Vandalismo midiático: Coletivo Nigéria faz jornalismo independente em Fortaleza

Com coberturas de "guerrilha" e proximidade com movimentos sociais, coletivo explora novas formas de fazer jornalismo

Documentário “Com Vandalismo” mostra cobertura das manifestações em Fortaleza

Durante as manifestações de 2013, ficou evidente a distância que muitas vezes separa o jornalismo tradicional do que acontece nas ruas. Enquanto a internet fervilhava de imagens vibrantes, a televisão expunha cenas captadas de helicópteros. Diversos coletivos de mídia independente souberam aproveitar a brecha. O Nigéria, de Fortaleza, foi um deles.

Fundado há cerca de dois anos pelos jornalistas Bruno Xavier, Pedro Rocha, Roger Pires e Yargo Gurjão, o coletivo Nigéria ficou nacionalmente conhecido pelo documentário “Com Vandalismo”. O filme é uma cobertura dos protestos que ocorreram na capital cearense no ano passado, com foco nos adeptos da tática “Black Bloc”.

“Nunca havíamos presenciado algo tão grande como aquelas manifestações. No dia em que Brasil e México jogaram pela Copa das Confederações, nos vimos em volta de 80 mil pessoas e de um aparato policial cinematográfico”, conta Yargo Gurjão. “Ali percebemos que estávamos entrando em outra modalidade de jornalismo, que chamamos de ‘jornalismo de guerrilha’”.

Sustento
Apesar de a cobertura de manifestações ter dado grande visibilidade ao projeto, o Nigéria não é focado apenas na “guerrilha”. O grupo desenvolve também trabalhos de jornalismo investigativo e faz vídeos institucionais para movimentos sociais e ONGs, além de participar de editais e concursos voltados à produção audiovisual.

Assim, a experiência permite que os participantes exerçam a profissão de forma independente, mas ganhando dinheiro. “Pregam para a gente que o emprego mais formal é o que dá sustento, mas hoje, mesmo no nicho de jornalismo marginal, conseguimos ganhar mais do que quando trabalhávamos em redações normais”, afirma Yargo.

Confira uma entrevista com Yargo Gurjão, do coletivo Nigéria:

Como vocês fazem para captar recursos para o coletivo?
Esse é o grande desafio para quem faz jornalismo independente. Apesar de sermos um coletivo de comunicação livre, somos também uma produtora. Decidimos trabalhar apenas com movimentos sociais com afinidade política. Não os chamamos de cliente, mas de parceiros. Não fazemos essa troca apenas por dinheiro, mas por afinidade.

Fora esse trabalho, a gente também tenta editais e concursos, e estamos nos dando bem com isso. Conseguimos trabalhar com o que a gente gosta e ter sustento.

As manifestações do ano passado criaram oportunidades para o jornalismo alternativo?
Foi um grande catalisador. A mídia alternativa já existe faz tempo. Em todo regime de opressão existem formas alternativas de expressão não hegemônicas. Mesmo na internet, já tinha a experiência do Centro de Mídia Independente, que é algo mundial.

Mas depois de junho, as pessoas viram quase como uma necessário algo alternativo ao discurso da TV que põe o Arnaldo Jabor para criticar os 20 centavos.

O que vocês planejam para este ano?
Além da Copa do Mundo, vai haver o encontro dos BRICs, aqui em Fortaleza, e as eleições. Um momento ímpar. Estamos planejando uma cobertura de tudo isso que não seja só baseada em vídeos de truculência da polícia, mas com outras contribuições que a gente pode dar. Queremos aprofundar a questão econômica, social, os outros elementos que estão envolvidos nisso.