‘Ainda Estou Aqui’: Fernanda Torres brilha em drama histórico; veja 7 pontos fundamentais do filme
O filme, que estreia em 7 de novembro nos cinemas brasileiros, explora o impacto da ditadura na família Paiva, destacando a luta de Eunice por justiça
O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, inicia-se com uma sequência poética que apresenta Eunice Paiva, vivida por Fernanda Torres, banhando-se no mar enquanto contempla o horizonte do Rio de Janeiro.
A calmaria e a beleza da cena, que evocam uma sensação de liberdade, são interrompidas pelo ruído de um helicóptero, uma presença discreta, mas significativa, que antecipa o clima de opressão que dominará a narrativa.
A câmera passeia pelos outros membros da família Paiva, registrando momentos de lazer e afeto, capturando com sutileza a alegria que permeia suas vidas antes da repressão. Essa introdução, sofisticadamente construída, serve para criar um contraste que se torna cada vez mais evidente à medida que a trama avança.
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Um Brasil sob repressão
Situado nos anos 70, um pouco depois do início da ditadura militar em 1964, o filme consegue resgatar, com autenticidade impressionante, a estética, a atmosfera e a vivência da época.
O uso do filtro sépia e as cores quentes da fotografia evocam a nostalgia do período, enquanto a direção de arte cuida para recriar os detalhes do cotidiano: os objetos, as roupas, os móveis e até as músicas que embalam as cenas remetem fielmente àquela década.
Walter Salles faz um trabalho cuidadoso para equilibrar a leveza dos momentos familiares com o peso crescente da repressão política, utilizando a narrativa visual para intensificar a transição de um ambiente de aparente normalidade para um contexto de medo e incerteza.
O ponto de ruptura
A abordagem de Salles é mais contida, optando por uma dramaturgia sóbria que evita o melodrama, mas carrega um enorme componente emocional e político. A tensão no filme cresce de forma gradual, acompanhando as mudanças na vida dos Paiva com a ausência de Rubens, interpretado por Selton Mello.
A cena em que os agentes da ditadura invadem a casa dos Paiva é especialmente marcante pela forma direta e quase documental com que é filmada.
Sem música para suavizar o impacto, a brutalidade do momento é apresentada em toda sua crueza: a abordagem inicial com a empregada, a invasão abrupta no escritório de Rubens e a ordem arbitrária para que ele fosse prestar depoimento. Rubens aceita ir, mas esse ato de aceitação prenuncia a tragédia, pois a partir desse momento ele nunca mais voltará para casa.
A luta de Eunice
A partir daí, o cotidiano dos Paiva se transforma, e o que antes eram tardes ensolaradas na praia e almoços alegres em família, torna-se uma luta constante pela sobrevivência e pela preservação da memória de Rubens. Fernanda Torres, no papel de Eunice, entrega uma performance marcada pela força contida e pela intensidade silenciosa.
Sua personagem enfrenta os desafios com uma coragem que não é gritante, mas perceptível em cada gesto, em cada olhar. Ao ser levada para interrogatório com a filha, Eliana (Luiza Kosovski e Marjorie Estiano), e passar dias presa, Eunice é forçada a enfrentar a brutalidade do regime, e a atuação de Torres destaca o impacto psicológico da tortura e da constante ameaça.
Resiliência e afeto em meio à dor
As cenas mais tocantes do filme residem na simplicidade dos momentos de afeto, que ganham um significado especial diante das dificuldades.
A dança da família ao som de “Take Me Back to Piauí”, de Juca Chaves, e a foto tirada na praia, que se tornaria um dos últimos registros de Rubens com os seus, funcionam como símbolos de resistência emocional, ilustrando a capacidade dos Paiva de se manterem unidos e encontrarem alegria em meio à dor.
Esses instantes são contrapostos com as sequências mais duras, como o banho de Eunice após ser libertada, quando a câmera captura não apenas seu corpo machucado, mas também a expressão de exaustão emocional de uma mulher que foi levada ao limite, mas que se recusa a ceder.
Mais do que uma história política
“Ainda Estou Aqui” não é um filme que se limita a narrar os horrores da ditadura; ele explora o impacto humano e as cicatrizes que ficam, sendo antes de tudo uma história sobre memória, resiliência e afeto.
Salles evita simplificações e maniqueísmos, escolhendo construir uma narrativa que valoriza a humanidade dos personagens. A opção de retratar os momentos de felicidade com a mesma importância que os de dor ressalta a complexidade da experiência vivida sob o regime militar.
A montagem alterna passado e presente, construindo um elo entre a nostalgia das lembranças e a dureza dos fatos, reforçando que a luta de Eunice não é apenas para descobrir o destino de seu marido, mas também para preservar a identidade e a história de sua família.
A atuação impecável de Fernanda Torres
Com uma atuação magistral de Fernanda Torres, que domina cada cena com uma presença marcante e uma expressão muitas vezes silenciosa, mas poderosa, o filme torna-se um tributo à força das mulheres que resistiram à repressão e lutaram pela justiça.
“Ainda Estou Aqui” é, assim, mais do que um relato histórico; é uma obra que convida o espectador a refletir sobre a importância da memória e da luta por direitos, sem perder de vista a beleza das relações humanas e a esperança que se mantém viva mesmo nos tempos mais sombrios.
O elenco
O elenco de Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, é estrelado por grandes nomes do cinema brasileiro e traz uma interpretação marcante de Fernanda Montenegro no papel de Eunice Paiva, retratando a fase madura e resiliente da personagem.
Fernanda Torres interpreta Eunice na juventude, mostrando a força e vulnerabilidade da protagonista em momentos críticos. Selton Mello assume o papel de Rubens Paiva, o marido de Eunice, deputado federal desaparecido pela ditadura, oferecendo uma performance sensível e comovente.
Maeve Jinkings interpreta Dalva Gasparian, amiga e confidente de Eunice, enquanto Humberto Carrão vive Félix, figura que simboliza a opressão e vigilância da ditdura militar. Carla Ribas interpreta Martha. Dan Stulbach dá vida a Baby Bocayuva, outro amigo próximo da família Paiva, contribuindo para o retrato da rede de apoio que Eunice construiu.
Valentina Herszage aparece como Veroca na juventude, enquanto Maria Manoella interpreta Veroca na fase adulta, ambas representando a filha de Eunice. O elenco jovem é complementado por Bárbara Luz como Nalu jovem e Luiza Kosovski como Eliana jovem.
Já as fases adultas de Eliana e Nalu são vividas por Marjorie Estiano e Gabriela Carneiro da Cunha, respectivamente. Guilherme Silveira e Antonio Saboia assumem a persona de Marcelo, o único filho de Eunice, em diferentes idades.
Outros personagens são retratados com precisão por nomes como Pri Helena (Maria José), Charles Fricks (Fernando Gasparian), Luana Nastas (Helena Gasparian), Isadora Ruppert (Laura Gasparian), Camila Márdila (Dalal Achcar), Daniel Dantas (Raul Ryff), e Helena Albergaria (Beatriz Ryff).