Grafiteiros conectam agricultura e arte em escolas da periferia
Projeto Conexão Rural utiliza arte urbana como ferramenta de conscientização ambiental.
Do campo às paredes decoradas pelo grafite, o projeto “Conexão Rural” reuniu 180 estudantes para mostrar às cidades o nexo entre o rural e o urbano.
O projeto realizado no mês de setembro foi fruto de uma parceria da Syngenta, o PROAC SP, o Governo do Estado de São Paulo e a Editora Horizonte e teve a participação de seis escolas na iniciativa cultural. Estudantes do sexto ao nono ano de Ensino Fundamental fizeram parte do programa.
Três instituições foram do bairro Grajau na Zona Sul: Escola Estadual Santo Dias da Silva; Escola Prof. Giulio David Leone e Escola Tancredo de Almeida Neves. Participaram também instituições da cidade de Paulínia: EMESFM Vitor Szczepanski e Souza Silva; EMEFM Maestro Marcelino Pietroben e EE Dr. Francisco de Araújo Mascarenhas.
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O objetivo da iniciativa foi levar o campo à cidade através do grafite. Na primeira etapa do projeto, os estudantes receberam aulas diversas sobre a importância da agricultura familiar na sociedade atual.
Com assessoria da Sueli Furlan, doutora em Geografia pela USP, os estudantes debateram diversas temáticas tais como: o cuidado do solo, a agricultura familiar conectada ao mundo empresarial, o desperdiço de alimentos no Brasil, a preservação da água e a importância das abelhas no ecossistema.
Segundo dados do Embrapa, 70% da comida dos brasileiros provém da agricultura familiar, 25% do total de alimentos do planeta. No entanto o Brasil desperdiça 40 mil toneladas de alimento por dia, número suficiente para alimentar 19 milhões de pessoas.
O Conexão Rural levou estes assuntos à reflexão na sala de aula. A preparação dos estudantes em algumas escolas começou no início do semestre escolhendo como grupo alvo os estudantes mais interessados na temática ambiental.
A escolas de Paulínia organizaram uma exposição dos murais em novembro para todos os cidadãos.
Roberta de Andrade, diretora da escola Santos Dias da Silva, na Zona Sul, considera que o projeto contribuiu para debater sobre o rural e o urbano aplicando o conceito à vida das crianças, que moram perto da represa ou áreas de cultivo. Na visão de Roberta o grafite traz consigo um senso de responsabilidade significativo no aprendizado. “O que me chamou mais a atenção é o cuidado que os estudantes têm com a escola depois do projeto. Se você visitar o local perceberá que o mural continua intacto. Uma apropriação cultural do espaço surpreendente”, explica.
Grafite é mudança
Na segunda etapa do projeto os estudantes foram treinados para entender a função social do grafite como manifesto urbano da sociedade. Com aulas que abordaram a história, questão de gênero, artistas e técnicas, os participantes refletiram sobre o modelo “contesta e questiona” manifestado artisticamente na ação de fazer grafite de verdade. O programa levou à discussão o uso desta arte para transformação social, esclarecendo que vandalismo não é cultura.
Para orientar a etapa artística o Conexão Rural contou com dois grafiteiros: Mauro Neri, conhecido pelos seus questionamentos sobre os problemas urbanos e a rotina insana da metrópole, e com o Marcus Vinicius Silva, conhecido artisticamente como Enivo. Ele é grafiteiro há 19 anos e foi convidado a participar do projeto pela Editora Horizonte. O artista tem experiência na realização de workshop sobre educação e temáticas socioambientais. Para ele, a arte tem uma função consolidada nas periferias que pela sua vulnerabilidade contribui na transformação de vidas.
Enivo considera que o Conexão Rural deve também motivar outros locais da cidade como o centro e o interior de São Paulo. “É importante conscientizar as pessoas sobre saúde, a maioria delas nem imagina de onde vem as frutas, só olham para o mercado.Precisamos trazer este questionamento para o mundo”, afirma.
Em São Paulo, as artes elaboradas pelo grupo foram “Feira Livre” na Escola Santo Dias da Silva, no Jardim Maringá, imitando a obra do artista Almeida Junior. Na instituição Giulio David Leone os alunos pintaram “Frutas”, a obra homenageia a cantora Carmen Miranda pela sua criatividade. Já na escola Tancredo de Almeida Neves no Jardim Novo Horizonte as ilustrações foram sobre “Cana de açúcar e café” apresentando o agricultor através de uma estética urbana.
Enivo qualifica o grafite como a ferramenta social que aproxima jovens do campo e os conscientiza para cuidar do meio ambiente. Para ele o Conexão Rural impactou a comunidade devido a que os murais foram feitos na rua promovendo a reflexão popular.
Para conhecer mais da iniciativa acesse o site: www.edhorizonte.com.br/conexaorural/.
Por Katherine Rivas, da Envolverde
Grafiteiros ensinaram aos alunos o poder de transformação da arte urbana
Foto: Divulgação