Conheça o ‘Pai da Cannabis’, o cientista que descobriu por que a maconha dá barato

 

Em 1980, uma equipe de investigadores da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo publicou um estudo que deveria mudar a vida de 50 milhões de epiléticos pelo mundo.

As descobertas da investigação, realizada em parceria com a Universidade Hebraica de Jerusalém, em Israel, eram, no mínimo, encorajadoras. Os pesquisadores administraram doses diárias de 300 miligramas de canabidiol, o componente não-psicoativo mais importante da maconha, para um grupo de oito pacientes epiléticos. Quatro meses depois do começo do tratamento, quatro deles pararam de ter convulsões e três outros viram a frequência de seus ataques diminuir.

Parecia promissor, claro. Por muitos motivos, porém, as coisas não caminharam como o esperado.

“E quem se importou com as nossas descobertas? Ninguém!”, me contou o químico búlgaro Raphael Machoulam, franzindo a testa em seu sofá. “E isso apesar de muitos dos pacientes serem crianças que tinham 20, 30, 40 convulsões por dia. E o que eles fizeram? Nada! Por 30 anos, ninguém usou a cannabis para tratar a epilepsia.”

Procurei por Mechoulam por um ano. Como qualquer um interessado no uso médico da cannabis, formei uma imagem mítica dele, uma figura meio Karl Marx ou Syd Barrett, uma mente revolucionária que desafia as convenções de seu tempo e altera, para sempre, nossa percepção do mundo.

Alguns meses atrás, Norton Alberláez, o empresário colombiano que projetou o sistema regulatório de cannabis medicinal no Colorado, nos Estados Unidos, me disse que as investigações do especialista em química orgânica tinham acrescentado um peso fundamental ao seu lobby de regulamentação nas terras norte-americanas. Enquanto isso, Juan Manuel Galán, um senador do Partido Liberal colombiano, me disse em novembro passado que tinha viajado para Jerusalém, onde Mechoulam mora, para encontrar o cientista em seu laboratório a fim de buscar informações para seu projeto de lei que busca legalizar a maconha medicinal – aprovado pelo Senado colombiano em dezembro e a ser debatido pela Câmara dos Representantes em março.

Todo mundo com quem falei sobre o cientista concordava em uma coisa: Mechoulam é o pai da cannabis moderna.

 

O senhor de 85 anos mora numa casa pequena, sóbria mas elegante, no oeste de Jerusalém, onde o prédio de mármore e as árvores no jardim da frente fazem você esquecer que Israel está em alerta militar permanente. Todo dia ele dirige seu Peugeot prata pelos arredores da cidade, onde passou as últimas cinco décadas decifrando os mistérios químicos da maconha, principalmente o modo como o corpo humano interage com os compostos encontrados na planta. ( continue lendo aqui )