Artista seminua faz performance polêmica para expor os efeitos devastadores das cantadas de rua

08/12/2015 09:54 / Atualizado em 07/05/2020 01:35

Na vitrine de uma galeria no distrito de Mission, em São Francisco, EUA, a artista performática Mirabelle Jones chamou atenção com uma apresentação bastante inusitada. Por oito horas ininterruptas, ela andou sem parar usando nada além de calcinha e sutiã nudes. No espaço diminuto, havia lâminas de barbear, balões pendurados no teto e frases que as mulheres normalmente ouvem como cantadas nas ruas estampadas nas paredes e também sendo reproduzidas em áudio.

A jovem que trabalha em uma ONG de combate ao assédio, teve a ideia da performance após entrevistar centenas de mulheres a respeito do tema e perceber que todas elas tinham um sentimento em comum ao passar pela situação: medo.

Com isso, o objetivo da apresentação, foi mudar o que as pessoas compreendem como ‘cantada’ mostrando que o ato vai muito além de ouvir um simples ‘gracejo’ na rua. Mirabelle traduziu em sua apresentação o medo de ouvir palavras rudes ao sair de casa, de sofrer algum tipo de violência, de ser seguida por algum estranho na rua e de se sentir exposta.

“Havia um certo número de homens que, atraídos pela minha falta de vestuário, que ficaram me olhando. Quando perceberam através do loop de áudio e pistas visuais que eles estavam assistindo uma performance sobre cantadas, muitos se sentiram desconfortáveis ​​e foram embora”, disse a artista em um comunicado após a performance.

Em seu blog, Mirabelle afirmou que a apresentação só aumentou sua convicção de que a consciência sobre assédio de rua precisa ser levantada e comentou a respeito do que observou em vários homens enquanto esteve na vitrine:

“Um homem ficou lambendo os lábios para mim por uns dez minutos. Outro grupo de homens apontaram, riram e fizeram comentários sobre o meu corpo. Houve vários grupos de homens que vieram e discutiram uns com os outros na calçada sobre se uma mulher tinha ou não o direito de se opor às cantadas … E ainda há o fato de eu ter ouvido ao menos três cantadas no caminho para a performance”, declarou.

Mirabelle ainda vai além ao dizer que quando as pessoas tentam classificar as cantadas como inofensivas ou minimizá-las dizendo que se tratam de ‘elogios’, isso apenas dificulta que as mulheres procurem ajuda por medo de serem responsabilizadas ou constrangidas.