Cultura do estupro: ‘ônibus’ é o termo mais buscado em site pornô
Tags relacionadas ao termo se tornaram as mais procuradas após denúncias de abuso sexual no transporte público
Beijos à força; “encoxadas” e passadas de mão no transporte público; homens que ejaculam em vítimas nos ônibus; comentários machistas; vídeos pornográficos em que as mulheres estão em situação de violência. Tudo isso contribui para a existência de uma cultura do estupro na sociedade.
Nos últimos dias, denúncias de abuso sexual no transporte, muitas dentro de ônibus, repercutiram nas redes sociais e na imprensa de todo o país. Entre os casos noticiados, foram dois em São Paulo, dois no Rio de Janeiro e um em Recife. De acordo com levantamento da GloboNews por meio da Lei de Acesso à Informação, a cada 11 horas uma mulher é estuprada em locais públicos apenas na capital paulista.
Embora os relatos de estupro tenham causado indignação, um alerta no Facebook mostrou como a cultura de violência contra a mulher é um problema ainda mais grave. Em acesso ao site XVideos, a tag “ônibus” está em primeiro lugar nas buscas realizadas no Brasil.
Dentro da seção, há vídeos com os títulos “flagrante de mulheres sendo abusadas”, “compilação de encoxadas”, “novinha pagando peitinhos no ônibus” e “gozando no ombro”. Muitos deles com filmagens de cenas reais de assédio sexual, ocorridas no transporte público de cidades brasileiras.
“É extremamente sintomático que, após as violências ocorridas e divulgadas amplamente, a tag ‘ônibus’ seja absurdamente procurada. Ou seja, um ato odioso de abuso fez com que dezenas de homens buscassem pornografia com conteúdo parecido”, diz o texto que denuncia as buscas.
“Quando dizemos existir uma cultura de abusos contra a mulher é exatamente disso que falamos. Precisamos debater urgentemente a construção da sexualidade masculina e gênero em nossa sociedade”, completa a publicação. Veja abaixo:
https://www.facebook.com/anavictorinor/posts/10208599743345019?pnref=story
Denúncia
Segundo a advogada Isabela Guimarães Del Monde, cofundadora da Rede Feminista de Juristas, é possível denunciar os vídeos expostos sem autorização no site. “Há um formulário ao final da página para a ‘remoção de conteúdo’. Lá, qualquer pessoa (vítima ou não) pode preencher, colocando a URL do vídeo e explicando por que esse vídeo tem que ser removido”.
A advogada ressalta que os sites estrangeiros seguem uma outra normativa e retiram o conteúdo quase que imediatamente. “Infelizmente, eles fazem isso com base na URL. Então, se o agressor subir novamente o vídeo, com outra URL, é preciso solicitar a remoção mais uma vez”, afirma.
“Além disso, a gente tem previsto em lei o Artigo 21 do Marco Civil, que diz que conteúdos íntimos expostos sem consentimento têm que ser removidos a partir de uma notificação extrajudicial, que precisa ser feita mediante a atuação da vítima, como por meio de uma advogada ou advogado”, completa.
Para a cofundadora da rede, os vídeos estarem em alta divulgação revela um país extremamente machista e em que a cultura do estupro é muito forte. “A reação que a gente vê desses usuários, em sua maioria homens, é de deboche à violência provocada e ao sofrimento da vítima. Essa reação é quase perversa e mostra que os homens acreditam que o corpo da mulher está à disposição deles”, diz.
“É interessante ressaltar, também, que o Brasil é o país que mais mata travestis no mundo. E, ao mesmo tempo, é o que mais procura conteúdos de travestis em sites pornográficos. Este é outro traço perverso da cultura do estupro, pois os homens desejam e matam”, finaliza.
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