10 casos famosos de notícias falsas na história
O 1º de abril rende muitas pegadinhas inofensivas. Mas quando as mentiras tomam proporções em massa, as consequências podem ser grandes – e severas
Boatos causam problemas há séculos. O problema de antigamente é que não havia internet e outros meios acessíveis para as pessoas checarem os fatos em outras fontes. E, ironicamente, o problema atual é justamente a internet. “Hoje, com as redes sociais, uma notícia pode se espalhar muito rapidamente e se tornar a verdade sem ser a verdade”, aponta Duília de Mello, astrônoma brasileira que colabora com a NASA, em entrevista ao Catraca Livre.
Desde a descoberta de vida na Lua até o caso do “chupa-cu” de Goianinha, relembre alguns casos famosos em que as mentiras se propagaram em grande escala:
1. A “Guerra dos Mundos”
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Uma das histórias falsas mais conhecidas é da “Guerra dos Mundos”. Em 1938, na véspera do Dia das Bruxas, o ator, diretor e produtor americano Orson Welles fez um programa de rádio em que dramatizou uma invasão alienígena na Terra, com direito a gritos desesperados ao fundo. O interessante desse episódio não é só a pegadinha em si, mas também a sua repercussão – sim, é provável que você tenha escutado uma versão um tanto exagerada do que realmente aconteceu.
Diz-se que ao ouvirem a transmissão de Welles, muitos nova-iorquinos se desesperaram a ponto de deixarem as suas casas. Multidões em pânico teriam tomado as ruas. Porém, segundo uma biografia de Ben Gross, editor de rádio do New York Daily News, as ruas estavam praticamente desertas naquela noite. E parece que os rumores sobre as pessoas pulando de prédios e tendo colapsos nervosos também não procedem; pelo menos é o que verificaram os analistas do Princeton’s Office of Radio Research. As informações são do The Telegraph.
2. Vida na Lua
Atualmente, os cientistas pesquisam a possibilidade de Europa, uma das luas de Júpiter, ter vida. Mas em 1835, muita gente acreditou que os alienígenas estavam mais próximos da Terra: no nosso próprio satélite natural.
A culpa disso foi uma série de seis artigos publicados no jornal americano The Sun. A descoberta foi falsamente atribuída ao astrônomo John Herschel. E segundo o hoaxes.org, que registra boatos famosos da história, ele não ficou nem um pouco feliz com isso. Em uma carta a sua tia, Caroline Herschel – que também era astrônoma –, o cientista disse: “eu foi importunado em todos os quarteirões com aquele boato ridículo sobre a Lua!”. Ainda de acordo com o site, as pessoas se dividiram entre animadas e incrédulas. O furor foi tanto que outros jornais da época começaram a reproduzir a notícia falsa. Eventualmente, o verdadeiro autor confessou a mentira: Richard Adams Locke, que na época, era repórter do The Sun.
3. Escola Base
Um caso de notícia falsa famoso no Brasil é o da Escola Base, de 1994. A escola particular na capital paulista foi cenário de um suposto caso de abuso sexual contra alunos de quatro anos. Os proprietários Icushiro Shimada e Maria Aparecida Shimada foram acusados pela imprensa de praticarem o crime. O problema é que os jornalistas reproduziram informações erradas cedidas pela polícia.
A história repercutiu em veículos grandes, como Folha de S.Paulo, Estado de São Paulo, Globo, SBT, Veja e Record. Por causa da revolta que a notícia causou, a escola teve de fechar. O inquérito acabou sendo arquivado por falta de provas. Os donos da Escola Base entraram na Justiça com processos contra a imprensa, e o caso até rendeu um livro-reportagem, “Caso Escola Base: os abusos da imprensa”. Alex Ribeiro, o autor, ganhou o Prêmio Jabuti por esse trabalho.
4. O “chupa-cu” de Goianinha
Em fevereiro de 2017, a internet viu um novo personagem surgir: o chupa-cu. Nas redes sociais, circularam boatos sobre supostas aparições da criatura fictícia em Goianinha, no Rio Grande do Norte. Houve quem se empenhasse em fazer montagens de veículos famosos dando a notícia. A mentira se alastrou com facilidade no Twitter. No entanto, enquanto muitas pessoas logo entenderam de que era uma brincadeira, outras ficaram bem assustadas e confusas. O BuzzFeed conseguiu encontrar o autor do monstro, que havia criado um perfil falso imitando um veículo jornalístico para disseminar a mentira.
5. O “bebê diabo”
Anos antes do chupa-cu integrar o nosso “folclore virtual”, a cidade de São Bernardo do Campo, em São Paulo, viu nascer o “bebê diabo”. Ou não.
A história saiu no Notícias Populares em 11 de maio de 1975. A capa do jornal prometia um “bebê com chifres, rabo e falando”. A edição se esgotou, e a redação produziu mais reportagens sobre o assunto nos meses seguintes.
Uma matéria da Folha de S.Paulo explica o que está por trás da história: o repórter Marco Antônio Montadon havia ido a um hospital no ABC Paulista para confirmar o nascimento de uma criança com prolongamento no cóccix e duas saliências na testa. Os problemas foram solucionados com uma cirurgia na própria maternidade. Por achar que o assunto não valia uma reportagem, o jornalista acabou fazendo uma crônica sobrenatural despretensiosa sobre o assunto – e foi esse texto que acabou sendo publicado.
6. O “boimate”
A revista americana New Scientist publicou uma nota no dia 1º de abril de 1983 – uma data já sugestiva – que dizia que cientistas alemães haviam cruzado células de tomate com células bovinas. Sim, era só uma brincadeira; o texto até fazia piadas sutis com as redes McDonald’s e Wimpy’s. Porém, a revista Veja reproduziu a história sobre o falso híbrido. A história logo foi desmentida; mas o “boimate” ficou para a história como uma das maiores pérolas do jornalismo, sendo lembrada até internacionalmente.
7. Gugu e a entrevista com o PCC
Em 7 de setembro de 2003, o programa “Domingo Legal”, do SBT, exibiu uma falsa entrevista com dois integrantes do PCC, facção criminosa. Usando os codinomes “Alfa” e “Beta”, a dupla fez ameaças de morte a vários famosos, incluindo o padre Marcelo Rossi, o vice-prefeito de São Paulo, Hélio Bicudo, e o apresentador de TV José Luiz Datena.
A polícia investigou a gravação. Com depoimentos de pessoas que estavam envolvidas na produção do programa, conseguiu identificar os verdadeiros “Alfa” e “Beta”. Dias depois, o apresentador Gugu Liberato pediu desculpas pela entrevista – especialmente pelas ameaças nelas –, e disse que havia confiado no jornalista encarregado da reportagem. Por determinação da Justiça Federal, o “Domingo Legal” não foi ao ar no dia 21 de setembro daquele ano. As informações são do Folha de S.Paulo.
8. A falsa morte de Britney Spears
Talvez você já tenha procurado por algum artista no Google e tenha se deparado com uma sugestão de pesquisa que completava como “[fulano] morreu” – apenas para dar um susto momentâneo, já que na grande maioria dos casos, nada aconteceu com o artista. Os fãs de Britney Spears passaram por uma situação semelhante em 2001, quando a BBC teria dito que a cantora pop havia falecido.
Na realidade, o site que divulgou a notícia não era o da BBC, e sim uma cópia bem convincente dele. Segundo o The Guardian, o texto ainda fazia referências à “Hit Me Baby One More Time”, uma das músicas mais famosas de Britney, evidenciando de que era tudo uma farsa.
9. As fadas de Cottingley
The Cottingley Fairies brought into the discussion about fake and real by @johnhdunning however they proved as fakes pic.twitter.com/Mdh9aJqSrj
— PhotographersGallery (@TPGallery) 11 de fevereiro de 2017
No começo do século XX, quando as câmeras fotográficas não eram tão eficientes e as pessoas em geral não eram tão céticas, duas garotas conseguiram enganar muitos adultos com um falso registro de fadas.
Elsie Wright e Frances Griffiths, duas primas de Cotingley, na Inglaterra, fizeram cinco fotos em que as criaturas mágicas apareciam dançando. O pai de Elsie não acreditou que elas fossem reais; mas sua esposa, sim. As imagens acabaram se tornando públicas, e muita gente quis investigá-las para saber se eram verdadeiras. O próprio Sir Arthur Conan Doyle, autor de “Sherlock Holmes”, as defendeu em um artigo da revista The Strand Magazine como autênticas.
Foi só em 1980 que Elsie e Frances admitiram que haviam mentido. Segundo o The Telegraph, Frances ainda disse sobre uma das fotos: “não sei como as pessoas poderiam acreditar que eram fadas reais”. No entanto, elas disseram que só as quatro primeiras imagens eram falsas, e juraram até a sua morte de que a quinta era real.
10. Os círculos de Douglas Bower e David Chorley
Sabe aqueles círculos misteriosos que já apareceram em diversas plantações ao redor do mundo? Pelo menos parte deles a gente sabe de onde vieram (não, não foi de alienígenas).
Douglas Bower e David Chorley admitiram que usavam uma tábua de madeira, corda, um boné e arame para ajudá-los a fazer traços bem retos nos terrenos. Eles desenharam cerca de 200 círculos entre 1978 e 1991, ano em que confessaram a farsa ao jornal Today. A dupla até mostrou a um grupo de jornalistas como é que faziam as formas:
Já as centenas de outros círculos que já apareceram ao redor do mundo podem ter sido feitas por outros fãs de pegadinhas. Ou por alienígenas mesmo.