Pelo fim da violência contra trans e travestis
O Catraca Livre conversou com a travesti Amara Moira e o trans Samuel Silva para saber o que eles desejam para essa data
Nesta sexta-feira, 29 de janeiro, é celebrado o Dia da Nacional da Visibilidade Trans, marco da luta pela cidadania e respeito às travestis, homens e mulheres trans. A data foi criada em 2004 e tem como objetivo ressaltar a importância do respeito a esse grupo na sociedade brasileira.
Ainda hoje, a população de trans e travestis tem grande dificuldade no acesso à educação, trabalho e saúde, além de ser vítima de violência e preconceito diariamente.
Um exemplo disso é o relatório divulgado pela ONG Transgender Europe (TGEU), que coloca o Brasil como o país que mais mata travestis e transexuais no mundo – foram mais de 600 mortes no período entre janeiro de 2008 e março de 2014.
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Coletivos e organizações em todo o país promovem ações e eventos que homenageiam a data. Com esse intuito, o PreparaNEM lançou um vídeo que reúne depoimentos de travestis, homens e mulheres trans sobre a realidade que vivem.
Em comunicado à imprensa, Indianara Siqueira, presidenta do Transrevolução e idealizadora do PreparaNEM, afirma que “o objetivo do vídeo é conscientizar as pessoas que que há um grupo na sociedade ainda excluído”. Assista ao vídeo:
O Catraca Livre conversou com a travesti Amara Moira, 30 anos, e o homem trans Samuel Silva, 23 anos, para saber qual a importância do dia 29 de janeiro para eles. Confira os depoimentos abaixo:
Amara Moira:
“O Dia é da Visibilidade ‘Trans’, mas foi criado em função da campanha que o governo federal, através do Ministério da Saúde, dirigiu especificamente à população de travestis em 29 de janeiro de 2004, primeira vez que nos reconheceu como sujeitos políticos – ‘Travestis e Respeito: já está na hora dos dois serem vistos juntos’.
Sim, Ministério da Saúde, mais precisamente o Departamento de HIV / AIDS, pois para o governo não passamos de grupo de risco, órgãos sexuais ambulantes, vetores de DSTs, o aedes aegypti humano.
Mas, percebam bem, a campanha foi feita para as travestis (acham que a nomeação foi à toa?), palavrinha indigesta que remete a tudo que existe de mais tabu na nossa sociedade, e mesmo assim se tornou o Dia da Visibilidade ‘Trans’. O ‘trans’ da transfobia, da militância trans, do transfeminismo, muito mais palatável. Ainda hoje acham que travesti é ofensa, bonito é trans.
Das 60 pessoas trans assassinadas só nesse primeiro mês de 2016, quantas vocês acham que eram travestis e, mais, quantas prostitutas, no exercício da profissão? E das tantas pessoas trans que finalmente conseguiram ingressar na universidade pelo ProUni, pelo SiSU, quantas? Em 2004 a campanha dizia já estar na hora de travestis e respeito serem vistos juntos, mas chegou 2016 e ainda estamos longe de ver isso em prática.
Nesse Dia da Visibilidade Trans, não se esqueçam das travestis”.
Samuel Silva:
“É importante para nós, pessoas trans e travestis, que a sociedade nos reconheça como tal e perceba que somos uma população vulnerável e carente de direitos. Essa é a realidade que vivemos todos os dias, a sociedade nos enxergando ou não. Na maioria das vezes ela se recusa a admitir que existimos e o quanto sofremos e isso se chama invisibilidade.
Os homens trans sofrem muito com isso. A grande maioria da população não sabe quem somos, inclusive a população LGBT. Somos constantemente esquecidos, silenciados e temos nossas demandas deixadas de lado.
Quando digo que a sociedade precisa nos reconhecer enquanto pessoas trans e travestis quero dizer que a sociedade precisa reconhecer a diversidade nas pessoas sabendo que todos nós somos no fundo iguais e isso é importante deixar claro.
Queremos iguais oportunidades e direitos. Queremos estudar, trabalhar e viver como qualquer um e estamos sendo impedidos. Somos constantemente expulsos, barrados, proibidos. Isso tem nome e se chama transfobia”.
Caminhada em São Paulo: “Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito”
Como parte dos eventos para marcar o dia da visibilidade trans, a CAIS (Associação Centro de Apoio e Inclusão Social de Travestis e Transexuais) sai às ruas da cidade de São Paulo neste sábado, dia 30, na “1ª Caminhada pela Paz: ‘Sou Trans e Quero Dignidade e Respeito’“.
A caminhada tem início no vão do MASP às 14h e termina em frente à Câmara Municipal de São Paulo às 18h, onde acontece um ato em memória das pessoas trans assassinadas no país. Os organizadores do evento pedem que todos levem uma vela branca e usem uma camiseta branca, como forma de simbolizar um ato de paz.
Durante o percurso, serão recolhidas assinaturas em um abaixo-assinado, exigindo uma audiência pública na Câmara Municipal para discutir e debater a realidade social de travestis, homens trans e mulheres transexuais em São Paulo.