SPFW: ‘Desastre de Mariana’ protagoniza desfile de Ronaldo Fraga
O estilista mineiro procurou recuperar traços da cultura das bordadeiras da região atingida pela lama
Fechando com chave de ouro a 45ª edição do SPFW, Ronaldo Fraga emocionou o público ao levar à passarela peças bordadas por artesãs de Barra Longa, região atingida pelo rompimento da Barragem de Fundão, administrada pela mineradora Samarco, que, de acordo com o Ibama, representou o maior desastre ambiental da História do Brasil.
62 milhões de metros cúbicos de lama invadiram cidades históricas de Minas Gerais, sobretudo Mariana e Bento Rodrigues, deixando quase 20 pessoas mortas e outras milhares desabrigadas. O desfile-manifesto de Ronaldo Fraga resgatou memórias dos atingidos pelo desastre e contou com a participação de Marília Gabriela, que iniciou a performance trajando um vestido de linho bege manchado de marrom, em referência às vitimas da tragédia.
Com uma cenografia idealizada com texturas e tons terrosos, o desfile foi marcado por roupas bordadas por artesãs de Barra Longa, que conheceram o estilista por meio da Fundação Renova, responsável por ajudar as famílias atingidas pela quebra da barreira.
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Mais do que levar à tona os impactos ambientas do acidente, Ronaldo Fraga decidiu dar luz às perdas culturais ocasionadas pelo desastre. Por isso, o mineiro convidou bordadeiras do município a trabalharem na coleção, criando desenhos das fauna e flora brasileiras, em uma tentativa de resgatar o que foi “roubado” pela lama.
“Convidei-as para bordar os jardins que ali existiam. O bordado chegou até elas por meio de suas mães e avós, que herdaram esse ofício dos portugueses do século 18. O que inicialmente era usado para decorar roupas e paramentos religiosos é, hoje, além de um importante instrumento de geração de emprego e renda, a representação da força do feminino na reinvenção desse lugar, na reinvenção desse país”, disse Ronaldo antes de iniciar o desfile.
Dos objetos de tecido do dia a dia para a passarela do maior evento de moda do Brasil, o trabalho das bordadeiras de Barra Longa foi combinado a colares e pulseiras de cobre, folhas de comigo-ninguém-pode também bordadas e sandálias criadas pelo designer Jailson Marcos.
“Foi muito diferente, porque a gente sempre bordava jogos de cama, de toalha e panos de prato, e com ele não. Fizemos muitos vestidos e folhas”, comentou Maria Antonieta Carneiro, uma das 25 bordadeiras que integraram a produção da coleção.
“Eu nunca esperei por isso. Quando que eu ia imaginar que veria um desfile em São Paulo com coisas feitas por nossas mãos?”, completou Rita Helena Nascimento, que veio pela primeira vez a capital paulista para assistir ao SPFW.
O espetáculo de Fraga ainda teve trilha sonora ao vivo, executada por Livia Netrovski e Fred Ferreira, que integraram a atmosfera da performance com músicas populares brasileiras, como “Travessia”, de Milton Nascimento.
Usando um macacão e sandálias pretos como sinal de luto, Marília Gabriela foi a última a retornar à passarela, deitando-se no chão ao lado de todas as modelos, encerrando, assim, o desfile da coleção de verão de Ronaldo Fraga.
Confira a apresentação completa:
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