No deserto chileno, cientistas testemunharam o nascimento de um sistema solar pela primeira vez

Pesquisadores flagram pela primeira vez o processo de formação planetária ao redor de estrela jovem

21/09/2025 09:36 / Atualizado em 03/10/2025 00:57

O recente avanço na observação astronômica permitiu que, diretamente do deserto de Atacama, fosse registrado um dos eventos mais fundamentais do universo: o início da formação de planetas ao redor de uma estrela jovem. Os pesquisadores conseguiram testemunhar as etapas iniciais desse processo, especialmente em torno da protoestrela HOPS-315, localizada a cerca de 1.300 anos-luz da Terra, oferecendo paralelos importantes com a origem do Sistema Solar terrestre.

Essas observações, feitas com auxílio do telescópio espacial James Webb, permitiram identificar a presença de discos protoplanetários, compostos por gás e poeira, que atuam como berçários naturais para novos planetas. No interior desses discos, condições de temperatura e pressão favorecem a condensação de minerais cristalinos essenciais para o surgimento de corpos sólidos, um mecanismo crucial também para a compreensão da formação da Terra e dos demais planetas rochosos.

Como se formam os planetas em torno de estrelas jovens?

O processo que dá origem a planetas começa em torno das chamadas estrelas-bebê, envoltas em densos discos de material conhecido como discos protoplanetários. Inicialmente, partículas de poeira microscópicas colidem e aderem umas às outras, formando agregados cada vez maiores. Sob a influência da gravidade, essas partículas evoluem para estruturas chamadas planetésimos, que são os blocos primordiais dos futuros planetas.

  • Condensação de minerais: em ambientes de alta temperatura dentro do disco, compostos como o monóxido de silício se solidificam, formando minerais cristalinos.
  • Aglomeração: os minerais condensados se juntam, tornando-se cada vez mais massivos e atraindo outros materiais ao redor.
  • Formação dos planetésimos: esses corpos, uma vez suficientemente grandes, passam a atrair ainda mais material, marcando uma nova etapa na construção dos planetas.
O processo que dá origem a planetas começa em torno das chamadas estrelas-bebê – Fonte: (ALMA (ESO / NAOJ / NRAO) / M. McClure et al.)
O processo que dá origem a planetas começa em torno das chamadas estrelas-bebê – Fonte: (ALMA (ESO / NAOJ / NRAO) / M. McClure et al.)

Qual a importância dos discos protoplanetários e dos minerais detectados?

Os discos protoplanetários representam o cenário inicial de todos os sistemas planetários conhecidos. A detecção de minerais cristalinos, como aqueles contendo monóxido de silício, é significativa porque fornece pistas sobre as condições físicas e químicas na época em que planetas começam a se formar. Essas substâncias, além de servirem como tijolos para planetas, também ficam preservadas em meteoritos, que são estudados na Terra para datar a formação do próprio Sistema Solar.

O reconhecimento desses minerais na vizinhança de HOPS-315 sugere que um processo similar ocorre tanto neste sistema estelar jovem quanto aconteceu na formação inicial do Sol. Esse paralelo oferece informações valiosas para os cientistas ao comparar a evolução de diferentes sistemas ao longo do tempo cósmico.

Quais perspectivas futuramente se abrem com essas descobertas?

O estudo dessas estruturas jovens e a detecção de minerais fundamentais indicam avanços significativos na compreensão da formação planetária. A partir desses dados, é possível aprimorar modelos teóricos que explicam a origem de planetas e também identificar condições propícias ao surgimento de sistemas similares ao Solar, em outras regiões da galáxia.

  1. O uso continuado de telescópios como o James Webb permitirá identificar mais sistemas no estágio inicial, ampliando a compreensão sobre a diversidade de ciclos de formação planetária.
  2. O estudo detalhado de meteoritos e materiais preservados pode trazer mais detalhes sobre a cronologia do nascimento do Sistema Solar.
  3. Nessas pesquisas, cientistas conseguem refinar a busca por planetas em zonas habitáveis, aumentando a possibilidade de detectar mundos com potencial para abrigar vida.

Ao observar o nascimento de planetas ao redor de HOPS-315, os astrônomos alcançam uma visão inédita das origens cósmicas que moldam galáxias e sistemas planetários. Esse registro, feito a partir de uma janela privilegiada como o deserto de Atacama, reforça o elo entre conhecimentos antigos sobre o Sistema Solar e a busca por respostas sobre a gênese de exoplanetas em outras partes do universo.