Não diga para meninas que elas serão ‘mulherões’ quando crescerem
Texto escrito por Ana Clara Barbosa e publicado no Superela
Quando eu era criança, escutava de muitos adultos — em sua maioria, homens — que eu me tornaria um daqueles mulherões quando crescesse. A conversa era sempre assim: “Tá crescendo, hein? Vai ficar linda quando for mais velha!” ou algo do tipo. E eu, que me achava feia, tinha inúmeros problemas de autoestima (como eu já disse nesse texto aqui) e torcia para a pré-adolescência acabar logo, via ali uma esperança. Algo do tipo “calma, vai ficar tudo bem em breve”.
E então eu cresci. Passei muito tempo esperando por aquele mulherão chegar. E, conforme minha autoestima foi melhorando, passei a acreditar que eu realmente tinha me tornado uma adulta bonita, aquela lá que os amigos dos meus pais falavam que eu seria um dia. Ficou tudo bem, por um breve período de tempo.
Até que… eu vi o vídeo INCRÍVEL da Nátaly Neri sobre “A mulata que nunca chegou”. Ela aponta que meninas negras passam a infância escutando esse mesmo tipo de comentário e como isso tem uma relação com a sexualização dos nossos corpos. Meu mundo mudou.
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Deixa eu te explicar o porquê…
No vídeo, a Nátaly fala sobre essa vivência dela como mulher negra e como isso fez com que ela passasse boa parte da sua vida torcendo para se tornar o estereótipo da “mulata”, aquela preta com corpão, que é sexy, estilo globeleza, que tá nas poesias, na música, na arte. Eu me identifiquei pela questão da raça, porque foi exatamente por isso que eu esperei por toda a minha vida, sem nem perceber o quanto era nocivo e perigoso.
Aqui no Brasil — e em todos os lugares em que africanos foram escravizados — a mulher negra representa um corpo que pode ser usado por qualquer um, afinal, os brancos são seus donos. Isso se perpetua até hoje nesse tipo de comentário que eu ouvia quando era criança.
Achar a mulher negra com traços finos e pele mais clara sexy não é um elogio.
É uma herança dos tempos em que nós não pertencíamos a nós mesmas. Quando eu percebi isso, senti nojo.
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