O que o racismo já causou em minha vida

Texto escrito por Karla Lopes e publicado originalmente no Superela.

Em parceria com Superela
21/03/2017 16:52

Hoje é Dia Internacional contra a Discriminação Racial e, bom, sobre isso eu entendo muito bem. Demorei muito para entender o que o racismo já causou na minha vida e, hoje, olhando pra trás, vejo a quantidade de coisas que já deixei de fazer pelo preconceito dos outros contra a cor da minha pele. Nascer negro é saber que uma hora ou outra alguém vai te olhar diferente por causa da sua cor e te discriminar pelos seus traços. Se bobear, a discriminação já acontece antes mesmo de você sair do berçário.

Na escola as crianças eram cruéis. Falavam da minha boca, do meu cabelo, do meu nariz… Beiçuda, nariz de tomada, cabelo duro e outros “apelidos” eram coisas que eu ouvia praticamente todos os dias. Puxavam meu cabelo e diziam que iriam cortá-lo para ariar as panelas da cantina. Aos 9 anos, implorei para a minha mãe alisar o meu cabelo na esperança de que as provocações racistas parassem – não pararam. Aos 15 anos, procurei uma cirurgiã plástica para saber se havia alguma possibilidade de eu fazer uma redução dos lábios e também afinar o meu nariz. Se eu tivesse condições na época, fatalmente teria feito tais procedimentos.

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Nos relacionamentos, o racismo não é diferente. Vocês com certeza já ouviram falar sobre a solidão da mulher negra (explicamos aqui o que é). Até pouco tempo atrás, eu não entendia muito bem o que era isso, mas bastou ler um pouco sobre o assunto para me reconhecer nessa posição. Ainda na escola, eu não era a escolha dos meninos como par para as festas ou apresentações. Lembro muito bem de quando um me disse que até me escolheria se eu não fosse tão pretinha. Isso me marcou tanto que passei a não quer mais participar das festas escolares.

Outro fato que me causa certo trauma até hoje foi quando, já aos 18 anos, fiquei com um menino em uma boate na minha cidade e o amigo dele disse que ele teria que lavar a boca caso quisesse beijar uma menina bonita na festa. Depois que aconteceu isso comigo, junto aos milhares de relatos sobre racismo que vejo em festas assim, passei a não frequentar mais boates heteros (mesmo sendo). Entro nesses locais e sempre vêm essa história a minha cabeça. Aí o que acontece? Me sinto desconfortável, sufocada e acabo indo embora em menos de 10 minutos de permanência.

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