Ativista fica um ano sem sexo para poder doar sangue
Um ano de abstinência sexual para poder fazer um ato de solidariedade: doar sangue. A decisão aparentemente radical foi tomada por Jay Franzone, diretor de comunicação do movimento National Gay Blood Drive, para que pudesse se tornar doador.
O motivo? Jay é gay. E, entre todos os pré-requisitos para ajudar alguém que precise de transfusão, nos Estados Unidos, onde mora, e também aqui no Brasil, está o de que homens só podem se tornar doadores se, nos 12 meses anteriores à coleta, não tiverem tido relações sexuais com outros homens.
O americano milita contra esse veto e trabalha com o tema. A National Gay Blood Drive é uma iniciativa que reúne homens gays e bissexuais em pontos de encontro com amigos e familiares que doam sangue por eles.
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Segundo o Ministério da Saúde brasileiro, as razões para a proibição são científicas: estudos mostram uma prevalência do vírus entre homens entre homens homossexuais e bissexuais.
De acordo com o Boletim Epidimiológico de HIV/AIDS de 2015, 10,5% dos homens gays e homens que fazem sexo com homens vivem com HIV no Brasil. Entre a população geral, a taxa é de 0,39%.
Nesta quinta, dia 12, Jay escreveu um artigo ao jornal “The New York Times” relatando seus pontos de vista sobre o tema. Leia a seguir trechos do texto e clique aqui para ler a íntegra:
“Não deveria ser uma grande coisa eu ter doado sangue nesta semana, mas é. Para isso, eu tive de desistir de sexo por um ano. A razão: eu sou gay.”
“Em 1985, no início da crise da AIDS, os Estados Unidos recomendavam que os homens que tinham relações sexuais com outros homens estavam proibidos de doar sangue por tempo indeterminado. Essa política fazia sentido na época. Nas décadas que se seguiram, houve um enorme progresso contra o vírus. O que antes era uma sentença de morte é agora uma condição tratável, crônica. E agora podemos detectar o que tinha sido um vírus indescritível dentro de 7 a 28 dias de infecção.
Em 2015, a agência alterou a proibição vitalícia e permitiu que homens que tinham sexo com homens doassem sangue se se abstivessem de sexo por um ano.
Mas essa política geral de um ano, que depende da honestidade do futuro doador, ainda fica aquém do fracasso em considerar os fatores de risco individuais de um potencial doador, uma abordagem que alguns países seguem com sucesso. Como resultado, essa proibição, que a Associação Americana de Saúde Pública disse que ‘não se baseia na ciência, mas parece ser modelado após escolhas e medos de outros países’, efetivamente proíbe até 2 milhões de doadores potenciais para doar sangue, de acordo com um análise publicada em 2014 pelo Williams Institute na UCLA School of Law.”
“Agora, eu não sou alheio aos fatos; os livros mostram que o HIV é mais prevalente entre homens homossexuais e bissexuais. No entanto, eles também nos dizem que os heterossexuais que têm sexo desprotegido com pessoas que não conhecem o seu estado têm um maior risco de contrair o vírus do que um homem gay que usa proteção com alguém que conhece o seu status.
Bloquear um grupo inteiro de pessoas com base no sexo de seu parceiro sexual não é menos estranho do que restringir as pessoas com base no local onde vivem. Em 2014, a data mais recente para dados completos, a taxa nacional de HIV por 100 mil pessoas foi de 12,6; no entanto, em Washington, DC, foi de 74,3. A FDA deveria proibir doações de sangue por residentes da capital da nação?”
“Todos os doadores potenciais, independentemente da raça, idade, credo ou o sexo de seus parceiros sexuais, devem ser questionados sobre qualquer comportamento sexual de risco. Até que esta política da FDA seja rescindida e substituída por uma abordagem mais esclarecida, pessoas como eu serão proibidas de doar sangue. Essa decisão deve basear-se numa melhor avaliação individual do risco de uma pessoa _ e não ser conduzida por estigma e medo.”
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