Marcha da Revolta LGBT promete novas ‘crucificações’ no RJ

“Na Parada LGBT do RJ, todxs têm que ir bem crucificados, porque uma só em São Paulo foi pouco. Tem que ter mais!”, ressalta texto do evento

Na última edição da Parada do Orgulho LGBT realizada em São Paulo, a performance da atriz transexual Viviany Bebeboni, que desfilou pela Avenida Paulista “crucificada” – em referência à violência sofrida pela população LGBT no Brasil – casou polêmica e indignação por parte de lideranças religiosas, sobretudo, ligadas à igreja evangélica.

Em resposta às múltiplas manifestações de intolerância e incitação ao ódio, a discussão deve ganhar destaque, outra vez, no próximo dia 28 de junho, quando acontece a Marcha da Revolta LGBT, que reivindica direitos de gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, travestis e transgêneros. A manifestação acontece a partir das 15h, na Praia de Copacabana, próximo ao Posto 5.

No texto de chamada do evento, em resposta aos ataques sofridos, os organizadores reiteram a a mobilização por novas performances em alusão à passagem bíblica. “Na Parada LGBT do RJ, todxs têm que ir bem crucificados, porque uma só em São Paulo foi pouco. Tem que ter mais!”.

Apesar da mensagem “basta de homofobia” atriz recebeu dezenas de ameaças virtuais desde que sua imagem foi divulgada em jornais e redes sociais.

A nova performance, desta vez coletiva, será um dos destaques da Semana de Agitação LGBT, que celebrará o Dia Internacional do Orgulho Gay, celebrado no próprio dia 28. A semana, que contará com mais uma série de atividades, terá como tema os protestos de Stonewall – ocorridos em 1969 e considerados o maior marco da luta pelos direitos dos homossexuais nos Estados Unidos. Ao fim da caminhada, haverá uma grande festa na Pedra do Leme. 

Católicos apoiam perfomance

Entre diversas opiniões envolvendo clérigos e pessoas ligadas ao cristianismo, na última segunda-feira, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, se manifestou em nota no Facebook, sinalizando apoio à performance “Muitas pessoas me questionaram sobre a imagem de um transexual na cruz durante a Parada Gay. Entendo que quem sofre se sente como Jesus na cruz. Mas é preciso cuidar para não banalizar ou usar de maneira irreverente símbolos religiosos, em respeito à sensibilidade religiosa das pessoas. Se queremos respeito, devemos respeitar”.

Envolvido em diferentes frentes ligadas a movimentos sociais, o Padre Julio Lancelotti reforçou o apoio à intervenção. Também pelas redes sociais, comentou: “Na missão pastoral tenho conversado com vários LGBT’s que estão pelas ruas da cidade, alguns doentes, feridos, abandonados. Muitos relatam histórias de violência, abusos, assédio, torturas e crueldades. Alguns contam como foram expulsos de igrejas e comunidades cristãs, rejeitados pelas famílias em nome da moral. Testemunhei lágrimas, feridas, sangue, fome. Impossível não reconhecer neles a presença do Senhor Crucificado”.

Livrai nos do mal: amém

Do outro lado da moeda, na última quarta-feira, na Câmara dos Deputados, parlamentares da bancada evangélica decidiram interromper a votação da reforma política na Câmara dos Deputados em protesto contra a crucificação da modelo transexual.
Com palavras de ordem como “respeito e “família”, o grupo cercou os membros da Mesa da Câmara e de mãos dadas rezaram o Pai-Nosso, finalizado o protesto com gritos de “viva Jesus Cristo”.