O dia em que o público se tornou ator

O Teatrokê vem animando as noites das terças-feiras de São Paulo. Conceito criado por Ricardo Karman, fundador da Kompanhia Centro da Terra, trata-se de uma fusão entre espetáculo e karaokê, onde voluntários de uma plateia de 100 pessoas se oferecem para participar de quadros previamente ensaiados pelo grupo.

O projeto é resultado da pesquisa de mais de dez anos sobre a interatividade com o público que Ricardo Karman desenvolveu desde a criação da peça “A Viagem ao Centro da Terra”, no túnel sob o rio Pinheiros, em 1992.

O espetáculo funciona assim:

Um mestre de cerimônias recruta os voluntários da plateia, carinhosamente chamados de “outrokê”. Esses, vão as bastidores para serem preparados cenicamente para performance.

Os textos encenados são de dramaturgos conhecidos como Shakespeare e Ibsen, mas também, de autores contemporâneos que escreveram especialmente para o projeto como Marcelo Rubens Paiva e Mário Bortolotto.

“A companhia ensaia todos os quadros. Deixamos aos voluntários, os personagens mais interessantes da cena”, comenta Vivian Bertocco, atriz da Kompanhia.

O ator que normalmente é o dono do personagem durante o ensaio, é quem irá conduzir, via ponto eletrônico, as falas e marcações do ator voluntário. “É como se o outro fosse o nosso Avatar”, define.

Entre os quadros, o espetáculo possui os chamados “webrismos”, pequenas cenas de comédia conhecidas do espectador por serem textos que circulam na internet.

“Não tem constrangimento no erro porque não tem certo e errado. O erro também vira cena” Vivian Bertocco.

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Atriz Vivian Bertocco em cena

Há dois meses em cartaz, o projeto é considerado um sucesso de público. “É um projeto que traz para o ator a espontaneidade, pois você não sabe com quem irá acabar contracenando. Para o profissional tem todo aquele resgate cênico do “atuar como se fosse pela primeira vez”, que é importantíssimo para a vida do ator”, coloca Vivian.

“Ganhamos generosidade ao querermos um melhor desempenho em cena para outra pessoa que não nós mesmos. E, também, espontaneidade por ser um jogo no escuro”, defende a atriz.