Brechós em alta: busca por desapegos gera crescimento de lojas online inspiradas na moda sustentável

Com objetivo de reduzir o impacto causado pelas fast fashion, comercialização de peças usadas cresce e se torna tendência entre os mais jovens

A moda sustentável está em alta e a procura por lojas e plataformas que disponibilizam peças usadas de qualidade e por um preço acessível também tem aumentado.

De acordo com levantamento realizado pelo Sebrae, baseado em dados da Receita Federal, nos primeiros semestres de 2020 e 2021 houve um aumento de 48,58% na abertura de lojas que comercializam produtos de segunda mão, como os brechós.

A busca pela hashtag “brechó” no Instagram gera cerca de 5,9 milhões de resultados, em que a maioria deles são anúncios para compra de peças e objetos de segunda mão
Créditos: Freepik | Divulgação
A busca pela hashtag “brechó” no Instagram gera cerca de 5,9 milhões de resultados, em que a maioria deles são anúncios para compra de peças e objetos de segunda mão

Esse crescimento se deve ao aumento no interesse, principalmente das jovens, em assuntos relacionados à preservação do meio ambiente e sustentabilidade. De acordo com um estudo feito pela Revista Brasileira de Pesquisas de Marketing, Opinião e Mídia, os principais compradores são do gênero feminino entre 18 e 25 anos.

A mudança dos hábitos dos consumidores tem relação com os impactos socioambientais causados pelas fast fashions, que além de incentivarem o consumismo desenfreado, causam graves danos à sociedade.

Segundo o movimento global Fashion Revolution, é necessário, em média, cerca de 10 mil litros de água para fabricar uma calça jeans e 8 mil para um par de sapatos.

Tendência nas redes sociais

Pautas sobre consumo consciente estão em evidência nas redes sociais, principalmente em relação à venda de roupas usadas. A busca pela hashtag “brechó” no Instagram gera cerca de 5,9 milhões de resultados, em que a maioria deles são anúncios para compra de peças e objetos de segunda mão.

Esse interesse também gerou um outro movimento durante a pandemia: o aumento de lojas online, que antes atendiam presencialmente, migraram para as redes sociais, chamando a atenção dos mais  jovens. Também conhecidos como “desapegos” ou “garimpos”, o formato de vender usados pela plataforma traz produtos de qualidade, por preços acessíveis.

“Em 2016 fundei o brechó de roupas usadas na internet. Um dos principais motivos que me estimularam a abrir o negócio foi difundir a diminuição de consumismo”, explica Gabriela Rodrigues, fundadora do Brechó Cultive-se Vintage, que comercializa usados por meio do Instagram.

Gabriela ressalta que a importância de pensar de forma sustentável vai além da venda de peças usadas e deve também fazer parte de outras ações da loja. “Além do incentivo à compra de usados, que já é uma atitude sustentável, também utilizamos embalagens para envio aos clientes que agridem menos o meio ambiente”, explica.

A moda sustentável também está nos leilões

O crescimento da busca por meios de consumo mais sustentáveis chamou a atenção da leiloeira Tatiana Hisa Sato, que investiu no projeto “Fui mas Voltei”, que visa, por meio da economia circular, reintroduzir peças usadas no mercado.

“O projeto nasceu durante a pandemia. Notamos que durante este período as pessoas e o mundo no geral perceberam o quão poluente somos e como devemos preservar a nossa verdadeira casa, consequentemente a busca por formas de se tornar mais sustentável aumentou e temos visto isso refletido em nossos leilões”, explica a empresária.

“‘Fui mas Voltei’ busca reintegrar essas peças ao mercado evitando assim o desperdício de água, gases tóxicos produzidos pelas tinturas, além de lutar contra a ideia de fast fashion”, Tatiana Hisa Sato, CEO e fundadora da Hisa Leilões
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“‘Fui mas Voltei’ busca reintegrar essas peças ao mercado evitando assim o desperdício de água, gases tóxicos produzidos pelas tinturas, além de lutar contra a ideia de fast fashion”, Tatiana Hisa Sato, CEO e fundadora da Hisa Leilões

CEO e fundadora da empresa Hisa Leilões, Tatiana busca, por meio do projeto, conscientizar as pessoas para que possam evitar o descarte desnecessário de uma peça, que pode ser de grande valia para outras.

“‘Fui mas Voltei’ busca reintegrar essas peças ao mercado evitando assim o desperdício de água, gases tóxicos produzidos pelas tinturas, além de lutar contra a ideia de fast fashion, sendo muitas dessas envolvidas em trabalho escravo, trabalho infantil e violência contra a mulher”, ressalta Tatiana.

Em três edições do projeto, foram reintegradas cerca de 200 peças de vestuário, evitando o descarte irregular e aumentando o ciclo de vida dos bens. “Nos orgulhamos de ter peças usadas em excelente estado de conservação, elas passam por uma curadoria de qualidade e também é possível encontrar algumas novas com etiqueta, sem uso”, finaliza a empresária.