Empatia: as escolas e o acolhimento às crianças com Asperger
A inclusão ainda é um tema delicado para as instituições de ensino. Nem todas estão realmente preparadas para receberem, por exemplo, alunos especiais, e quase sempre falta empatia. Confusão e caos também marcam esse processo, segundo mães e pais de crianças com Síndrome de Asperger.
Henrique tinha nove anos quando recebeu o diagnóstico. Ele adorava dinossauros e era fanático por números. Ter interesse por um tema e focar nele por determinado período é justamente uma das características do Asperger. Um “Aspie” pode se tornar praticamente um especialista nos assuntos que gosta.
“Quando meu filho começou a estudar, não sabíamos exatamente o que ele tinha. A primeira escola para a qual ele foi era grande, mais tradicional. Mas ele não conseguiu ficar de jeito nenhum. Os professores não estavam nem um pouco preparados. Foi uma tristeza”, contou à Nova Escola a mãe do Henrique, Izabel Grandinetti Barros, que é também presidente da Associação da Síndrome de Asperger Asa-Tea MG.
Izabel então decidiu trocar o filho de escola e colocá-lo numa menor. A experiência foi ótima, só tinham oito alunos por sala e Henrique recebeu o mais importante: acolhimento. “Havia uma parceria muito grande minha com a diretora e a psicóloga da escola; uma disposição em ouvir o nosso lado. Lá ninguém nunca forçou nada. Quando o Henrique não queria ir para a quadra, elas deixavam ele ficar brincando com os dinossauros dele numa boa. E de tempos em tempos a gente voltava a conversar, para ir ajustando tudo” – contou.
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Joana Elkis, coordenadora educacional da escola Alecrim, em São Paulo, defende que a escuta é fundamental no processo de acolher crianças com condições especiais. A escola precisa se adaptar às dificuldades e trabalhar de acordo com elas, respeitando o tempo do aluno, que é diferente para cada um.
A coordenadora diz que é preciso encontrar caminhos para que a criança seja incluída e participe das atividades em sala, e valorizar seus potenciais é a melhor forma de promover essa inclusão: “Pegar essa super habilidade e reverter isso para o grupo acaba sendo interessante para todos” – completa.
Tudo isso é notado não só pelas crianças, mas pelos pais, que sentem o acolhimento em relação aos filhos, como conta a mãe de Henrique: “Nunca vou me esquecer do quanto ele ficou feliz quando a professora propôs que ele desse uma ‘palestra’ sobre dinossauros para os colegas. Ele se sentiu realizado e os alunos também gostaram. Eles estavam estudando dinossauros naquela época, então cada um fez uma pesquisa individualmente e depois o Henrique foi lá na frente falar para a classe”.
- Comunicação
Uma das características de um Aspie é a dificuldade em compreender figuras de linguagem como as metáforas. “O fato de verem o mundo de um modo mais objetivo e concreto pode atrapalhar a comunicação, seja na compreensão do que o professor está falando ou na maneira que a criança (com Asperger) fala com os colegas, que muitas vezes não tem filtro”, observa Joana.
Por isso, em sala de aula, os professores precisam trabalhar com muito cuidado a comunicação – tanto para que estes alunos assimilem os ensinamentos quanto para que eles sejam compreendidos pelos demais.
Além disso, “os docentes têm de estar sempre próximos para evitar processo de isolamento dos ‘Aspies’, atuando até como mediadores, trabalhando para que essa criança e os colegas se aproximem” – defende Anna Augusta Sampaio de Oliveira, professora do departamento de Educação Especial da Unesp, segundo a Nova Escola.
É preciso também investir na formação e capacitação dos profissionais para lidarem da melhor maneira possível com alunos que apresentam dificuldades especiais, como os Aspie. Desde 2008 está previsto em lei a existência de uma rede de suporte ao Atendimento Educacional Especializado. Na escola Alecrim, por exemplo, a equipe tem constante contato com textos e filmes que tratam deste tema, de acordo com a coordenadora Joana.
Henrique, ao cursar a faculdade de História, encontrou dificuldades com a matéria de filosofia. Como alternativa, o professor dividiu toda a prova em tópicos para facilitar a compreensão e o raciocínio do aluno. Deu certo! Hoje, já formado, ele está na segunda graduação, Direito.
- Síndrome de Asperger
Em 2013 a síndrome foi incluída no chamado Transtorno do Espectro Autista (TEA), até então era considerada uma condição distinta. A nova classificação agrupou algumas categorias. Se antes eram quatro principais (Comunicação, Interação Social, Interesses Restritos e Comportamentos Repetitivos), hoje, as duas primeiras foram agrupadas em uma só.
Na área de Comunicação & Interação Social, são analisados o grau de respostas atípicas, déficits para responder a interações com outras pessoas, dificuldade de manter relacionamentos/amizades, dificuldade de interpretação em relações não-verbais.
Nas outras categorias se analisa o grau e a frequência das chamadas obsessões por interesses restritos (como enfileirar objetos ou números ou determinadas cores). A terceira área analisa os comportamentos considerados repetitivos, em que ocorre um apego excessivo à rotina, além de atividades e movimentos reiterados e constantes.
O autismo, incluindo a síndrome de Asperger, é muito mais comum do que a maioria das pessoas pensa. De acordo com o jornal El País, cerca de 1% da população mundial tem algum tipo de TEA, segundo dados dos Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças do Governo dos Estados Unidos.
Dados do CDC (Center of Deseases Control and Prevention), órgão ligado ao governo dos Estados Unidos, mostram que existe hoje um caso de autismo a cada 110 pessoas. Só no Brasil, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas são autistas. São mais de 300 mil só no Estado de São Paulo.
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