A afinação
Guilherme Pelaes, aos 13 anos, não sabia qual era sua vocação, mas foi atrás dela. Descobriu que, em sua cidade, Guapiaçú (SP), seriam oferecidas aulas gratuitas de música. O adolescente se lembrou do violão que tinha em casa e decidiu se inscrever nas aulas do Projeto Guri. Esta iniciativa mudaria sua vida para sempre.
Nas aulas, descobriu sua verdadeira vocação. Após dois anos, um professor sugeriu: “Por que você não tenta o contrabaixo?”. O instrumento grave e difícil de transportar não é o queridinho entre os músicos. Com menos concorrência, ele poderia ter mais chances de sucesso. “Experimentei e falei: ‘É isso o que eu quero’.” Assim, parou com as aulas de violão e violino e passou a se dedicar integralmente ao contrabaixo. Ao mesmo tempo, um grupo de amigos precisava exatamente de um contrabaixista. “Tudo caminhou para me levar para o contrabaixo”, conta.
Apesar da sugestão, nenhum dos professores tocava o instrumento. O próximo passo de Guilherme foi buscar aprendizado.
Ato I
Com a cara e a coragem, ele foi para o Festival Internacional de Verão de Brasília. Lá, o professor italiano Massimo Giorgi, que mal falava português, ao ouvir a escala de cinco notas, disse: “Você não sabe tocar contrabaixo, o que você fez aí não tem nada a ver“. O primeiro “não” da carreira de Guilherme, em vez de desanimá-lo, o motivou ainda mais. Ele estava decidido a provar que o professor estava errado. Durante o festival, fez pela primeira vez uma aula de contrabaixo, que se tornou um intensivo de duas semanas.
Na música, se não treinar todo dia, você não vai longe
Quando voltou para casa, passou a fazer aulas todas as semanas. Como não tinha um contrabaixo, um instrumento caro, ia para a escola praticar até mesmo quando não tinha aulas. “Na música, se não treinar todo dia, você não vai longe.”
No ensino médio, ele decidiu seguir a carreira como musicista e mais uma vez ouviu um “não”. Ao mostrar para seu então professor o repertório que precisava preparar para o vestibular, ouviu: “Não inventa de querer ir pra universidade porque você não vai entrar nunca”. Mais uma vez, o “não” o motivou. Guilherme contatou uma professora da universidade, e ela lhe enviou as partituras por correio. O garoto alugou um contrabaixo para fazer a prova. “Tinham 10 vagas, eu fiquei em décimo.” E foi assim que ele conseguiu fazer o curso superior de bacharel em contrabaixo pela Unesp (Universidade Estadual Paulista).
No terceiro ano da faculdade, prestou uma prova e conseguiu entrar para a Banda Sinfônica Jovem do Estado (EMESP), que oferecia uma bolsa de estudos. Economizou cada centavo recebido, pois tinha um objetivo: seguir carreira de contrabaixista na França.
Ato II
Com a economia da bolsa de estudos, conseguiu fazer um intercâmbio na faculdade. Sua mãe ajudou com a passagem de avião. Ele fez o primeiro semestre em Portugal. Para o segundo, finalmente surgiu uma vaga para estudar na França. Lá, para se manter, tinha apenas o dinheiro economizado. “Eu só estudava. Era do contrabaixo pra cama, da cama pro contrabaixo. Eu tocava de 6 horas a 8 horas por dia, sem contar as aulas presenciais na universidade”.
Como os recursos não eram suficientes, ele precisou arrumar um trabalho que não atrapalhasse os estudos. Por dois anos e meio, atuou como garçom num restaurante francês. “Além de pagar minhas contas, isso me ajudou muito no aprendizado do francês. Foi uma imersão completa não só no idioma, mas na cultura também.“
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Para fazer uma especialização, deixou de ser garçom. Em seguida, começou a dar aulas de contrabaixo para crianças: “É um projeto similar ao Guri, que oferece os instrumentos para as crianças. Eu me candidatei porque tinha o perfil perfeito, a minha bagagem é de coisas coletivas e gratuitas. Foi um ciclo que se fechou”.
Ato III
Todo o esforço de Guilherme foi recompensado: hoje ele é músico e professor no Conservatório de Saint-Omer, no Projet Démos de la Métropole Lilloise e no Projet Orchestre à l’école à Noeux-les-Mines.
O ex-aluno do Projeto Guri já se apresentou em cerca de sete países e fez parcerias com músicos consagrados, como o maestro Jean Claude Casadessus e os pianistas Jen Lichel Dayez e Thomas Ehnco. Num dos concertos, Guilherme conheceu sua futura esposa, que estava na plateia.
O Projeto Guri teve o poder de transformar a vida de Guilherme: “Cada vez que olho para trás e vejo de onde eu saí, penso: ‘Se não fosse esse projeto, 16 anos atrás, eu não estaria aqui’”.
Aplausos
O Projeto Guri, um projeto sociocultural administrado pela Associação Amigos do Guri, desde 1995 oferece cursos gratuitos de educação musical para crianças e adolescentes com idade entre 6 e 18 anos. Mantido pela Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo, o projeto já transformou a vida de mais de 600 mil jovens do Estado de São Paulo.
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