Conheça Dostoiévski, o escritor russo censurado na Itália por causa da guerra com a Ucrânia
Dostoiévski é considerado um dos maiores escritores e pensadores do mundo e teve aula sobre ele censurada numa universidade em Milão por causa da guerra
A Universidade Bicocca, em Milão, na Itália, cancelou um curso livre e gratuito sobre a obra do escritor russo Fiódor Dostoiévski por causa da guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em resposta a esta decisão, o professor Paolo Nori, que ministra a aula foi as redes sociais acusando a instituição de “censura” e o caso viralizou no mundo todo.
“O que está acontecendo na Ucrânia é uma coisa horrível e eu sinto vontade de chorar só de pensar nisso”, declarou Paolo Nori, e ainda disse que “o que está acontecendo na Itália hoje é ridículo: censurar um curso é ridículo”.
O professor, que é pesquisador da obra de Dostoiévski postou um vídeo no Instagram falando sobre o ocorrido. “É uma falha ser um russo que foi condenado à morte quando estava vivo em 1849 porque tinha lido uma coisa proibida”, declarou.
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A repercussão do caso nas redes sociais fez com que a universidade voltasse atrás. Em comunicado, a instituição disse que “está aberta ao diálogo e à escuta, mesmo neste período muito difícil marcado pela escalada do conflito” entre Rússia e Ucrânia e afirmou que o curso, intitulado “Entre a escrita”, cujo objetivo é “desenvolver competências transversais através das formas de escrever”, está mantido. Além disso, o reitor da Universidade se reunirá com Paolo Nori semana que vem “para um momento de reflexão”.
Dostoiévski é considerado um dos maiores escritores e pensadores da história.
“Chamam-me de psicólogo: não é verdade. Sou apenas realista no sentido mais elevado. Ou seja, retrato todas as profundezas da alma humana”. O pensamento do escritor russo Fiódor Dostoiévski (nascido em 11 de novembro de 1821), encontrado em seu caderno de notas de 1880, traduz as buscas desse que é considerado um dos principais autores e pensadores do século 19. Ele morreu em 1881.
O escritor que viveu no século XIX na Rússia czarista foi condenado à morte em 16 de novembro de 1849 por supostamente ter lido trabalhos clandestinos de Vissarion Grigorievich Bielínski, um ensaísta e filósofo, autor da peça de teatro Dmitri Kalinin, que fazia críticas ao estado de servidão medieval pelo qual passava uma parte do país naquele momento.
Ele vai preso e é condenado à morte, mas no último momento, teve a sua pena revertida em regime de trabalhos forçados na companhia de criminosos comuns, na Siberia, onde passou 5 anos. Depois, ainda nas terras geladas, ele fica mais cinco anos como soldado raso em um batalhão siberiano, cumprindo o restante da pena. Nesse período, ele se casa com sua primeira esposa, Maria Issáievna.
Separamos aqui algumas obras de Dostoiévski para você conhecer
Crime e Castigo
Crime e Castigo é o romance policial que consagrou Dostoiévski como escritor. O protagonista da obra é um tipo dominado pelas ideias niilistas.
Rodión Raskôlnikov é um jovem moralmente conturbado, que se permite derramar “sangue segundo a consciência”. “Sou uma criatura trêmula ou tenho o direito?”, ele se pergunta para tentar descobrir se é “um piolho, como todo mundo, ou um ser humano”. O jovem mata uma velha senhora dona de uma loja de penhor com um machado devido a um experimento moral.
A genialidade da obra se da pois sabemos desde o início quem matou quem, onde, quando, por que e até como. A grande questão do livro é: quais são as consequências existenciais do crime e como conviver com isso?
Os Irmãos Karamázov
Em os Irmãos Karamázov, Dostoiévsky prova que domina a arte de fazer perguntas sobre o certo e o errado melhor do que ninguém. “O que é inferno? Afirmo que é o sofrimento de não ser capaz de amar”, escreveu Dostoiévski na obra que foi seu último e mais perturbador romance, onde ele trata de questões sobre fé, liberdade e família.
Em “Os Irmãos Karamázov”, um romance de enredo policial, Dostoiévski explora diversas faces da ética em uma família russa cheia de problemas. O autor morreu tendo escrito apenas a parte da obra, que estava planejada para ter dois volumes.
O Idiota
Os romances de Dostoiévski são extremamente dramáticos. Então, não espere finais felizes de Hollywood. As camadas mais vulneráveis da sociedade são as que mais fascinam Dostoiévski. Ele dá voz aos pobres, doentes e rejeitados.
Em “O Idiota”, o escritor explora o amor e a compaixão, o orgulho e a vileza, a generosidade e a bondade. “A compaixão é a mais importante e, talvez, a única lei da existência para toda a humanidade”, escreveu Dostoiévski neste romance.