Alunos em cumprimento de medidas socioeducativas criam rádio dentro da escola

28/12/2015 14:32 / Atualizado em 04/05/2020 17:48

Do Criativos da Escola

Em uma escola que atende adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, uma rádio que dá voz aos alunos está transformando o local.
Em uma escola que atende adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas, uma rádio que dá voz aos alunos está transformando o local.

Após uma desavença banal entre dois alunos, a vontade de transformar a escola em um espaço de boas experiências e relações interpessoais chamou a atenção da professora Rita Laurentino. Dali nasceu uma ideia: propor algo que envolvesse os jovens e quebrasse o ciclo de violência. Esse foi o ponto de partida para que os alunos criassem uma rádio na escola, que fica dentro de uma Unidade de Internação e atende adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.

No início, muitos alunos da Escola Estadual Polo Professora Evanilda Maria Neres Cavassa, em Campo Grande (MS), hesitaram em embarcar na proposta mas, aos poucos, a oportunidade de se comunicar criou espaço para novas relações, envolvimento com a arte e um grande protagonismo. “De início eu não acreditava que daria certo, mas com a movimentação da rádio eu percebi que estava enganado e os outros foram no mesmo embalo”, conta o aluno Gustavo*, 17 anos. Os garotos aos poucos foram descobrindo novas habilidades e se aventuraram nas novas funções. “ Eu e os professores descobrimos que o timbre da minha voz era de ‘locutor’”, explica Alexandre*, de 19 anos.

Os meninos resolveram se apropriar do projeto e começaram do zero. Fizeram muitas leituras, pesquisas sobre como transmitir informações aos ouvintes e assistiram a vídeos e filmes explicativos sobre construção de uma rádio escolar.  Logo depois começaram o processo criativo. Inventaram o nome da rádio (DB ON – Dom Bosco On), desenharam o logo, criaram o slogan e efeitos sonoros.  Vinícius*, 18 anos, lembra que desde o início se animou com a ideia e incentivou os colegas a participar do processo. “Fui eu quem fez as primeiras edições, meus colegas ficaram relutantes dizendo que não queriam participar de coisa nenhuma. Quando escutaram as edições, todos queriam participar, dar opinião e assim por diante”.

Atualmente, para dar estrutura aos programas, os jovens idealizam os roteiros, escolhem músicas, criam pautas, entrevistam uns aos outros e fazem pesquisas em relação aos temas abordados na rádio. Os jovens se dividem, e as gravações de áudio são feitas sempre com quatro alunos de cada turno: locutor, operador de sonoplastia, produtor de edição e assistente.  Gustavo gosta de editar textos e dirigir os colegas. Já Alexandre prefere fazer as locuções. Vinícius, 17 anos, também aluno, gosta de editar, fazer entrevistas e escolher temas. Já para Mauro*, 18 anos, não tem tempo ruim quando está entre a turma: “Gosto de participar de todo o trabalho, me sinto bem junto aos professores e colegas”. O professor de tecnologia também os ajuda nas funções. Mesmo sem ter acesso à internet, os garotos se empenham em fazer um programa divertido e informativo.

“Me senti muito importante e valorizado, eu quero aprender a falar e escrever bem e fazendo a rádio,  tenho a oportunidade”, conta Gustavo. O projeto causou tanto impacto na vida dos jovens que Pedro* deseja, no futuro, seguir na área. “Quero terminar os estudos, ter uma profissão, trabalhar em televisão ou rádio e me lembrar do meu passado como experiência, não como sofrimento”, explica. O programa é transmitido para toda a escola, duas vezes por semana através de um alto falante. A cada edição um estilo musical é abordado.

A rádio é um sucesso e todos apoiam a ideia – até os agentes já se sentem à vontade para serem entrevistados. O projeto tem trazido novas perspectivas para todos os jovens da escola e está contribuindo para a melhoria das relações. “Antes ninguém escutava ou aceitava a opinião do outro, hoje é muito diferente, somos parceiros”, conta Pedro. “Estou me comunicando mais com meus colegas, querendo saber das coisas e percebendo que ainda tem muito para eu descobrir”, conclui Alexandre.