Recrutador diz para mulheres não usarem alianças em entrevistas

Um post no LinkedIn vem causando muita polêmica. Bruce Hurwitz, recrutador e consultor de carreira americano, declarou em um texto seu na rede social que mulheres não deveriam usar alianças de casamento durante entrevistas de emprego (especialmente os mais vistosos).

“Quando um homem vê essa aliança, ele imediatamente assume que você é muito vaidosa. Quando a mulher do escritório que tem o maior diamante no dedo vir essa aliança, ela vai perceber que se você for contratada, ela vai ficar em segundo lugar, e, assim, não vai gostar de você. Tire a aliança!”, ele justifica. Bruce garante que esse conselho já deu certo para muitas mulheres que ele já conheceu, e finaliza o texto dizendo: “Se você não tiver [uma aliança], mas tiver assinado um documento de casamento antes da cerimônia, encontre uma maneira de dizer isso aos homens que a entrevistarem. Eles a respeitarão (mulheres também farão isso, mas eu não tenho certeza que esse seja o caso)”.

Essas afirmações renderam muitas críticas. Várias pessoas problematizaram o raciocínio de Bruce, e apontaram nos comentários do artigo que o seu “conselho” é, na verdade, um pensamento muito retrógrado:

Tradução: Isso é uma baboseira ridícula. Como uma ex-Vice-presidente sênior de uma empresa de recrutamento, eu demitiria qualquer firma que desse esse tipo de conselho às candidatas. É parcial. É ridículo e faz as mulheres parecerem mesquinhas e pequenas. Bem-vindo a 2016, senhor Hurwitz, junte-se a nós aqui.
Tradução: “Meu Deus! Fazer julgamentos como os que este artigo sugere é arcaico. Se as pessoas estão medindo talento por um anel, pela fala de um anel ou pelo tamanho dele, esse é um alerta vermelho! Corra e não olhe para trás. Um homem deveria remover a sua aliança de casamento?”
Tradução: “Esse deve ser o artigo mais idiota que eu li no LindkedIn neste ano. Todos que estiverem conduzindo entrevistas dessa maneira, baseando a decisão sobre contratar uma mulher ou não no fato de ela ser casada ou estar noiva não está seguindo boas práticas. É totalmente antiético.”

Em resposta às críticas – e à notoriedade toda do artigo, que acabou repercutindo pela internet -, Bruce escreveu um novo texto, em que fala que homens também não devem usar relógios caros em entrevistas de emprego, pois isso faria os recrutadores pensarem que ele seria um funcionário caro demais para a empresa. Como ele novamente foi muito criticado nos comentários, decidiu escrever um novo post: “Como escrever um artigo viral no LinkedIn“, procurando analisar o porquê de ele ter viralizado com sue primeiro texto. Bruce aponta que apenas disse o que tem observado durante a sua carreira (ou seja, que mulheres que usam alianças em entrevistas não conseguem emprego, segundo ele). “Eu nunca disse, por exemplo, que julgo uma mulher por causa das suas jóias. Eu não faço isso. O meu conselho foi simples e direto – ou, pelo menos, era para ser assim”.

Ele continuou: “No meu texto, falei de mulheres que usam grandes anéis de noivado. Eu usei o diamante hope como um exemplo. Não percebi que para as mulheres, o tamanho da pedra preciosa não importa. Aparentemente, para elas, todos os anéis de noivado são de diamantes hope. E, o mais importante – e espero que eu esteja errado, porque isso seria muito triste -, é que aparentemente, muitas mulheres encontram a sua identidade a partir de seus anéis de noivado. Elas são o que elas usam”. Para completar, disse que muitos dos leitores distorceram o que ele quis dizer, e que não retiraria nada do que disse, porque tem “coragem em suas convicções”.

Muitos veículos internacionais já escreveram textos se opondo a Bruce Hurwitz, como a EsquireBuzzFeed e Mashable. Neste último, a jornalista Andrea Romano observa em tom irônico: “como se a diferença de salários e as precárias condições de licença maternidade já não estivessem impedindo as mulheres de conquistarem os seus objetivos de carreira, agora os seus anéis de noivado podem estar as impedindo de conseguir um emprego”. Segundo um estudo de 2016 da Comissão Econômica das Nações Unidas para a América Latina e o Caribe (CEPAL), na América Latina, as mulheres ainda ganham até 25,6% menos do que seus colegas do sexo masculino em condições semelhantes (embora esse número venha melhorando com o passar dos anos). Já de acordo com a pesquisa International Business Report (IBR) – Women in Business, realizada pela Grant Thornton e divulgada também neste ano, o número de mulheres em cargos de liderança têm crescido nas empresas brasileiras, mas ainda é de 19% – abaixo da média global, 24%.