O poeta está vivo: projeto leva versos de Manoel de Barros às ruas de diferentes cidades

Quando o poeta Manoel de Barros morreu, no dia 13 de novembro deste ano, não restavam dúvidas de que sua obra seguiria viva. Para dois apaixonados pelo escritor mato-grossense, ajudar seus versos a circularem pela cidade foi a forma encontrada para se consolarem e, ao mesmo tempo, prestarem uma homenagem ao ídolo.

Poesias são coladas em muros, declamadas na rua ou entregues nas mãos de transeuntes

Nascida em Campo Grande, Ana Carla Albuquerque de Oliveira conta que sua relação com o poeta se deu desde a infância. “Ele também viveu no Mato Grosso do Sul e sempre fez parte do cotidiano da minha cidade”, explica ela. Ana Carla é mestranda em Pádua, na Itália e foi lá que teve a ideia de espalhar poesias de Manoel de Barros pelas ruas, inspirada numa intervenção urbana semelhante, realizada na República Tcheca. Ela pensou no arte-educador e escritor André Gravatá como parceiro ideal, especialmente porque havia lido – e se emocionado – com uma carta aberta escrita pelo rapaz para o poeta. André topou na hora. “Poucos minutos depois, ele já havia criado a página Manoel nas Ruas, no Facebook”, conta ela.

Desde então, Gravatá anda com poesias de Manoel na mochila, prontas para serem coladas nas ruas de São Paulo. Às vezes, sua abordagem vai além. “Posso dizer para uma pessoa que quero lhe dar um presente e entregar a poesia em mãos”, conta ele. “Também posso interromper alguém que passa e perguntar se posso ler uma poesia para ele.”

Traduções dos versos em italiano e inglês foram distribuídas pela Itália

Veterano em intervenções urbanas, Gravatájá havia participado de outras ações, inclusive em homenagem ao autor. Já Ana Carla é novata nessa atividade. Para disseminar o trabalho de Manoel por cidades italianas, ela conta com uma turma de amigos na qual é a única brasileira. Por isso, prefere fixar em bancos, cafés e outros espaços públicos os versos traduzidos para o italiano e para o inglês. “Há gente conhecendo a poesia dele por conta isso”, orgulha-se ela.

Além de aumentar o contato com a obra do artista e, consequentemente, o apreço por ela, a intervenção busca propiciar momentos de leveza no ambiente urbano. “Muitas vezes, as pessoas estão mau humoradas, veem uma poesia e isso leva mais cor para o dia dela”, diz Ana Carla. Segundo André, o contato com a arte de Manoel pode ser um “esticador de horizontes”, para usar uma expressão do poeta preferidas pelo arte-educador. Com a ajuda de colaboradores, o projeto Manoel nas Ruas já chegou ao Rio de Janeiro, Porto Alegre, Brasília e Campo Grande. E a dupla garante que os versos seguirão esticando horizontes em 2015, transbordando palavras bonitas para além das bibliotecas e das escolas até conquistar as ruas.