Água tratada não chega para 35 milhões de pessoas no Brasil

Problema faz com projetos como o “Água Pura Para Crianças” sejam essenciais no auxílio às famílias de regiões como o Vale do Jequitinhonha

04/12/2018 18:30 / Atualizado em 15/06/2024 23:13

Imagine você, mãe ou pai de dois filhos, vivendo no interior de Minas Gerais e em uma das regiões mais pobres do Brasil. O clima é quase sempre quente e seco e a água seria um ótimo caminho para amenizar a temperatura e contribuir para a saúde dos moradores. Porém, isso acaba se tornando quase um empecilho. A água que você consome vem do mesmo rio que ficam os animais, consequentemente, sem tratamento algum. Seus filhos ficam constantemente doentes e você também. Sua pele fica áspera, cheia de manchas, o tempo todo o corpo dá sinais que nada está bem. Para crianças e adolescentes a situação é pior, afetando, também, o desempenho escolar.

Certamente esta não é a sua realidade. Se você leu isso pensando em como seria ruim passar por essa situação, é porque te gerou empatia — uma das ações necessárias para que algo mude. Compreender isso é entender a vida dos moradores do Vale do Jequitinhonha, nordeste do estado mineiro, uma região formada por 51 municípios. Os habitantes não possuem saneamento básico e tem apenas a opção da água não tratada, ou seja, poluída. Portanto, o líquido em vez de ser fonte de saúde, acaba sendo fonte de doenças.

Antônio Gomes, morador de Chapada do Norte, cidade com menos de 20 mil habitantes, viu seus vizinhos e filhos passarem por isso. Por lá a situação era trágica, como ele mesmo conta. “A criançada adoecia tudo, principalmente na escola, chegava tudo doente. A gente ficava preocupado sem saber qual era doença deles”.

A situação se repetia com a família de Cristina Costa, moradora de Virgem da Lapa, que fica a quase 100km da cidade de Chapada do Norte. “Já chegou muitas vezes o médico pedir para tomar bastante [sic] água, né? Mas a água não tinha condição de ser tomada. A água não dava mesmo. Quando a gente tomava a água suja sentia que tava [sic] arranhando a garganta”. Você pode entender melhor o cenário assistindo ao documentário abaixo:

Essas histórias fazem parte do cotidiano de 35 milhões de pessoas no Brasil que estão sem acesso ao abastecimento de água tratada, segundo Édison Carlos, presidente executivo do Instituto Trata Brasil.

“Historicamente e em todo o mundo, está bem documentado e comprovado que a água potável é um poderoso protetor da saúde das pessoas, pois evita as centenas de tipos de doenças ligadas à água poluída e ao contato com os esgotos. No Brasil, são mais de 400 mil pessoas internadas todos os anos por verminoses e diarreias, especialmente crianças de 0 a 5 anos, além de outros milhares por hepatite A, esquistossomose, leptospirose e as doenças do mosquito Aedes aegypti – dengue, febre chikungunya e Zika vírus.”

A importância do projeto “Água Pura para Crianças” no Vale do Jequitinhonha

O programa Água Pura para Crianças combate essa situação e atende mais de 4 mil famílias de 9 municípios, ou seja, aproximadamente 20 mil beneficiários, desde 2014, na região. Desses, cerca de 6 mil são crianças e adolescentes.

A ação utiliza sachês purificadores que incluem uma mistura química em pó que contém coagulantes, floculantes e um desinfetante. Esses ingredientes são usados com frequência e segurança em estações de tratamento de água potável e na indústria alimentícia. Com apenas um balde, uma colher, um tecido de algodão e um pequeno sachê, qualquer pessoa pode transformar e purificar 10 litros de água suja em 30 minutos. Dessa forma, aumenta-se a qualidade de vida, principalmente de quem mora em comunidades rurais.

As mesmas crianças que antes sofriam com o caos e oscilações constantes de saúde foram favorecidas com o benefício. Os sintomas como dor de barriga e anemia diminuíram quase que pela metade melhorando o desenvolvimento escolar.

O resultado foi comprovado por Antônio, o do início dessa matéria, que sofria ao ver os pequenos doentes. “Graças a Deus as crianças aqui é difícil sair com eles para o posto de saúde ou passar no médico”, conta.

“O governo tem papel importante nesse processo e tem trabalhando para ajudar as comunidades no acesso a água potável. Mas, percebemos que outras iniciativas sociais como as do ChildFund Brasil através de parcerias estratégicas podem acelerar o processo e ajudar as famílias na melhora da qualidade de vida. Também é muito claro o avanço na educação das crianças atendidas, já que a diminuição de doenças causadas pela qualidade da água evita a ausência dos alunos, além de melhorar o rendimento escolar”, afirma Gerson Pacheco, Diretor Nacional do ChildFund Brasil.