Projetos fotográficos revelam as belezas de comunidades nas periferias do Rio e de Salvador

O que a periferia tem? Belezas que merecem ser registradas e difundidas. É o que acreditam jovens moradores de comunidades do Rio e de Salvador que ousaram lançar um novo olhar sobre si mesmos e sobre seu entorno.  Munidos de telefones multifuncionais e com acesso à internet, eles criaram projetos fotográficos para retratar as paisagens e as pessoas da própria vizinhança de suas comunidades, de um jeito positivo que quase nunca sai no jornal.

Criado em Salvador, projeto mostra a beleza fora pontos turísticos

Na Zona Norte do Rio de Janeiro, moradores do Complexo do Alemão fundaram, há quatro anos, o Foto Clube Alemão. Aos sábados, às três da tarde, os interessados se reúnem no início da Avenida Central e decidem juntos qual será o trajeto do dia. Pelos morros, becos e escadinhas das favelas, a turma mira suas lentes, faz fotos e, mais tarde, compartilha o material nas redes sociais. Quem tem câmera ou smartphone divide com os que não têm e ninguém fica sem dar seus cliques. “Nosso grupo mistura amadores e profissionais, gente com e sem equipamento. Todo mundo troca experiências e é bem rico”, diz Betinho Casas Novas, de 24 anos, frequentador assíduo do Foto Clube.

Há dois anos, as particularidades do bairro Sussuarana, na periferia de Salvador, também são reveladas por fotógrafos locais. O projeto Postais da Periferia surgiu para dar visibilidade a localidades que não aparecem nos tradicionais cartões postais da cidade,

Personagens do Alemão pela lente dos próprios moradores

que costumam estampar pontos turísticos conhecidos, como o Pelourinho e o Farol da Barra. Todo mundo pode tirar fotos da comunidade e enviá-las por e-mail para o grupo de comunicação comunitária Mídia Periférica. As imagens são postadas no perfil do Facebook e amplamente compartilhadas.

Por décadas a imagem das periferias tem sido associada à violência e à falta de infraestrutura, o que contribui para estigmatizar seus habitantes. Projetos fotográficos criados por gente da própria comunidade visam

virar este jogo. Eles acreditam que trazer à tona  as qualidades de suas vizinhanças é um passo para elevar a autoestima de quem vive nelas. “Assim, quando ouvir alguém dizer Sussuaruna é um lugar feio ou violento, o morador poderá rebater: ‘Há tanta beleza na minha comunidade; senhoras tricotando, crianças jogando futebol no meio da rua, o por do sol que vejo e me deixa feliz’”, resume Enderson Araújo, de 22 anos, idealizador do Postais da Periferia.