No SBT, Marcão do Povo culpa vítimas de racismo no Carnaval
"Muitos se aproveitam aí, porque tem uma pele escura, uma pele de outra cor e acha que tudo que acontece com ele é motivo de racismo", disse o jornalista
O jornalista Marcão do Povo, apresentador do ‘Primeiro Impacto’, no SBT, culpou, nesta terça-feira, 3, os jovens vítimas de racismo durante o carnaval de São Paulo pelo ocorrido.
Após curtirem mais um dia de Carnaval, dia 24, os jovens Lucas Matheus dos Santos, 24, Wesley Silva do Nascimento, 28 e Peterson Damião dos Santos, 35, foram ao restaurante Esquina da Praça, na República, centro de São Paulo, encontrar um grupo de amigos.
A receptividade foi a pior possível: foram alvo de racismo e agressão por funcionários do estabelecimento e saíram de lá feridos, diretamente para tendas de atendimento de saúde espalhadas pela região.
O SBT já havia veiculado a notícia na segunda-feira, na madrugada desta terça, o assunto voltou a ser tema no ‘Primeiro Impacto’ que reexibiu a reportagem, mas desta vez com comentários do apresentador do programa.
“O caso vai ter que ser investigado pela polícia para saber o que realmente aconteceu, para saber se houve ou não houve essa questão de racismo. Porque uma coisa, gente, tem que ficar bem clara: uma coisa é você chegar num lugar, as vezes se exalta por conta de uma bebida ou outra, mas outra coisa é você dizer que tudo que acontece com você, só porque você acha que você é diferente, somos todos iguais, não tem este negócio”, afirmou Marcão do Povo
O apresentador ainda continuou: “Muitos se aproveitam aí, porque tem uma pele escura, uma pele de outra cor e acha que tudo que acontece com ele é motivo de racismo, então tem que saber diferenciar as coisas. Mas quem tem que investigar é a polícia. Nós entramos em contato com a lanchonete, mas não obtivemos retorno”, disse Marcão do Povo.
Justiça
“O Marcão duvidou, sim, das palavras das vítimas, ele disse: ‘ah vamos ver se a polícia investiga isso’, como se as vitimas tivessem feito alguma coisa que justificasse a ação tão violenta e discriminatória da lanchonete. Eles estão se sentindo pela segunda vez vítimas. Essa situação mostra como os negros precisam lutar diariamente contra o racismo“, afirmou a advogada dos jovens, Carolina Fichmann, que salientou a intenção das vítimas de acionar judicialmente o jornalista em uma ação por danos morais.
Para Fichmann, Marcão “precisa ser responsabilizado por essas palavras. Ele duvidou da palavra das vítimas e isso é muito sério. A lanchonete teve a oportunidade de se manifestar e ela não o fez. Então, quem é ele? Na verdade, Marcão não deveria, em nenhuma hipótese, sobretudo porque ele tem uma responsabilidade social, duvidar da palavra das vítimas. Inclusive, porque ele pode prejudicar o andamento das investigações. As pessoas podem ser influenciadas por esse discurso que está totalmente desvirtuado da realidade”, afirmou a advogada.
A surpresa com a abordagem trazida por Marcão do Povo ao caso foi retratada por Carolina Fichmann. “Essa abordagem do Marcão foi muito triste. Nós acreditamos quando eles fizeram a reportagem que a verdade seria informada. O jovens foram ouvidos, eles disseram a verdade. Nós temos testemunhas e o vídeo do momento que comprovam isso. A expectativa era que o caso deles fosse levado a frente”.
“Ele precisa ter mais responsabilidade com as palavras dele, ele não pode agir desta forma. Ele precisa entender mais o que é o racismo. A forma como ele coloca é muito triste, lastimável e um absurdo. Será que ele vai agora negar a escravidão? Vai negar o Holocausto? O que mais ele vai duvidar?”, questionou a advogada das vítimas Carolina Fichmann.
Vale ressaltar que está não é a primeira vez que Marcão do Povo se envolve em polêmicas acusado de racismo. Em 2017 ele chamou, ao vivo, a funkeira Ludmila de “macaca”.
Entenda o caso
O episódio de racismo começou assim que chegaram ao restaurante: aguardavam pacientemente a entrada, quando perceberam outros clientes passarem à frente sem qualquer objeção.
Revoltados com o que testemunhavam, Lucas, Petterson e Wesley passaram a questionar a cena. Afinal, por que seus amigos, brancos, conseguiram entrar e comer sem qualquer problema, enquanto eles eram obrigados a lidar com aquela situação?’
Diante do episódio, os jovens decidiram, então, registrar o que estavam vivendo. Com uma câmera de celular, passaram a filmar outros clientes entrando no estabelecimento, sem qualquer resistência, enquanto o grupo era barrado pelos funcionários.
Até que, em um certo momento do vídeo, um dos funcionários diz para uma cliente: “Pode entrar, moça, você é branca, segue ele” (sic) o que motiva grande revolta entre o grupo segregado, que, diante do fato, não se cala quanto à arbitrariedade do caso.
Neste momento, um homem mais velho, que se identifica como proprietário do restaurante, surge no vídeo e tenta impedir, de forma violenta, a gravação. Logo depois, o grupo é expulso do restaurante e agredido pelos funcionários do restaurante que arremessam cadeiras e outros objetos contra eles.
Feridos, Peterson e Lucas buscaram socorro no posto médico e, depois, foram atendidos pela tenda de acolhimento da campanha #CarnavalSemAssédio, realizada pela Catraca Livre, em parceria com a prefeitura, a produtora Rua Livre e com apoio da 99.
Racismo, saiba como denunciar
O racismo se faz presente em diferentes esferas da sociedade brasileira. Em tempos de intolerância, inúmeras são as denúncias noticiadas diariamente em todo o país. Por isso, se você sofreu, presenciou ou conhece alguém que tenha passado por isso, não hesite em fazer sua parte.
Para saber a quem procurar e como proceder, confira neste link as informações necessárias.