Escola pública em São Paulo está mudando sua realidade com uma receita simples: ouvir os alunos
Por Carolina Tarrío
Faltavam cadeiras na Escola Municipal de Ensino Fundamental Fernando Gracioso, em Perus, zona Norte de São Paulo. Havia também muitas carteiras quebradas. Por isso, os alunos eram obrigados a assistir a aula dividindo o lugar com um colega ou em pé. “A gente corria para chegar mais cedo. Dos 40 minutos de aula, perdíamos 15 buscando cadeiras em outras salas ou arrumando um jeito de sentar”, lembra Luan Andrade Souza, hoje no nono ano. Em 2013, a situação ficou insustentável e Antônio Aparecido de Melo, o Toninho, então professor de História e hoje assistente de direção da escola, propôs – depois de vários requerimentos oficiais que não deram em nada –, que os alunos fizessem um abaixo assinado e uma carta de próprio punho, pedindo as carteiras e cadeiras à Secretaria Municipal de Educação.
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Luan e alguns amigos colheram assinaturas durante um mês. A professora de português ajudou a redigir a carta e o pedido foi entregue. “Depois de algumas semanas, a diretora avisou que chegariam os móveis. A gente fez questão de desembalar e colocar nas salas. Foi muito legal!”, conta Luan. O movimento trouxe aprendizados como a importância da participação e o cuidado com o patrimônio. Na turma de Luan, todos tratam bem das cadeiras agora. “A gente sabe o tempo que demorou para consegui-las!”, diz o menino.
Dessa história em diante, o ambiente do colégio continuou se transformando. “Antes, quando perguntavam onde estudávamos e eu respondia ‘no Fernando Gracioso’ sempre falavam: ‘Ah, no Fernando Faveloso’”, lembra Sabrina Melo, do sexto ano, uma das representantes de classe de sua turma. “A gente sentia vergonha de dizer que estudava aqui. Mas agora a escola melhorou”, conta. O que foi que aconteceu exatamente? “A escola começou a ouvir os alunos”, diz Sabrina. Simples assim: em vez de descaso, escuta atenta. Apurar os ouvidos e agir em cima das reivindicações dos alunos.
“Dá trabalho, tem de ir na reunião de representantes, às vezes copiar depois o conteúdo da aula que perdemos. Mas agora quem fala mais somos nós”, conta Ellen Leal, também do sexto ano. E o que foi que os alunos disseram? Para começar, eles queriam reformar a quadra, colocar cortinas nas salas de aula, melhorar as condições dos banheiros e ter uma merenda melhor.
“Um menino disse que a merenda estava sem gosto, sem tempero, ruim”, conta Sabrina. A nova coordenadora pedagógica resolveu então chamar a nutricionista responsável pela escola. Tiveram duas reuniões com os alunos. Nelas, ficaram sabendo que alguns dos itens que eram enviados para temperar, como limão, embora fossem entregues, não chegavam ao prato. Verificaram também que a comida tinha excesso de sal e aprenderam que comer nos pratos de plástico que usavam não era muito higiênico, pois os resíduos ficavam nas ranhuras. Houve conversas com as cozinheiras, uma assembleia na qual todos assentiram em agir mais responsavelmente se os pratos de plástico fossem substituídos e a escola adquiriu pratos de vidro.
“Antigamente, alguns alunos jogavam pratos e frutas nos outros”, diz Yasmin Cavalcante, também do sexto ano. “Hoje não acontece mais. Ninguém sai com pratos ou suco no pátio. Mudou a atitude e até os intervalos ficaram mais tranquilos. Hoje temos música, jogos nos intervalos. E a comida ficou boa!”
As cortinas também foram trocadas. Os banheiros, depois de um novo pedido à Secretaria da Educação, documentado com fotos, reformados. Os alunos se preparam agora para refazer o grafite do muro e receber garfos e facas de metal para usar no refeitório. Uma verba para infra estrutura também está prometida pela Secretaria de Educação. Enquanto não vem, alguns professores já se mobilizaram. A sala de informática, por exemplo, foi pintada por eles. Mas a mudança gerada vai muito além de um novo colorido nas paredes. É o clima da escola que tem uma nova cor: uma cor de afeto, entusiasmo, participação.
Alguém duvida que eles ainda vão conseguir uma quadra nova?.
Carolina Tarrío é jornalista, mãe de dois filhos, uma das fundadoras do Movimento Boa Praça e torce muito por uma revolução na educação no Brasil.