Entre grades e muros: a vida na Fundação Casa Pirituba

26/02/2016 11:51 / Atualizado em 07/05/2020 02:23

“Sempre fui sonhador. É isso que me mantém vivo.” De cabeça raspada e pelos ainda germinando no rosto, Gabriel*, de 18 anos, está sentado em um banco de cimento em plena quadra esportiva cantando Racionais MC’s. O fim de tarde está abafado. Assim como outros 71 meninos, ele é um menor infrator que cumpre medidas socioeducativas na Fundação Casa Pirituba, na zona oeste de São Paulo.

Desde que pôs os pés ali pela primeira vez, dez meses se passaram. Agora, basta esperar mais ou menos 90 dias para poder jogar bola na rua com os amigos novamente. Parece pouco perto dos seis anos que passou entregue à vida do crime.

 
 

A namorada, com quem esteve junto por um ano e quatro meses, terminou a relação através de uma carta assim que ele foi parar lá. “Eu roubava, ela não gostava”, conta. Mesmo com as inúmeras tentativas por parte da garota de convencê-lo a retomar os estudos e parar de cometer os assaltos, ele não parou. Diz que não conseguia ir pra escola e só queria ficar na rua. Hoje, soa arrependido. “Apontar a arma na cabeça de uma pessoa e tirar algo que é dela dói muito no coração.”

Não são só as lembranças que o incomodam. Ver o pai, um senhor de 68 anos, ir até lá aos sábados – quando as visitas são permitidas – também. “Me emociono muito, senhora.”

Mundão

Ali, existem duas opções de corte de cabelo: raspado ou social. A maioria prefere raspar. A cada duas semanas, os próprios meninos utilizam as maquininhas e fazem os cortes. Todos usam uniformes idênticos: bermuda azul marinho e camiseta também azul. Nos pés, chinelos de dedo. Braços e pernas trazem tatuagens, muitas. Principalmente com nomes de familiares.

 
 

“Mundão.” É assim que os internos se referem a tudo que está fora das grades e das muralhas da unidade. (continue lendo aqui)