Qual a importância do casamento de Pepita para comunidade transexual?
Em entrevista à Catraca Livre, a funkeira contou que pretende ter filhos e ampliar a família com Kayque, mas primeiro quer estabilidade financeira
Priscila Nogueira, ou como é mais conhecida, Mulher Pepita, ou apenas Pepita, se casou com dançarino Kayque Nogueira no final de setembro deste ano. A cerimônia teve apenas dez convidados, seguindo os protocolos de segurança da OMS (Organização Mundial da Saúde). Além disso, teve show exclusivo de ninguém menos que o cantor Péricles.
No time de padrinhos, estavam: Bianca Andrade, a Boca Rosa, Matheus Mazzafera, Péricles, a publicitária Samanta Almeida, além da empresária de Pepita, Fátima Pissarra.
Depois de quase um mês da celebração, Pepita concedeu uma entrevista exclusiva à Catraca Livre falando um pouco mais como foi para ela esse grande acontecimento e como isso pode impactar a vida de muitas pessoas da comunidade LGBTQIA+, sobretudo das mulheres transexuais, iguais a ela.
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A importância do casamento
Desde crianças, somos acostumados a ver pessoas heterossexuais e cisgêneras se casando, celebrando votos, e por muito tempo isso foi considerado o “normal”. Felizmente, a realidade vem se transformando. Estamos caminhando para um novo rumo, mais inclusivo, e que nele existam celebrações de pessoas LGBTQIA+.
Apesar das grandes conquistas de união na comunidade LGBT, pessoas trans ainda continuam à margem da sociedade. E, é exatamente por isso, que o casamento da Pepita, uma mulher transexual, pode ser considerado uma revolução e deve sim ser evidenciado e comemorado, não só por ela, mas por todos.
Para Pepita, a importância da cerimônia tem a ver com amor e respeito. “Além da potência do amor, do amor livre, sem barreiras do tradicionalismo e preconceito. Uma forma de mostrar que a única coisa que realmente importa é o amor e respeito”, disse ela.
O casamento dela pode, inclusive, servir de inspiração para outras mulheres trans e travestis. Ela enxerga esse momento como algo muito especial e gratificante, apesar das responsabilidades que carrega.
“Muitas vezes garotas trans vêm me contar que estão em relacionamentos abusivos, mas que amam aquele homem que as maltratam, pois ele as aceitou. Como fazer essas garotas enxergarem que elas não precisam ser aceitas, precisam ser respeitadas, e que elas por si só se bastam?!”, questiona.
Pepita ainda levanta a questão para um assunto muito importante, que é justamente ela servir como inspiração para muitas pessoas da comunidade. “Então, quero que meu casamento sirva de inspiração para mostrar que uma mulher trans pode ser o que ela quiser. Se relacionar, amar, ter filhos, desde que seja com uma pessoa que a respeite e admire, e que lhe ofereça o principal: amor e respeito. Nenhuma mulher deve aceitar qualquer relacionamento só para dizer que tem ou se sentir igual às outras”, fala.
O casamento dos sonhos
O casamento ainda hoje é um sonho para muita gente, mas quando se trata de pessoas LGBTQ+, infelizmente, a realidade de concretizar este desejo nem sempre existe. Mas, para Pepita, felizmente deu muito certo! Ela está há cerca de um ano com o amado e revelou que o pedido foi de surpresa. “Eu não esperava. Foi durante minha celebração de aniversário, em janeiro deste ano”, conta.
A celebração do matrimônio já era algo que ela gostaria de que acontecesse em sua vida e ao encontrar o amor, não hesitou em dizer sim. “Como uma travesti, sempre sonhei e desejei o casamento e me vestir de noiva, e digo para meninas igual a mim: o amor existe . E o que a gente tem que ver e entender o que é o amor, eu amei, eu amo e sempre vou amar”.
A lua de mel teve que ser deixada para depois, afinal Pepita é uma mulher com muitos projetos – ainda bem! “A minha agenda está super atribulada e gosto de me jogar de corpo e alma em meus projetos. Estou gravando um filme e uma série, mas em novembro devo tirar umas férias com meu digníssimo esposo. Penso em Porto de Galinhas, Salvador , Disney. (Risos) Ainda vamos decidir”.
No momento do casório, Pepita caminhou sozinha até o altar, ao som de “Aleluia”, de Leonard Cohen. Kayque a beijou assim que chegou altar, como um sinal de respeito.
Transformando realidades
Pepita começou a carreira sendo uma cantora e dançarina de funk, gênero musical que faz parte da sua carreira até hoje. Mas, a popularização de “gifs” que a internet começou a fazer dela foi uma das grandes viradas para que as pessoas soubessem quem ela é. De início, a joia rara ficou apenas conhecido dentro do meio LGBT, mas o seu carisma fez que essa bolha explodisse e sua palavra chegasse em mais gente.
A estrela de “Cartas Para Pepita” acredita que esse poder que ela tem da informação e do alcance de pessoas, pode sim transformar realidades, assim como a dela também foi. “É uma grande responsabilidade, mas é o que me motiva todos os dias. Tudo acontece primeiro com a letra ‘T’. A letra ‘T’ é a primeira a levar o cuspe e a primeira a levar pedrada. Mesmo assim, nós somos resistência e não desistimos nunca. Eu tenho o maior orgulho de representar o meu arco-íris”, diz.
A “Dinda”, apelido carinhoso dado pelos fãs da cantora, contou que a celebração foi bem aceita pela família de ambos, tanto dela, quanto de seu marido.
“Eu aprendi uma coisa com minha mãe: quando o filho está feliz, a mãe também está. Então foi bem tranquilo por parte da família de ambos. E eu fiquei com um pouco de medo pela família dele ser evangélica, que não aceitassem nosso relacionamento, mas juntos conseguimos chegar em um denominador comum”, falou.
Sobre filhos, Pepita acredita que tudo tem a hora certa e apesar de não vir por agora, o casal pensa em constituir e aumentar a família. “Quero ter filho quando eu puder me dedicar à construção da minha família e a esse momento, que é único e especial. Eu não posso pegar um filho pra mostrar pra mídia que temos um filho. Precisamos nos estabilizar para que possamos dar um futuro maravilhoso e digno para a criança”, finalizou.