Mário de Andrade: Parques Infantis e o sonho antigo de uma infância livre
Por Pedro Ribeiro Nogueira do Portal Aprendiz
Há duas semanas, em São Paulo, o ator Pascoal da Conceição, apareceu na ocupação da Escola Estadual Fernão Dias para apoiar os estudantes. Entre brincadeiras e discursos, Conceição estava caracterizado à moda do escritor, pesquisador, educador e poeta Mário Andrade. Ele lembrou, em seu discurso, que Mário foi chefe do Departamento de Cultura de São Paulo e tinha um grande apreço pelos jovens e pela educação. O modernista, inclusive, foi o criador dos Parques Infantis, uma proposta de educação fora da escola que apostava em uma infância livre para assegurar o desenvolvimento integral de meninos e meninas.
Em tempos de ocupações e reinvenção das escolas pelos estudantes, parece propício lembrar que São Paulo já abrigou locais de livre brincar, onde a exploração de diferentes linguagens e a valorização da cultura estavam na ordem do dia. Em suma, uma experiência que há 80 anos já enxergava que educação, cultura e saúde são indissociáveis.
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Entre 1935 e 1938, o escritor assumiu com avidez uma tarefa difícil. Convidado pelo então prefeito Fábio Prado, assumiu a criação e condução do Departamento de Cultura, um órgão análogo a uma Secretaria Municipal de Educação e Cultura. Mário via nessa tarefa a possibilidade de transformar em algo concreto suas pesquisas sobre cultura e folclore nacional. E garantir, na São Paulo que crescia desvairadamente, locais para aprendizagem e expressão da cultura nacional. A socióloga Silvana Rubino, na completa publicação do Itaú Cultural sobre os Parques Infantis, é assertiva sobre a importância do trabalho de Mário. “Tratava-se de educar uma cidade”. Assim ela relata o cenário da cidade na construção dos Parques:
“Nessa ‘Pauliceia desvairada’, a novidade era uma classe operária de origem estrangeira, que tinha outros costumes, mobilizava outros conhecimentos, falava outras línguas e reivindicava seus direitos. Olhada com preconceito por diversos setores das elites paulistanas e com temor – afinal, entre os costumes que trouxe incluía-se a greve! Mas quem eram essas pessoas? O Departamento de Cultura coordenou diversos inquéritos para saber quem eram, como viviam, que idioma falavam, o que comiam. (…) Os Parques Infantis voltavam-se para os filhos dos trabalhadores. A proposta era que pais e mães pudessem trabalhar com sossego sabendo que suas crianças estavam assistidas por meio do esporte, do canto, da alimentação, do tratamento odontológico e de diversas atividades. Não era um espaço escolar, pois atendia crianças a partir de 3 anos. Era um espaço complementar à educação formal, e as crianças nem sequer eram separadas em classes por idade. Era um espaço para brincar, para estar, tomar sol, fazer bagunça na piscina e mesmo “ficar à toa”. E de atividades artísticas. Mário tinha profundo apreço pelo desenho infantil: mandava comprar bons materiais para as crianças, dava instruções às professoras, guardava os desenhos com zelo. Em alguns, vislumbrava futuros artistas.”
Para entrar nos Parques, que inicialmente foram construídos no Ipiranga, na Lapa e no Parque Dom Pedro I, não precisava de nada, apenas ser criança e ter entre 3 e 12 anos. Se alguma família desejasse, poderia realizar o cadastro das crianças para acompanhamento das atividades de assistência de saúde e odontológica. Afinal, havia na proposta a criação de espaços de brincadeira, aprendizado e recreio, de maneira conjugada com a incipiente assistência social da época.
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