Mulher negra resgatada fica receosa em segurar mão de repórter da Globo

Chorando muito, Madalena Silva, que também sofria maus-tratos, repetiu diversas vezes à jornalista que não conseguia pegar em sua mão por ela ser branca

28/04/2022 16:32

Madalena Silva, mulher negra resgatada de trabalho análogo à escravidão, disse à repórter da afiliada da Globo na Bahia, Adriana Oliveira, que temia segurar em sua mão por ela ser uma mulher branca. O momento foi mostrado durante o Bahia Meio Dia e causou comoção nos telespectadores que assistiam a reportagem sobre trabalho escravo na Bahia.

Mulher negra resgatada fica receosa em segurar mão de repórter da Globo
Mulher negra resgatada fica receosa em segurar mão de repórter da Globo - Reprodução/TV Globo

“Fico com receio de pegar na sua mão branca”, desabafou Madalena. “Mas por quê? Tem medo de quê?”, indagou a repórter, estendendo as mãos. “Por que ver a sua mão branca… eu pego e boto a minha em cima da sua e acho feio isso”, explicou ela. “Sua mão é linda, sua cor é linda. Olhe para mim, aqui não tem diferença. O tom é diferente, mas você é mulher, eu sou mulher. Os mesmos direitos e o mesmo respeito que todo mundo tem comigo, tem que ter com você”, destacou a jornalista.

 

Madalena Silva foi resgatada em março de 2021 depois de passar 54 dos 62 anos de vida sendo escravizada por uma família. Ela está morando atualmente na cidade de Lauro de Freitas.

A doméstica não recebia salário, era maltratada e sofria com roubos da filha dos “ex-patrões”, que chegou a realizar empréstimos em seu nome e se apossar de R$ 20 mil sua aposentadoria.

O momento comoveu telespectadores e foi muito comentado nas redes sociais. “Essa matéria da afiliada da Globo na Bahia é mais um soco no estômago. Aliás, todo dia a gente leva uma surra, né”, lamentou um internauta.

Nas redes sociais, Adriana Oliveira contou que o momento foi um dos mais emocionantes de sua carreira como jornalista.

“Ainda tô impactada com o encontro com Dona Madalena. Ela foi vítima de uma violência brutal por 54 dos 62 anos de vida. E dentro de uma casa “de família” foi submetida à condições análoga à escravidão. Ela foi resgatada, em março,por auditores do Ministério do Trabalho. Hoje vivi um dos momentos mais emocionantes nos 27 anos de profissão. Ainda tem muita luta”, escreveu Adriana.