Juninho Pernambucano revela que foi censurado pela TV Globo
A emissora negou as acusações feitas pelo ex-comentarista esportivo
O ex-jogador de futebol Juninho Pernambucano surpreendeu quando anunciou sua saída do quadro de comentaristas da TV Globo em junho último, às vésperas da Copa do Mundo da Rússia. Agora, meses depois, o artista atribuiu sua saída da emissora à censura. A Globo nega.
Em entrevista ao jornal El Pais Brasil, Pernambucano abriu o jogo, chutou a bola para escanteio, colocou a boca no trombone e falou sobre política e vida pessoal.
No tocante ao seu pedido de demissão das empresas de comunicação do grupo Globo, o ídolo do Vasco, que comentava principalmente no canal fechado SporTV, atribuiu o episódio em que entrou em contradição com diretores da emissora, além de brigas internas que foram desgastando a relação, à decisão de se desligar da TV.
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“Grande parte da imprensa joga contra a evolução do futebol. Eles [jornalistas] precisam da gente, os ex-jogadores, para complementar o que não conseguem enxergar. Fui censurado na Globo por denunciar que tinha setorista vendido, que se envolve com sacanagem. É o setorista que pauta o noticiário, porque cobre perto os jogos e treinamentos. Quando ele se prostitui, fode o ambiente no clube”, iniciou o ex-jogador.
“É preciso combater o que tá errado lá embaixo na cadeia de produção do jornalismo para pautas coisas mais sérias. E aí, em pleno 2018, sofri censura ao vivo na TV. Nenhum jornalista me defendeu. Pelo contrário, ainda fui humilhado pelo Milton Neves [apresentador da Band], que deu uma tuitada me ridicularizando. Se eu fui censurado e ameaçado, significa que toda a imprensa também foi, meu amigo. E ninguém compreendeu isso, talvez por ignorância ou medo de perder o emprego”, completou.
Juninho Pernambucano faz referência a um episódio que aconteceu no final de abril quando, durante programa ao vivo no SporTV, ele fez duras críticas aos jornalistas que cobrem o dia a dia dos clubes. Ainda naquela ocasião, a emissora emitiu uma nota oficial repudiando os comentários do então contratado das empresas Globo.
Juninho fez sua estreia como comentarista esportivo na TV Globo durante a Copa do Mundo de 2014 no Brasil. Assinou um contrato por um curto período, renovou e, em seguida, renovou mais uma vez. Teoricamente, continuaria como funcionário da empresa até o final de 2019, caso tivesse esperado o fim do contrato.
Sobre episódios anteriores de censura dentro da emissora, o ex-atleta afirmou que o que aconteceu neste ano foi o único. No entanto, já há algum tempo ele vinha tendo atritos com outros funcionários, inclusive superiores.
“Briguei com os três principais narradores e o principal repórter da casa. Briga grande, discussão pesada, de apontar o dedo na cara e tudo mais em reuniões. Só não teve as vias de fato. Queria dar minha opinião e não aceitava. Diziam que eu falava muito, que interrompia demais. Balançavam a cabeça achando ruim se eu me alongava no comentário durante a transmissão. Sofria pressão por querer dizer o que penso. Mas me contrataram para dar opinião. Eu criticava quem tivesse que criticar. Enquanto a Globo me deixou trabalhar, fiz minha parte. Saí de consciência limpa. Não vendi minha alma nem meu caráter”, ressaltou.
Democracia e meritocracia
Quando o assunto foi política, Juninho Pernambucano mostrou-se um ferrenho defensor da democracia, reconheceu ser um “machista em desconstrução” e mostrou-se contrário a Jair Bolsonaro (PSL) e à meritocracia.
“Minha consciência política e minha responsabilidade como cidadão se desenvolveram muito mais depois que parei de jogar […] aprendi as coisas lendo, viajando o mundo e observando como tudo funciona para emitir minha opinião”, disse.
Segundo contou, foi sua passagem pela França, onde atuou por alguns anos e tornou-se heptacampeão pelo Lyon, que o “despertou para a política”.
Em relação ao atual momento de polarização vivido pelo país, o ex-jogador criticou o sistema e as classes dominantes, mais abastadas, que “lucram com essa situação caótica”.
“Como o povo está feliz com esse sistema se ainda tem criança morrendo de fome no país, pô? Isso é injusto! A classe mais rica precisa de sensibilidade. Todos nós, brasileiros, gostamos de dinheiro. Mas, quando a ganância cresce demais, a distância para os mais pobres fica muito grande e a violência dispara. A riqueza não pode ficar na mão dos poucos. É egoísmo. E tudo começa na linha de largada. Eu luto para que as oportunidades não fiquem só na mão de quem já tem privilégios. Como vamos falar de meritocracia? Meritocracia existe no esporte, onde treina todo mundo junto e o melhor tem jogar. Mas, num país como o Brasil, não dá pra falar em meritocracia. Uma minoria larga bem à frente e quer exigir que os retardatários sejam alguém na vida. Essa corrida nunca vai ser justa”, afirmou.
Globo negou censura
Em nota enviada ao El País, a TV Globo negou as acusações de censura feitas pelo outra funcionário, Junhinho Pernambucano.
Veja a íntegra do posicionamento da emissora:
Como funcionário do Esporte da Globo, Juninho Pernambucano foi tratado sempre com profissionalismo e respeito, e jamais sofreu qualquer tipo de censura. A nota citada por ele na entrevista ao EL PAÍS e divulgada pela Globo afirmava, sem deixar margem à dúvida, que Juninho tinha direito à sua opinião, que era e continuaria sendo livre. O texto apenas deixava claro que o canal SporTV não concordava com as críticas, as acusações e a generalização feitas pelo então comentarista contra um grupo de profissionais, que incluía seus próprios companheiros de trabalho. E reforçava a confiança nos mais de 30 setoristas que trabalham no Grupo Globo. A nota foi lida ao vivo e diante do próprio Juninho, o que não caracteriza a “covardia” que ele relaciona ao episódio.
Sobre outro episódio citado na entrevista, Juninho Pernambucano relatou, em fevereiro, ter sofrido ameaças de torcedores do Flamengo após uma discussão nas redes sociais. Por isso, pediu para não comentar a final da Taça Guanabara, para a qual estava escalado. Em respeito ao profissional, o pedido foi imediatamente atendido e ele foi retirado da equipe que trabalhou na partida.