Usando maquiagem, projeto discute arte e representatividade

Por: Nathalie Provoste

Uma cor nunca permanece como a mesma. O pigmento reage de acordo com o ambiente e iluminação, e a sua interpretação depende da nossa própria história e cultura. Como enxergamos uma cor não depende apenas de nossa visão; nosso olhar também é importante.

O Cores Itinerantes demonstra essa nossa relação com as cores de uma forma mais cotidiana: pela maquiagem. Já comprou o mesmo batom que outra pessoa usa e se surpreendeu com um resultado muito diferente daquele pelo qual estava esperando? Isso acontece porque as tonalidades são modificadas pelos seus arredores. O batom muda ao interagir com a pele em volta dele.

Batom Makena, da Negra Rosa (www.negrarosa.com.br)

O projeto foi criado pela Natália Oliveira Santos, maquiadora, e Marina Saldanha, entusiasta da fotografia. Ambas são estudantes de Artes Visuais. “Percebemos que tanto em nosso curso quanto no campo da maquiagem não havia uma preocupação ou uma percepção de como as cores se comportam e interagem entre elas, como se fossem sempre as mesmas e não se relacionassem umas com as outras”, explicaram as estudantes em entrevista ao Catraca Livre. Por isso, elas fotografam mulheres com diferentes tons de pele usando os mesmos batons, e comparam os resultados.

Para algumas pessoas, a página do Cores Itinerantes serve como um bom guia visual na hora de escolher um batom. O marsala, por exemplo, foi eleito como a cor do ano pela Pantone em 2015 (greenery é a que manda em 2017), mas é uma das tonalidades que mais variam de pessoa para pessoa:

O marsala pode aparecer diferente quanto interage com cores de pele diferentes

Apesar desse seu lado prático, o projeto não pode ser limitado a um blog de maquiagem. Além de lidar com a arte, o Cores Itinerantes também toca em outra discussão importante: a falta de representatividade. “Queremos construir diálogos com quem ainda não está ambientado a esses discursos”, dizem as criadoras.

Algumas marcas já estão investindo em mais opções de cores de bases, corretivos e outros cosméticos que se assemelhem às diferentes cores de pele. Porém, a maior parte do mercado ainda deixa muitas pessoas de fora – especialmente quem tem peles mais escuras. “O mundo da beleza deveria tratar com mais naturalidade a diversidade. Entender as especificidades e nossas singularidades como algo nato da multiplicidade de nossas vivências, e não apenas incluir esse tipo de abordagem em campanhas ‘especiais’, muitas vezes lançadas com a proposta de ser descoladas e divertidas”, consideram Natália e Marina. “Precisam entender que somos plurais por natureza, e não por moda”.

Confira mais imagens do Cores Itinerantes: