Nós conversamos com o Juliano Enrico, criador de ‘Irmão do Jorel’
Assista também aos bastidores da animação, cuja terceira temporada contou com participação do Criolo
Todo mundo que tem irmão já deve ter se sentido meio à sombra dele. O garotinho que é o personagem principal de “Irmão do Jorel” sabe bem o que é isso: Jorel é lindo, talentoso e, de quebra, tem um cabelo de dar inveja. Assim, só resta ao protagonista ser conhecido por todos como o Irmão do Jorel.
A série animada brasileira é um dos sucessos do Cartoon Network, e estreia sua terceira temporada no canal no dia 16 de julho. Com uma mistura de aventuras absurdas, referências nostálgicas, conflitos humanos universais e humor para todas as idades, ela tem conquistado um público diverso.
O criador do desenho animado, Juliano Enrico, pegou inspirações na sua própria família para desenvolver a ideia do desenho – ainda que ele não seja um trabalho autobiográfico. O roteirista, quadrinista, diretor e ator faz parte da TV QUASE, e está envolvido em diversos projetos culturais diferentes, como os programas “Choque de Cultura” e “Falha de Cobertura”.
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Nós pudemos conversar com ele sobre o “Irmão do Jorel”, e entender mais sobre o processo de criação da série animada. Confira:
De onde surgiu a ideia de “O Irmão do Jorel”?
Ela veio de uma série de fotografias que eu achei da minha família. Comecei a postar no Fotolog, ficava inventando umas histórias que misturavam realidade com ficção, e o blog foi ficando bem popular. E como eu sou cartunista, comecei a fazer quadrinhos. Disso foi sendo desenvolvido um projeto de série de TV animada.
Você participa de vários projetos diferentes. Como é que você foi parar na parte de animação?
Sempre transitei pela animação, mas escolhi fazer quadrinhos, editar vídeos, dirigir, escrever. Então o processo de transição dos quadrinhos para animação foi meio que natural. Dirigindo o “Irmão do Jorel”, eu edito, escrevo, atuo, desenho… São várias coisas. E acho que é por isso que me interesso tanto por essa função de estar em todas as etapas: por poder jogar junto com a equipe, absorver ideias de todo mundo, de todos os lugares.
Quando você vê os créditos do “Irmão do Jorel”, parece que toda a equipe é multitarefa. Cada um de vocês realiza várias funções, não é?
É, tem muitos roteiristas que acabam virando atores. Temos o elenco fixo, mas de vez em quando eu convido amigos da TV QUASE, que são comediantes – ela é o nosso núcleo criativo de roteiristas. O Daniel Furlan, da TV QUASE, é quem faz a redação final junto comigo. Trabalhamos na TV QUASE há uns 20 anos, já. Desde quando ela era uma revista. Nós temos outros programas, como o “Choque de Cultura”, o “Falha de Cobertura” e o “Último Programa do Mundo”.
Como que o “Irmão do Jorel” chegou ao Cartoon Network?
Eu já estava desenvolvendo uma ideia de série, e aí os consultores internacionais que foram trazidos pela Brazilian TV Producers me deram várias dicas preciosas de como apresentar o projeto. Consegui transformar uma ideia de 200 páginas em duas. Então, o pitching o Cartoon Network foi a grande chance que tive de mostrar meu projeto, o “Irmão do Jorel”.
Você teve de fazer muitas alterações na ideia original?
Engraçado que muita gente pergunta isso, porque estamos acostumados a achar que os canais de TV interferem demais… Mas a interferência do Cartoon Network foi sempre muito positiva. É legal você jogar com o canal e entender quais as necessidades dele, as expectativas, as ideias; no final, somos todos pessoas de conteúdo. Somos criativos.
Creio que as pessoas sentem que o “Irmão do Jorel” é uma obra muito honesta por causa disso. O Cartoon Network soube conduzir tudo de um jeito que a essência do desenho fosse mantida a qualquer custo. Isso é o mais importante.
Os desenhos do Cartoon Network têm muito um DNA próprio, e também costumam atrair públicos diversos. Como que é fazer um desenho que consegue cativar diferentes idades?
Desde do começo do desenvolvimento, o “Irmão do Jorel” foi pensado em ser um programa para toda a família. Mas a frase “programa para toda a família” é tão clichê que eu nem achava que isso de fato iria acontecer.
Ainda assim, são pessoas muito diferentes que me abordam. Elas dizem que assistem ao desenho com o tio, com o sobrinho… E acredito que existem vários níveis de compreensão das piadas e das histórias. Então sempre pensamos: “cara, essa piada aqui é visualmente interessante para quem é criança, mas para o adulto ela vai entrar certinho”. E a gente também não se preocupa muito em agradar um perfil de telespectador. Nós escrevemos para nós mesmos, nós colocamos histórias muito pessoais que são potencializadas para que todos que assistam a elas possam se identificar.
O processo de gravação de vozes originais é uma parte muito importante do desenho. Se você pega personagens como o próprio Irmão do Jorel e a Vovó Juju, percebe que as vozes deles são muito importantes para o personagem. Como é essa relação?
É uma coisa que vem de vários lugares diferentes. A Vovó Juju foi inspirada na minha própria avó, mas tem muitas histórias da avó do Daniel [Furlan] e ela tem muitos trejeitos da mãe da Melissa Garcia, que quem interpreta a personagem. Quando eu estava descobrindo quem seriam os atores que fariam as vozes da família do Irmão do Jorel, não queria mostrar as vozes das pessoas que inspiraram os personagens. Queria que os atores entendessem a personalidade de quem estavam interpretando e traduzissem aquilo, trouxessem as suas próprias experiências.
Quais referências de outras animações você usa para “O Irmão do Jorel”?
Muitas! Sou fascinado por “As Trapalhadas de Flapjack”, “O Laboratório de Dexter”… Toda a linguagem do Cartoon Network e da MTV Brasil me influenciam muito. Também filmes de ação, desses mais canastrões. Vem referência de tudo que é lugar.
Você percebe alguma diferença entre as animações brasileiras e as estrangeiras?
Fazer animação no Brasil é um desafio, mas é assim em qualquer país. O Brasil é uma fonte de ideias inesgotável, e tem um mercado que vem se consolidando. Um tempo atrás, era mais comum você ver séries pré-escolares, e agora já temos produções de comédia com uma linguagem absurda e um ritmo frenético, bem na linha dos desenhos internacionais do Cartoon Network.
A diferença está muito no olhar de quem assiste. Porque o nível das produções está muito competitivo. Inclusive, muitos profissionais brasileiros estão indo trabalhar fora. Isso está sendo até um pouco triste, porque o “Irmão do Jorel” perdeu alguns animadores para o Canadá.
Qual é o maior desafio de fazer animação?
É encontrar esses profissionais de animação. Porque como é um mercado novo, existem animadores que aprenderam o trabalho sozinhos, outros fizeram curso, outros foram para fora e voltaram… Ainda é um desafio encontrar roteiristas de desenho animado, storyboarders de desenho animado, com uma linguagem original própria.
Quando olhamos para a história das séries animadas, conseguimos distinguir várias gerações. Você sente que as animações estão passando por uma mudança?
A função do desenho animado foi mudando com o tempo, e acho que o Cartoon Network é responsável por um estilo de desenho animado muito autoral. Isso faz com que as animações tenham mais a função de fazer você mergulhar em uma história. Elas mostram conflitos humanos, questões atuais; falam de temas importantes para a formação da personalidade de quem assiste. Não só da criança e do adolescente, mas do adulto também.
Hoje o desenho animado não tem tanto o intuito de vender coisas; apesar de isso ser incrível também. O desenho tem um objetivo que vai muito além, que é formar, trazer cultura. Isso é muito valioso. Os desenhos não são muito produtos; são obras. Essa é a grande diferença.
E você acredita que o público tem mudado também? Que hoje tenham mais adultos assistindo a desenhos, por exemplo?
Ainda tem um estigma que desenho animado é coisa de criança. No entanto, é legal que a gente possa surpreender sempre. A animação acaba sendo uma ferramenta inusitada para você contar histórias. Acho que as coisas mais inovadoras que estão acontecendo hoje na comédia e na ação estão nos desenhos animados. Os filmes ainda não alcançaram isso.
E o “Irmão do Jorel” dá tantas possibilidades. É tão legal fazer uma cena em que carros pulam um penhasco e todo mundo está bem; não tem um custo de produção absurdo e risco de vida no set, sabe? Desenho animado é uma forma segura de explodir tudo.
Eu já sei a resposta da pergunta que vou fazer, mas mesmo assim… Nós nunca vamos saber o nome do Irmão do Jorel, certo?
O Irmão do Jorel tem o nome de todo mundo. É o nome que você quiser que ele tenha. Mas pode ser que ele nem tenha um nome. Pode ser que ele não precise de um nome. Pode ser muita coisa… É o “pode ser” que eu acho mais divertido. Nem eu sei o nome dele, na verdade!
Você acompanha as teorias que os fãs fazem sobre o “Irmão do Jorel”?
Ah, isso é ótimo! É muito legal. Adoro todas as teorias.
Você lembra de alguma que tenha chamado a sua atenção?
Eu achei uma teoria interessante dizendo que o Irmão do Jorel se chama “Bem”, porque a Vovó Juju fala “bem”. “Ô, bem”.
Se você pudesse escolher qualquer desenho para fazer um crossover com “O Irmão do Jorel”, qual escolheria?
Eu gostaria muito de um crossover com “Titio Avô”, e um com “Clarêncio, O Otimista”.
“Irmão do Jorel” e a música
Um dos pontos fortes da animação criada por Juliano Enrico é a trilha sonora. Na segunda temporada de “Irmão do Jorel”, o elenco de atores de vozes também ganhou um convidado especial da música brasileira: o rapper Emicida. O sucesso do episódio foi enorme – e, agora, na terceira temporada, quem participa é o cantor e também rapper Criolo.
O episódio “Jardim da Pesada” terá o Irmão do Jorel, a Vovó Juju e os personagens de Emicida – a Batata e o Tomate – cantando diversas músicas juntos. “As batidas quem fez foi o Edson Edy, que é um rapper que trabalha aqui no estúdio, junto com o Binho. O Ruben Feffer, que é o diretor musical de o ‘Irmão do Jorel’, faz todas as trilhas com o Zé Ruivo. Juntos, eles todos fizeram essas batidas sobre as quais cantamos”.
- A nova temporada de “Irmão do Jorel” vai ao ar a partir do dia 16 de julho, de segunda a quinta, às 19h15, no Cartoon Network. Quem quiser se aquecer para a estreia vendo tudo que aconteceu de mais importante na segunda temporada pode acompanhar uma maratona no dia 16, a partir das 8h da manhã na TV e a partir das 14h no canal do YouTube do Cartoon Network.