagem, o caminho, a chegada e o destino – e não apenas ao longo da programação oficialmente traçada pelos professores. O planejamento, que pode ser liderado pelos alunos, e os  intervalos de ócio também são experiências ricas e cheias de significado. “Excursões sempre são muito esperadas pelas crianças, elas amam conhecer lugares novos”, conclui Edilene. E não poderia ser diferente.