Depois da lama
A vida de quem sofre as consequências do desastre em Mariana (MG)
“Vocês têm que deixar suas casas em cinco minutos”. Este foi o alerta que a Defesa Civil deu à população de Paracatu de Baixo logo depois que o rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, havia atingido Bento Rodrigues. Os dois distritos ficam em Mariana, Minas Gerais, e foram destruídos pela lama naquele dia 5 de novembro de 2015, uma data que jamais será esquecida.
“Vocês têm que deixar suas casas em cinco minutos”
Álbum de memórias: antes e depois da lama do desastre em Mariana
O Catraca Livre esteve em Bento Rodrigues, Paracatu e Gesteira, três dos distritos de Mariana atingidos pelo desastre, para reunir as fotos de antes e depois de famílias que viviam lá. Confira abaixo o link da matéria.
Clique aqui para ver a matéria completa
A carta de um ex-morador afônico sobre a tragédia
Genival Pascoal, de 37 anos, chegou à praça central de Mariana, em Minas Gerais, com uma mochila nas costas e um caderno de capa dura verde em mãos. Há alguns anos, o ex-morador de Bento Rodrigues tem afonia, que corresponde à perda total e temporária da voz, e, por isso, se comunica por meio da escrita até finalizar o tratamento.
Clique aqui para ver a matéria completa
Veja abaixo os vídeos com o depoimento de ex-moradores de Bento Rodrigues
https://www.youtube.com/watch?v=fnVcghdkUMQ
https://www.youtube.com/watch?v=cQ4GELZwlpY
https://www.youtube.com/watch?v=jwv9ToGCvZ8
‘A lama fez uma pneumonia em mim’, diz Dona Geralda, de 79 anos
A geladeira de Dona Geralda já estava cheia de carne para a ceia de Natal quando, no dia 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem de Fundão (Samarco) destruiu a sua casa e todo o distrito de Gesteira, em Mariana (MG), onde vivia ao lado de parte da família.
A senhora de 79 anos e os demais moradores foram salvos por sua filha e a neta, que se dirigiram até o local para avisar o que havia ocorrido. O pequeno distrito mineiro teve suas nove casas, a escola, a Igreja e o mercadinho completamente devastados pela lama poucas horas depois da barragem ter rompido.
“A lama veio e pegou a gente de surpresa. Meu porquinho morreu, meus cachorros, meus gatos morreram tudo. Se não fosse a minha família, a gente ia ter morrido afogado”
Clique aqui para ver a matéria completa
Os livros que resistem em meio à lama do desastre
“Novo Tempo”. Este é o título de um dos livros encontrados ao lado dos escombros da lama na quadra da escola municipal de Paracatu de Baixo, em Mariana (MG).
O distrito foi um dos atingidos pelo rompimento da barragem de Fundão, em 5 de novembro de 2015. Um ano depois do desastre, são poucos os objetos restantes no local e em outros vilarejos próximos, Bento Rodrigues e Gesteira, que também foram devastados.
Entre pedaços de móveis, paredes, roupas, brinquedos e panelas, alguns livros permanecem e resistem em meio à mancha marrom que domina a região. As perdas, nesses casos, são imensuráveis à população, uma vez que a cultura e o patrimônio de determinado lugar têm um significado que vai muito além da questão material.
Os livros que ficaram para trás foram lembrados nos depoimentos de muitos moradores dos três distritos. As pequenas bibliotecas, as carteiras das salas de aula, as estantes repletas de obras de família e o material didático usado nas escolas são algumas das recordações dos antigos residentes da região.
A professora Angélica Peixoto, de Paracatu, relata que, à época da tragédia, ela havia comprado um livro de informática para aprender a mexer no computador. Suas memórias ressurgiram quando, ao caminhar pelo o que restou de sua antiga casa, a mineira reencontrou algumas páginas do manual embaixo da poeira da lama.
Como professora, Angélica teve que enfrentar o desafio diário de conversar sobre o desastre com seus alunos. Ela e todos os alunos foram transferidos para um colégio em Mariana, mas as condições não são as mesmas. “Na escola em Paracatu a gente tinha muito espaço. Aqui [em Mariana] o lugar é bem menor e o material não é o mesmo”, afirma.
A ex-moradora do distrito ressalta, ainda, que as crianças estão preocupadas e com muitas dúvidas. “A gente conversa sobre barragem todos os dias, desde quando aconteceu a tragédia, há um ano. Eles têm questionamentos sobre como vai ser no futuro e até mesmo falar sobre a vida deles lá. Hoje mesmo um deles me falou: o que a gente sente mais falta é de subir em árvores”, conta.
As imagens do fotógrafo Matheus Castro
Com uma câmera em 360º, o Catraca Livre registrou como estão os distritos atingidos pelo rompimento da barragem após um ano. A visão mostra a realidade desses locais por inteiro: os povoados vazios, as casas destruídas, as marcas da lama nas paredes e os resquícios de uma tragédia que jamais será esquecida.