A etiqueta

Por Vitor Fernando, consultor de moda do Vitrine Catraca Livre

Quando pensei em escrever sobre etiqueta, minha intenção era falar sobre grandes casas de moda, mas etiqueta… Etiqueta pode ser sobre comportamento, a etiqueta social ou aquela que pinica no pescoço e que exibe uma marca.

O primeiro costureiro a etiquetar suas criações foi Charles Frederick Worth, no século 19. A etiqueta carregava seu nome e marcava uma peça como propriedade da Casa Worth, ou seja, mesmo que um cliente comprasse seu vestido, ele continuaria a ser reconhecido como próprio da marca. Para entender essa lógica, basta reconhecer que não criamos aquilo, apenas adquirimos de seu dono, o que nos faz coproprietários, pois, mesmo nosso, ainda “é de tal marca”. A típica resposta da típica pergunta de tapete vermelho: “De quem é seu vestido?”.

É compreensível que carregamos na roupa uma identidade alheia a qual nos conformamos e isso não é ruim, visto que, ao coletar diversas dessas identidades, cria-se uma individualidade, ao mesmo tempo que insere o individuo em diversos grupos. Então a etiqueta carrega características as quais possibilitam reconhecer tal coisa como de determinado grupo. Elas são traços, desenhos, estilos, estéticas, etc. Identificar-se tem dois motivos básicos: desejo, porque se quer associar com aquelas pessoas e o sujeito se propõe a isso; e cultura, a qual reúne as vivências do sujeito e cria a possibilidade de interesse por aquilo, uma tendência.

Já a etiqueta social é sobre comportamento, boas maneiras, moral e ética. Regras de bons costumes datam desde a Idade Antiga e existem até hoje – relativamente adequadas ao tempo -, não com a cordialidade que se pedia, mas elas estão ali: cumprimentos, apresentações, agradecimentos, sentar-se à mesa, vestir-se elegantemente. A etiqueta que usamos no Brasil é de origem europeia, assim como muitos costumes e moda – assunto para um próximo texto. A etiqueta na vestimenta acontece frequentemente quando há um uniforme ou traje para determinada situação, como terno e gravata é próprio a um advogado em atividade.

Se existem boas maneiras de se vestir, deveriam existir boas maneiras de consumir. Não é novidade a preocupação com os excessos de hoje, especialmente os que pairam sobre conscientização social. O consumo desenfreado é um grande problema da sociedade contemporânea, resultado dos tempos modernos e a industrialização. Se hoje consumimos, não são poucas as vezes que o fazemos sem necessidade. É preciso ter mais uma peça no guarda-roupa e é aqui onde se encaixa a identificação por desejo, o consumo por status e a etiqueta fala mais alto.

Por outro lado, a etiqueta pode sim carregar consciência social. Muitas marcas trabalham com mão de obra regularizada, matérias primas ecológicas, reciclagem, são contra o consumismo e isso se torna símbolo daquele nome. No Vitrine Catraca Livre, por exemplo, você pode conferir as peças do Ateliê Catarina, que reaproveita livros e os transforma em bolsas e carteiras.

De qualquer forma, é importante saber quais são esses símbolos, assim como o nome de seu dono, para não cair em hipocrisia. Você sabe exatamente qual marca está usando? Quão regrado é teu consumo? Você tem etiqueta ou corta todas?