Estudantes criam grupo de rap e diminuem evasão escolar no RS
Por Vanessa Ribeiro do Criativos da Escola
“Periferia tem talento, tem que cantar o que vem de dentro”. Assim começa a música “Tamo Chegando” do Grupo Swing Rap. Os membros, estudantes do 1º e do 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Nossa Senhora da Esperança, em Santa Cruz do Sul (RS), estão transformando suas realidades e inspirando a comunidade através do rap.
Cantando a realidade vivenciada na periferia da cidade, os estudantes Anderson Souza, Bruno Siqueira, Roger dos Santos e Guilherme Oliveira chamaram a atenção das professoras Poliana Antunes e Taise Soares. “Passamos a perceber o grande interesse que alguns alunos tinham pelo rap. Eles já compunham as letras das músicas e passaram a nos apresentar”. lembra Poliana. “Conversamos com a direção e junto com os alunos decidimos por o projeto em prática”, completa.
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O projeto “Periferia Tem Talento” teve seu início em maio de 2015 e foi colocado em prática, inicialmente, com oficinas sobre rap aos sábados, onde os alunos interessados começaram a ter aulas que tratavam desde o histórico do movimento até composição de músicas. Com o apoio da escola, os quatro garotos decidiram formar um grupo de rap para criarem suas músicas e cantarem juntos. Nasceu o Swing Rap. “Assim que a gente começou, eu vi que queria muito continuar fazendo isso”, diz Roger.
Segundo Anderson, o projeto ajudou no auto conhecimento dos estudantes, mostrando a eles novas perspectivas. “É importante porque além de dar voz é um projeto em que você se descobre”, destaca. A partir das oficinas e do empenho dos integrantes do Swing Rap, o grupo inspirou a direção para que ampliasse as atividades, incluindo aulas sobre outros elementos do hip hop como o break e o grafiti, não apenas para membros da escola, mas para toda a comunidade. O projeto foi batizado de “Periferia tem Talento”. O sucesso do grupo trouxe, também, novos rostos para o ambiente escolar, além de 10 alunos que voltaram para escola. “Muitas crianças estão se inspirando na gente”, conta Roger.
Anderson revela a importância do reconhecimento da comunidade para o grupo. “Não tem preço quando me perguntam quando vai sair música nova”, conclui. Atualmente, os jovens se apresentam em eventos ligados à cultura hip hop na região.
Superando dificuldades
Segundo a professora Poliana, o bairro Santa Vitória, onde a escola está localizada, é um dos mais violentos da cidade. “É uma realidade muito difícil. A área é de vulnerabilidade social, muitos alunos não tem perspectiva futura”, lamenta. Roger conta que as novas atividades trouxeram um novo entusiasmo em relação ao ambiente escolar. “O rap melhorou meus estudos, antes eu me sentia desmotivado, não fazia nada”. Para Anderson, “o foco do projeto é reter a atenção daqueles que querem tirar o tempo livre para fazer o que não devem”. E completa: “fiquei mais motivado em ir para aula, porque não acordo com pensamento de obrigação e sei que em algum momento a gente vai ensaiar ou escrever lá”.
Roger e Anderson concordam quando o assunto é dificuldades, mas seguem confiantes. “Pensamos em desistir várias vezes, não tínhamos nem microfone”, conta Roger. “Mesmo com pouco apoio, seguimos no caminho em busca desse sonho”, completa Anderson. Atualmente, os alunos continuam firmes e fortes, tanto nos estudos, quanto na música.
Para o futuro, os estudantes e as professoras envolvidas pretendem fazer com que o projeto saia de dentro da escola, criando um espaço que integre o movimento e a cultura hip hop e que atenda os jovens e crianças de toda a comunidade. “No momento, estamos buscando parceiros, espaço e apoiadores”, conta professora Poliana. E o grupo Swing Rap? Roger explica. “Até agora gravamos duas músicas, mas já temos mais nove de nossa autoria esperando uma oportunidade”, afirma confiante.
https://soundcloud.com/v-s-mix/made-in-favela