Eu, nu

Por: Catraca Livre
Vitor Fernando é consultor de moda do Vitrine Catraca Livre (Foto: Latoya Winnie)
Vitor Fernando é consultor de moda do Vitrine Catraca Livre (Foto: Latoya Winnie)

Por Vitor Fernando, consultor de moda do Vitrine Catraca Livre

Durante muito tempo e ainda hoje, os seres humanos vivem de carregar esse “fardo” como um mal, afinal, por mais que haja a tentativa de se cobrir por completo, como com a burca, a nudez se encontra exatamente presente onde se esconde, ali então se torna um fetiche.

Fetiche, segundo o Dicionário Online Priberam, é “objeto, parte do corpo ou tipo de comportamento que provoca excitação sexual”, ou seja, esconder o corpo induz a uma fetichização do nu.

Existem dois tipos de nu, o parcial e o completo. Ambos têm duas vertentes: uma aceitável e outra inaceitável. Essas vertentes dependem de diversas situações como gênero, espaço, tempo, ocasião, etc. As situações em que se é aceita ou não a nudez é mutável de cultura para cultura. Por exemplo, um homem com o peito à mostra enquanto lava seu carro no jardim em comparação à uma mulher na mesma situação. A mulher comumente seria julgada por imoralidade e desrespeito à comunidade, quando aquilo não tem necessariamente conotação sexual.

“A origem do mundo”, de Gustave Courbet
“A origem do mundo”, de Gustave Courbet

O seio da mulher é costumeiramente escondido e hiper sexualizado. Há até questionamentos sobre a amamentação, símbolo da maternidade: existe lugar apropriado para uma mãe amamentar a criança?

É de se notar que o problema não está contido no nu, mas na forma como o outro percebe e o quanto ele o sexualiza – vide os ditos “nu artístico” e o “nu pornográfico”. Todavia, é compreensível que a nudez e o sexo tenham certa ligação. Por sua vez, o sexo é sujeito a uma extensa problematização, a qual dita quando, como, com quem e por qual motivo ele deve acontecer – assim como a nudez.

Em épocas passadas, era extremamente normal conviver com pessoas num mesmo ambiente sem tomar consciência da falta ou de pouca vestimenta. Não à toa, hoje vemos mulheres que protestam seminuas pelo direito de não terem seus corpos objetificados. São gritos de repulsa sobre o que é natural, mas considerado anormal. É sobre ter controle sobre o próprio corpo e não tê-lo controlado pelo desejo alheio.

A história da moda conta como surgiram taras em partes do corpo como o tornozelo, o colo, os punhos, as costas, ao mesmo tempo em que criou-se a repugnância e o desprezo por essas regiões. Quão sexual é o corpo nu? Quanto ele te incomoda?

PS.: A imagem original da capa não pode ser postada por conter nudez “obscena”.